Quem rejeita Bolsonaro?
26 de setembro de 2018Nunca desde a volta das eleições diretas, em 1989, um líder na disputa presidencial registrou uma rejeição tão alta a dez dias do primeiro turno quanto o militar reformado Jair Bolsonaro (PSL). Apesar de liderar isolado a disputa, com 28% das intenções de voto, o ex-capitão viu seu percentual de rejeição crescer mais nas últimas semanas do que o número de eleitores dispostos a votar nele.
Segundo o último levantamento do Ibope, 46% dos eleitores afirmam que não votariam em Bolsonaro – quatro pontos percentuais a mais do que no levantamento de 18 de setembro. Neste período, suas intenções de voto cresceram dois pontos percentuais.
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A pesquisa do instituto aponta que a rejeição a Bolsonaro cresceu em praticamente todos os segmentos do eleitorado em comparação com o último Ibope, mesmo entre grupos que vêm se mostrando mais simpáticos ao ex-militar, como homens, brancos, evangélicos, pessoas com ensino superior e eleitores das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
O petista Fernando Haddad, que aparece em segundo lugar na disputa, com 22% das intenções de voto, foi rejeitado apareceu com rejeição de 30% dos eleitores no último Ibope.
Os 46% de rejeição do ex-capitão ficam à frente do nível histórico registrado por Luiz Inácio Lula da Silva em 1994. Naquela eleição, o petista viu sua popularidade se esfarelar por ter se posicionado contra o Plano Real. Ele registrou 40% de rejeição a poucos dias do primeiro turno. O índice pesou, e ele acabou sendo derrotado por Fernando Henrique Cardoso (rejeitado por 17%) sem ter passado para a segunda rodada.
Depois daquelas eleições, o índice de rejeição mais elevado registrado entre os principais candidatos foi o de Dilma Rousseff na campanha da reeleição em 2014: 31% – 15 pontos a menos do que Bolsonaro. Ela, no entanto, acabou vencendo o pleito.
Em apenas um segmento o militar reformado conseguiu melhorar a sua imagem: entre os eleitores de 45 a 54 anos. Nesse extrato, seu índice caiu de 47% para 42%. Entre outros segmentos, a percepção de Bolsonaro entre os eleitores só piorou. Ele agora é o candidato mais rejeitado entre os homens: subiu de 33% para 37%. Nesta faixa, Haddad viu seu índice cair de 37% para 34%. As mulheres que declaram não votar em Bolsonaro de jeito nenhum cresceram de 50% para 54%.
Entre as pessoas com 55 anos ou mais, a rejeição do militar reformado aumentou de 34% para 39%. No segmento evangélico, cresceu de 34% para 41%.
O instituto também mostrou que agora 40% dos eleitores brancos afirmam que não vão votar em Bolsonaro – seis pontos a mais que na pesquisa anterior. Entre os negros e pardos, o índice foi de 47% para 50%. O candidato do PSL também viu sua rejeição subir seis pontos entre os eleitores que ganham mais de cinco salários, atingindo 39% neste segmento.
Bolsonaro também segue sendo o mais rejeitado no Nordeste: 60% dos eleitores da região afirmaram que não pretendem votar nele. A novidade é que a imagem do ex-capitão se deteriorou no Sul e Sudeste em relação ao último Ibope. Agora, 43% dos eleitores do Sudeste rejeitam o candidato, quatro pontos a mais do que na última pesquisa. No Sul, o índice cresceu de 29% para 39%, ultrapassando Haddad, que é rejeitado por 34% nesta região.
Em todos os segmentos analisados pelo Ibope, Bolsonaro só não é mais rejeitado do que Haddad entre os eleitores que ganham mais de cinco salários mínimos. Apesar de ter alcançado 39% nesta faixa, Haddad ainda lidera, com 50%. Já entre as pessoas com ensino superior, o candidato do PSL e o petista estão tecnicamente empatados, com 47% e 46%, respectivamente, levando em conta a margem de erro de dois pontos percentuais. O mesmo ocorre entre os eleitores brancos, em que Bolsonaro é rejeitado por 40% e Haddad, por 38%.
O militar reformado também encontra mais resistência do que Haddad entre todas as regiões do país.
Esse aumento da rejeição causou efeitos nas intenções de voto de Bolsonaro. Ele ficou estacionado em 28% no último Ibope, mesmo índice da pesquisa anterior. O ex-capitão também perdeu votos em vários segmentos. Seu índice geral de intenções de voto só não caiu porque esses eleitores foram compensados por outros de extratos diferentes.
Entre os eleitores brancos, por exemplo, ele oscilou negativamente em dois pontos percentuais, de 33% para 31%. Já entre os eleitores do Sul, perdeu oito percentuais, caindo de 38% para 30%. Entre aqueles com Ensino Superior, segmento que ainda lidera, Bolsonaro perdeu três pontos, e agora tem 33% de apoio. Entre os evangélicos, oscilou negativamente de 36% para 34%.
Bolsonaro, no entanto, oscilou positivamente entre os eleitores que ganham mais de cinco salários mínimos, de 41% para 42%. O mesmo ocorreu entre os que ganham até um salário mínimo. Ele ampliou seu eleitorado nesta faixa de 12% para 16%. Entre os negros, teve oscilação positiva de um ponto, passando de 24% para 25%. O mesmo ocorreu com o eleitorado que estudou até a quarta série do ensino fundamental. Ele subiu um ponto entre esse eleitorado.
O aumento da rejeição de Bolsonaro coincide com uma intensa campanha de ataques por parte de adversários. A maior parte partiu de Geraldo Alckmin (PSDB), que tenta recuperar para os tucanos o eleitorado antipetista que decidiu apoiar o candidato do PSL. Na semana passada, a campanha do tucano passou a veicular anúncios na TV em que compara Bolsonaro ao ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. Alckmin também passou a afirmar que "um voto para Bolsonaro é um voto para o PT", em referência aos cenários de segundo turno pesquisados pelo Ibope e pelo Datafolha, que apontam que uma segunda rodada entre Haddad e o ex-capitão tem alta possibilidade de resultar em uma vitória do petista.
Além da campanha de Alckmin, Bolsonaro também tem sido alvo frequente de usuários de redes sociais, em especial mulheres que rejeitam o ex-capitão por causa das suas atitudes machistas.
A própria campanha de Bolsonaro também produziu fatos negativos. Na semana passada, uma ideia do guru econômico do candidato, Paulo Guedes, que propôs recriar a CPMF, repercutiu mal na imprensa. Guedes acabou sendo desautorizado publicamente pelo próprio candidato.
Os índices de Bolsonaro também mostram que a comoção causada pelo ataque a faca contra o candidato no dia 6 de setembro foi passageira e teve efeito reduzido entre o eleitorado. Antes do episódio, ele havia registrado 44% de rejeição no Ibope. No primeiro levantamento após o ataque, o índice havia caído para 41%, puxado em especial pela faixa dos homens e eleitores mais velhos, mas a rejeição nesses setores logo aumentou.
O aumento do número de eleitores que afirmam não votar em Bolsonaro mudou os cenários de segundo turno. Mesmo liderando a corrida eleitoral desde que o ex-presidente Lula teve a candidatura barrada, Bolsonaro nunca conseguiu repetir esses bons resultados nas simulações de cenários da segunda rodada. Agora, sua situação piorou.
No último Ibope, o cenário Haddad versus Bolsonaro ainda apresentava um empate entre os dois candidatos. Agora, Haddad aparece pela primeira vez com possibilidade de vencer o ex-capitão. Segundo o Ibope, o petista teria 43% contra 37% de Bolsonaro.
Já Ciro Gomes (PDT), o terceiro colocado nas pesquisas de primeiro turno, ampliou ainda mais sua vantagem sobre Bolsonaro em uma eventual segunda rodada. Ele venceria com 46% contra 35% do candidato do PSL. Alckmin, por sua vez, que também apareceu empatado com Bolsonaro no último Ibope, agora venceria com 41% dos votos contra 36%. Apenas Marina Silva (Rede), que está vendo sua candidatura derreter nas últimas semanas, não aparece tão bem posicionada contra Bolsonaro. Os dois aparecem empatados com 39% dos votos cada.
Nesta sexta-feira, será a vez do Datafolha divulgar sua pesquisa nacional para a disputa presidencial.
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