Quem são os palestinos que foram soltos por Israel
14 de outubro de 2025
Como parte do acordo para fim da guerra em Gaza, Israel libertou 1,7 mil palestinos detidos durante os dois anos de conflito e 250 condenados por diversos crimes. Mais de 150 foram exilados.
Multidão recebeu os palestinos libertos em Khan YounisFoto: Mahmoud Issa/REUTERS
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Gritos de comemoração irromperam entre palestinos nesta segunda-feira (13/10), quando Israel soltou quase 2 mil prisioneiros como parte de um acordo que também libertou 20 reféns israelense que eram mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza. A libertação dos sequestrados e prisioneiros é parte do acordo de cessar-fogo que interrompeu dois anos de guerra no enclave palestino.
Grandes multidões saudaram os prisioneiros libertos em Beitunia, cidade na Cisjordânia ocupada, e em Khan Younis, no sul de Gaza, enquanto desciam dos ônibus do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Alguns foram erguidos nos ombros assim que chegaram, outros, transferidos a hospitais devido à sua condição de saúde.
Entre os libertos estão 1.718 palestinos capturados por tropas israelenses em Gaza durante o conflito de dois anos entre Israel e o grupo radical Hamas, considerado como terrorista por diversos países, e mantidos presos sem acusação formal. Entre eles, há cinco menores de 18 anos e duas mulheres. Ao longo dos combates, profissionais de saúde de Gaza também foram presos sem acusação formal.
Os familiares muitas vezes não sabiam se seus parentes estavam detidos ou se haviam morrido em ataques, já que muitas vezes não havia confirmação de custódia. A maior parte deste grupo foi mantida em prisão administrativa, ou seja, sem acusação formal ou julgamento, sob leis aprovadas por Israel no início da guerra que permitiam a prisão imediata de "combatentes ilegais".
Grupo inclui membros do Fatah e Hamas
Também compõem o grupo 250 palestinos sentenciados há décadas a penas de prisão por ataques mortais contra israelenses, além de outros condenados por acusações menores, segundo o Ministério da Justiça de Israel.
A maioria foi presa e julgada no início dos anos 2000, quando eclodiu uma revolta palestina contrária à ocupação israelense, a Segunda Intifada. O conflito entre grupos armados palestinos e o exército israelense deixou centenas de mortos.
A lista dos 250 libertos, com idades entre 19 e 64 anos, inclui 159 vinculados ao Fatah, movimento político e militar palestino que controla a Cisjordânia, e 63 associados ao Hamas. Os demais não têm afiliação ou pertencem a grupos menores.
Mais da metade deles foi exilada por Israel e enviada ao Egito, onde devem ser então transferidos a outros países. O exílio é considerado por palestinos como uma penalidade grave, já que a circulação para entrar e sair de Gaza e da Cisjordânia costuma ser limitada, mesmo em períodos de paz, o que dificulta o encontro posterior com familiares.
Peso simbólico
As libertações têm peso simbólico para ambos os lados.
Muitos israelenses discordam da soltura de presos, tomados como terroristas por parte da população, já que alguns foram condenados por ataques que mataram civis e soldados.
Entre os libertos, por exemplo, estão Raed Sheikh, um policial palestino e membro do Fatah, sentenciado a múltiplas penas de prisão perpétua por seu papel na morte de dois soldados israelenses; e Mahmoud Issa, comandante do Hamas preso perpetuamente em 1993 por sequestrar e matar um policial israelense. Em grande parte das mais de três décadas que passou atrás das grades, Issa foi colocado na solitária. Ele acabou se tornando um símbolo entre os defensores dos direitos dos prisioneiros.
Libertos incluem membros do Hamas e do FatahFoto: Jehad Alshrafi/AP Photo/picture alliance
Já para os palestinos, muitas prisões são políticas e alguns detidos são vistos como líderes da resistência contra a ocupação militar israelense.
"Foi uma jornada indescritível de sofrimento, fome, tratamento injusto, opressão, tortura e xingamentos, mais do que qualquer coisa que você possa imaginar", disse Kamal Abu Shanab, um palestino de 51 anos da cidade de Tulkarem, na Cisjordânia, que foi libertado após mais de 18 anos na prisão.
"Não o reconhecemos. Ele não é a pessoa que conhecíamos. Nosso tio não parece nosso tio", disse a sobrinha de Abu Shanab. Um tribunal militar o condenou por "treinamentos militares, homicídio voluntário e associação a uma organização não reconhecida", segundo a lista israelense de prisioneiros trocados.
Relatos similares de abusos cometidos na prisão também foram feitos por detentos que foram capturados ao longo do conflito mais recente em Gaza. Israel afirma que cumpre padrões prisionais conforme a lei e investiga denúncias de violações.
Lista não inclui lideranças de maior destaque
Organizações calculam que o número de palestinos presos por Israel chegou a 11,1 mil desde 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas avançaram sobre as fronteiras do país e mataram 1.200 pessoas.
A ONG israelense HaMoked avalia que 3.500 pessoas foram mantidas em detenção administrativa sem julgamento durante o período.
Apesar de pressões feitas nos últimos minutos do acordo, a lista final de libertos não incluiu cerca de meia dúzia de lideranças de maior destaque do Hamas, do Fatah e da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP). Entre eles está Marwan al-Barghouti, amplamente visto como um possível sucessor de Mahmoud Abbas na presidência da Autoridade Palestina.
Barghouti se destacou como líder e organizador de ambas as intifadas, revoltas violentas dos palestinos contra Israel na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza desde 1987. Ele foi preso em 2002, acusado de orquestrar emboscadas com armas de fogo e atentados suicidas, e condenado a cinco penas de prisão perpétua em 2004. Autoridades do Fatah disseram que ele criou as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, o braço armado do Fatah, sob as ordens do primeiro presidente da AP, Yasser Arafat.
Ficaram de fora ainda Hassan Salama, condenado por orquestrar uma onda de atentados suicidas em Israel em 1996, que matou dezenas de israelenses e deixou centenas de feridos, e Ahmed Sadaat, líder da FPLP, que foi acusado por Israel de ordenar o assassinato do ministro israelense do Turismo, Rehavam Zeevi, em 2001.
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Retorno de prisioneiros mortos em Israel
Como parte do acordo de cessar-fogo, foram entregues nesta terça-feira (14/10) 45 corpos de palestinos mortos detidos pelas forças militares israelenses desde 7 de outubro de 2023, informou o Hospital Nasser em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, onde os restos mortais chegaram pelas mãos da Cruz Vermelha.
Um total de 450 mortos devem ser devolvidos a Gaza por Israel, informou o hospital, que também afirmou que alguns dos corpos apresentavam sinais de tortura e de mãos amarradas. Não ficou imediatamente claro quando ou como eles morreram.
Essa é a primeira entrega de corpos por parte de Israel, conforme o acordo entre os dois lados, que exige que o Hamas entregue os restos mortais dos 28 reféns mortos mantidos em cativeiro no território palestino.
Vários veículos de comunicação palestinos informaram sobre a entrega desses 45 corpos e publicaram imagens perto do Hospital Nasser mostrando veículos e funcionários da Cruz Vermelha aos quais os restos mortais foram entregues.
O Ministério da Saúde de Gaza anunciou nesta terça-feira a disponibilidade de suas equipes médicas para receber os corpos dos palestinos a serem entregues por Israel, acrescentando que a entrega será realizada "de acordo com os procedimentos e protocolos médicos adotados para esses casos".
gq/cn/md/ra (AP, OTS)
O mês de outubro em imagens
Veja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Eyad Baba/AFP/Getty Images
Tumulto em velório do líder da oposição queniana deixa dois mortos
Duas pessoas morreram em Nairóbi depois que a polícia abriu fogo contra apoiadores que acompanhavam o velório do líder da oposição queniana, Raila Odinga, morto na quarta-feira. Agentes também lançaram gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que acompanhava a cerimônia. Centenas ainda tentaram invadir o parlamento, onde o governo havia inicialmente programado uma visitação pública. (16/10)
Foto: Andrew Kasuku/AP Photo/picture alliance
Trump concede medalha póstuma a Charlie Kirk
O presidente dos EUA, Donald Trump, concedeu postumamente ao ativista de direita Charlie Kirk a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior honraria civil do país. Kirk foi morto a tiro em 10 de setembro passado durante um evento universitário no estado de Utah. A medalha foi entregue à viúva de Kirk, Erika, durante cerimônia nos jardins da Casa Branca. (15/10)
Foto: Kevin Dietsch/Getty Images
Hamas devolve mais 4 corpos a Israel, que limita ajuda a Gaza
Na Faixa de Gaza, a fome aflige mais de meio milhão de palestinos, mas caminhões com mantimentos ainda não foram autorizados a entrar no território na quantidade máxima prevista. O Hamas entregou mais quatro corpos de reféns mortos após Israel anunciar que limitará o fluxo de ajuda humanitária, afirmando que o plano de paz não está sendo respeitado pela organização islamista. (14/10)
Foto: Eyad Baba/AFP/Getty Images
Trump e líderes árabes assinam acordo de paz para Gaza
Estados Unidos, Egito, Catar e Turquia assinaram uma declaração como garantidores do acordo de paz em Gaza, dias após o início da trégua entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas. "Juntos, conseguimos o que todos diziam ser impossível. Finalmente, temos paz no Oriente Médio", disse Donald Trump em um discurso dirigido aos líderes internacionais reunidos no encontro, no Egito. (13/10)
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Ajuda chega a Gaza após garantia de liberação de reféns
Grupos de ajuda humanitária intensificaram os esforços de socorro a Gaza, devastada por dois anos de guerra. Os envios foram autorizados após o Hamas confirmar que seguirá o cronograma de libertação de reféns. Diante do quadro de fome generalizada causado pelo bloqueio imposto por Israel, entidades se preparam para enviar cerca de 600 caminhões com alimentos e suprimentos médicos por dia. (12/10)
Foto: Stringer/REUTERS
Protestos pró-palestinos se espalham pela Europa
Manifestantes pró-palestinos marcharam por várias cidades da Europa no segundo dia de cessar-fogo entre Israel e Hamas em Gaza. Milhares de pessoas ocuparam as ruas de Londres, Berlim e Viena. Em Berna, na Suíça, houve confrontos com a polícia. Em Tel Aviv, israelenses comemoraram o acordo de paz com gritos pró-EUA. (11/10)
Foto: Jaimi Joy/REUTERS
Palestinos iniciam retorno ao norte de Gaza após cessar-fogo
Dezenas de milhares de palestinos caminham rumo ao norte de Gaza para retornar às suas casas, após o exército israelense recuar de suas posições como parte do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, que entrou em vigor ao meio-dia (horário local). Um intenso bombardeio ainda foi registrado no território durante a manhã. A expectativa é que os reféns sejam libertados até segunda-feira. (10/10)
Foto: Eyad Baba/AFP
Milhares se reúnem para comemorar cessar-fogo em Gaza
Milhares de pessoas tomaram as ruas de Tel Aviv para comemorar o acordo que propõe colocar fim à guerra entre Israel e o grupo radical palestino Hamas. O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ratificou o texto e deve recuar suas tropas. A expectativa é que 20 reféns israelenses sejam devolvidos até segunda-feira. (09/10)
Foto: Ilia Yefimovich/dpa/picture alliance
Israel e Hamas firmam 1ª fase do acordo de paz em Gaza
Representantes de Israel e do grupo islamista Hamas concordaram com a primeira fase do plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prevê um cessar-fogo no conflito na Faixa de Gaza. A resolução prevê a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos (08/10).
Foto: Hassan Jedi/Anadolu Agency/IMAGO
Guerra entre Israel e Hamas completa dois anos
Em 7 de outubro de 2023, combatentes do Hamas realizaram um ataque-relâmpago contra Israel, matando quase 1,2 mil pessoas e sequestrando outras 251. Reação israelense deu início à guerra na Faixa de Gaza, onde, depois de dois anos, mais de 66 mil palestinos morreram em meio ao conflito, segundo Ministério da Saúde local administrado pelo Hamas. (07/10)
Foto: Chris McGrath/Getty Images
Premiê da França renuncia após menos de um mês no cargo
O primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu apresentou sua renúncia ao presidente Emmanuel Macron, que a aceitou, após a oposição ameaçar derrubar o novo governo. A renúncia inesperada e sem precedentes aprofunda ainda mais a crise política na França, causada pela falta de uma maioria para Macron na Assembleia Nacional. (06/10)
Foto: Eliot Blondet-Pool/SIPA/picture alliance
Síria realiza a primeira eleição pós-ditadura
Após mais de 50 anos de ditadura e uma década de guerra civil, a Síria realizou suas primeiras eleições parlamentares. Mas o processo de votação está longe de ser simples – e está repleto de controvérsias e polêmicas. Nem todos os sírios foram às urnas. Também não houve partidos políticos. Os votos foram emitidos por vários comitês, razão pela qual a eleição é descrita como "indireta". (05/10)
Foto: Mahmoud Hassano/REUTERS
Japão prestes a eleger a primeira mulher para comandar o país
O Partido Liberal Democrático (PLD), que governa atualmente o Japão, escolheu a conservadora linha-dura Sanae Takaichi como líder da legenda, abrindo caminho para ela se tornar a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra do país. (04/10)
Foto: Kim Kyung-Hoon/POOL/AFP/Getty Images
Nos 35 anos da reunificação, Merz pede união frente a autocracias
No dia em que a reunificação da Alemanha completa 35 anos, o chanceler federal Friedrich Merz fez um apelo por união em meio a mudanças na ordem econômica mundial e à ascensão de autocracias. "Vamos fazer um esforço conjunto por uma nova união em nosso país", disse em Saarbrücken, falando a uma plateia que incluiu o presidente da França, Emmanuel Macron. (03/10)
Foto: Jean-Christophe Verhaegen/AFP
Ataque perto de sinagoga deixa 2 mortos no Reino Unido
Duas pessoas morreram e três ficaram feridas após um agressor dirigir contra um grupo de pedestres e esfaquear um segurança próximo a uma sinagoga em Manchester, na Inglaterra. O incidente ocorreu no Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário judaico. O primeiro-ministro britânico Keir Starmer ordenou que a segurança de sinagogas em todo o Reino Unido seja reforçada. (02/09)
Foto: Peter Byrne/PA/AP Photo/picture alliance
Israel intercepta flotilha humanitária rumo a Gaza
A flotilha internacional que transportava ajuda humanitária e cerca de 500 ativistas de vários países rumo à Faixa de Gaza, incluindo a sueca Greta Thunberg e um grupo de brasileiros, foi interceptada por navios militares israelenses. O Ministério do Exterior de Israel disse que "Greta e seus amigos estão seguros e saudáveis" e foram levados para um porto em Israel. (01/10)