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Hotel Adlon faz 100 anos

Carlos Albuquerque23 de outubro de 2007

Reis, rainhas e estrelas de cinema se hospedaram no grande hotel, cuja construção marcou o apogeu e queda da monarquia prussiana. Nesta semana, o Hotel Adlon, um dos principais endereços berlinenses, completa 100 anos.

Hotel Adlon fotografado do Portão de BrandemburgoFoto: dpa - Report

Um menu de 74 pratos foi servido ao imperador Frederico Guilherme 2° quando, em 23 de outubro de 1907, o monarca presenteou com o ar de sua graça a inauguração de um dos mais importantes endereços berlinenses: o Hotel Adlon, situado a poucos metros do Portão de Brandemburgo, na praça Pariser Platz.

Sem a ajuda do imperador, a construção do primeiro grande hotel da capital alemã não teria sido possível. O financiamento do alto custo da construção e a demolição de um prédio tombado pelo patrimônio histórico só se tornaram exeqüíveis com a intervenção do soberano alemão.

Cem anos mais tarde, o Hotel Adlon ainda é considerado o salão de recepção não oficial do governo alemão. O próprio Frederico Guilherme 2°, Henry Ford, Thomas Mann, Albert Einstein, Marlene Dietrich, e, mais recentemente, a Rainha Elizabeth 2ª, Vladimir Putin e Michael Jackson estão entre as celebridades que ali se hospedaram.

Unter den Linden 1

O antigo Hotel Adlon de 1907Foto: picture-alliance/ dpa

Impressionado com a pompa do luxuoso hotel que, já em 1907, era equipado com luz elétrica, elevador, telefone e água quente em todos os então 260 quartos, o sétimo Marajá de Patiala, um dos mais imponentes príncipes indianos, comentou certa vez: "Quem não conhece o Hotel Adlon, não conhece a Alemanha". Tal afirmação justifica os esforços do imperador, que tudo fez para tornar seu reino uma das principais nações européias.

Assim como o vaidoso imperador, o hoteleiro Lorenz Adlon também tinha grandes planos para si e seu novo projeto. O endereço pretendido não poderia ser melhor: o Palácio Redern, na Alameda Unter den Linden 1, localizado na Pariser Platz, ou Praça de Paris. Ligando a Pariser Platz à Schlossplatz, ou Praça do Castelo, a Unter den Linden era certamente a principal avenida berlinense.

Sob protestos, o Palácio Redern, projetado em 1829 por Friedrich Schinkel, arquiteto-mor da Prússia, foi demolido em 1905. Em vez do modesto classicismo prussiano, Adlon e o imperador, já que o monarca considerava o novo hotel também como seu, comissionaram um projeto neobarroco, bem ao gosto da opulência "parvenu" eclética da Belle Époque.

Nomes franceses

O financiamento dos 17 milhões de marcos de ouro, o que equivaleria a cerca de 350 milhões de euros, também foi garantido pelo imperador, que começou a não mais hospedar visitas em seus palácios, mas nas suítes do hotel na Pariser Platz.

Até então, era de bom tom que nobres se hospedassem nas residências de seus semelhantes. A construção de grandes hotéis, como o Adlon, marca assim a afirmação da arquitetura burguesa como arquitetura da classe dominante.

Saguão do novo Adlon lembra antiga pompaFoto: AP

A Primeira Guerra Mundial marcou também o fim da monarquia alemã. Milionários norte-americanos e estrelas de cinema substituíram a nobreza como clientela do grande hotel. No entanto, Lorenz Adlon, fiel ao imperador que agora se encontrava no exílio holandês, não se adaptou a esta mudança de paradigma, falecendo em 1921. Seu filho, Louis Adlon, continuou o trabalho do pai.

Louis Adlon, aliás, Ludwig Adlon, afrancesou seu nome para fazer mais jus ao métier – da mesma forma como feito pelo pai, Laurenz Adlon. O Hotel Adlon teve, no entanto, que germanizar o cardápio do seu restaurante durante a Segunda Guerra. "O Adlon se encheu de uniformes", afirmou Hedda Adlon, viúva de Louis Adlon, em suas memórias.

Ecletismo banal

Escritor Thomas Mann e pagem no antigo Hotel AdlonFoto: Kempinski Hotel Adlon

Em 1941, Louis e Hedda Adlon tornaram-se membros do Partido Nazista, mais por obrigação do que por convicção, explicou a viúva. Quase por um milagre, o Adlon pouco sofreu durante os bombardeios de Berlim. A parcial destruição veio somente em maio de 1945, quando soldados russos atearam fogo na adega de vinhos. A ala restante foi utilizada como hotel e, posteriormente, como albergue de estudantes pela antiga Alemanha Oriental, até sua demolição em 1984.

Já na década de 1950, a viúva Adlon havia vendido os direitos de compra do terreno e de uso da marca Adlon à rede Kempinski de hotéis. Após a queda do Muro, em 1989, a sociedade responsável pelo novo Adlon teve que recomprar, por 70 milhões de marcos, o terreno desapropriado pela prefeitura de Berlim antes da divisão da Alemanha.

Em agosto de 1997, o Adlon era inaugurado, pela segunda vez, por um chefe de Estado alemão, o então presidente Roman Herzog. Hoje, ele conta com 304 quartos e 78 suítes, cujas diárias variam de 420 euros para um quarto simples de 35 metros quadrados, a 12,5 mil euros na suíte presidencial de 220 metros quadrados, com mordomo e serviço de limusine.

"Reconstrução crítica"

Sem os detalhes decorativos da fachada do antecessor, o novo Adlon foi bastante criticado por seu modesto classicismo. No livro Arquitetura em Berlim, editado pela Câmara de Arquitetos da cidade, em 1996, o autor Rudolf Steger comentava que, com seu "ecletismo banal", o novo prédio do Hotel Adlon lembra os hotéis da antiga Alemanha Oriental.

Pariser Platz: 'reconstrução crítica'Foto: AP

Além do volume externo e da escadaria do saguão, o novo Adlon nada tem a ver com o antigo. Somente o primeiro pavimento é revestido em pedra. Com exceção das tímidas cornijas (molduras) das janelas, a pintura sobre reboco domina a fachada. Em vez de reconstruir o antigo, a arquitetura do novo Adlon se encaixava então na chamada "reconstrução crítica" da Pariser Platz, principal cartão postal de Berlim, decidida pelo governo da cidade em 1993.

Por "reconstrução crítica" leia-se o resgate dos volumes urbanos da Pariser Platz segundo os desenhos do urbanista Hermann Mächtig de 1880. Apesar de não estipular o tipo de arquitetura, tal reconstrução determinou o tipo de material, a quantidade de aberturas e a altura dos prédios da Pariser Platz.

Entre estes edifícios, encontram-se a Academia das Artes, prédio vizinho ao Adlon projetado por Günter Behnisch, que também projetou o Parque Olímpico de Munique; a embaixada da França, do arquiteto francês Christian de Portzamparc; a sede do DZ Bank, do norte-americano Frank O. Gehry, e a nova embaixada dos Estados Unidos na Alemanha, que deverá ser inaugurada no início de 2008.

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