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Quem vai eleger o próximo presidente dos Estados Unidos?

Jon Shelton
3 de novembro de 2020

Em 2020, negros, hispânicos e outras parcelas não brancas da população representam um terço do eleitorado americano. Resta saber que impacto as diferentes minorias terão na disputa entre Trump e Biden.

Eleitores americanos usando máscaras de proteção fazem fila durante comparecimento em votação antecipada em Richardson, Texas em 13/10/2020.
Participação eleitoral, historicamente baixa nos EUA, pode ser recorde neste anoFoto: Lm Otero/AP/dpa/picture-alliance

Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, que neste ano ocorrem nesta terça-feira (03/11), cidadãos americanos maiores de 18 anos estão legalmente aptos a votar. Em alguns estados, condenados por crimes não têm direito ao voto.

Embora a corrida presidencial seja a grande manchete do pleito, os eleitores de todo o país também escolherão nesta terça indivíduos para representá-los nos níveis local, estadual e federal de governo.

A participação eleitoral nos EUA é historicamente baixa em comparação com outras nações desenvolvidas. O maior comparecimento às urnas desde 1972, as primeiras eleições presidenciais em que cidadãos com 18 anos de idade puderam votar, ocorreu em 2008, quando pouco mais de 57% da população com idade para votar exerceu esse direito. 

Neste ano, no entanto, o elevado número de votos antecipados – mais de 96 mil até esta segunda-feira, o que representa mais de 45% dos eleitores registrados no país – indica que a participação será recorde.

A seguir, um raio x do eleitorado americano:

Brancos, negros, latinos

De acordo com um relatório apresentado ao Congresso pela Comissão de Assistência Eleitoral dos EUA, mais de 211 milhões de pessoas foram registradas para votar nas eleições gerais de 2018, com cerca de 122 milhões de votos contabilizados no final. Os eleitores brancos constituíram o maior bloco étnico ou racial, com uma participação de 57,5% dos brancos aptos a votar.

Mas a composição demográfica está mudando nos EUA, e a proporção de eleitores brancos encolheu nas últimas décadas. Este ano, negros, hispânicos e as demais parcelas não brancas da população representarão um terço de todo o eleitorado – contra pouco mais de um quarto em 2016.

Em 2020, 32 milhões de hispânicos ou indivíduos de origem latina estão aptos a votar, o que representa 13% de todos os eleitores e faz deles o maior bloco de eleitores não brancos dos EUA. Há 30 milhões de negros com direito a voto, ou cerca de 12,5% do eleitorado potencial, e 11 milhões de asiáticos aptos a votar, ou cerca de 4,7%. Calcula-se que 23,2 milhões de cidadãos naturalizados nascidos fora do país representem 10% dos eleitores neste ano.

Como bloco, a comunidade latina tem sido frequentemente descrita como um "gigante adormecido" com o poder de moldar a política dos EUA nas próximas décadas. No entanto, nem os republicanos, nem os democratas conseguiram encontrar uma maneira de explorar verdadeiramente o potencial de um grupo que é conhecido por seu comparecimento eleitoral historicamente baixo nas eleições americanas.

Com muitas pessoas não brancas trabalhando no setor de serviços ou na área da saúde e/ou vivendo em casas onde moram várias gerações, as comunidades negras, latinas, indígenas e asiáticas nos EUA têm sido duramente atingidas pela pandemia. Na esperança de transformar a eleição num referendo sobre a estratégia de Donald Trump ante o coronavírus, os democratas estão mirando grupos subrepresentados sob o argumento de que os republicanos querem cortar o sistema de saúde quando as pessoas mais precisam dele.

Resta saber se os votos das minorias irão para Joe Biden, como foram para Barack Obama em 2008 e 2012, antes da queda em participação registrada em 2016. Biden tem enfatizado seus laços com as comunidades marginalizadas e, ao escolher Kamala Harris – cujo pai era da Jamaica e a mãe da Índia – como sua companheira de chapa, ele quis transmitir a mensagem de que ouve esses eleitores.

Em 2016, Trump obteve 8% do voto negro, algo comparável aos números de George W. Bush em 2000 e de Ronald Reagan em 1984. De acordo com as pesquisas de boca de urna, Trump tinha o apoio de 28% dos eleitores latinos e 27% dos asiáticos. Do eleitorado branco, ele ganhou 55% dos votos.

Idade

Estima-se que os americanos com 56 anos ou mais representem menos de 40% dos eleitores em 2020, de acordo com o Pew Research Center. O número fica, portanto, abaixo dos 44% que os baby boomers e a antecedente Geração Silenciosa (nascidos entre 1928 e 1945) constituíam em 2016, quando Trump obteve 53% de apoio desse grupo demográfico. Tal resultado o ajudou a vencer em estados considerados decisivos em regiões industriais, bem como estados do chamado cinturão do sol, como Flórida e Carolina do Norte.

Nem sempre o mais votado se torna presidente dos EUA

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Neste ano, os eleitores da Geração Z, entre 18 e 23 anos, responderão por 10% da população com idade para votar. A composição racial do bloco mais jovem é consideravelmente mais diversa do que a da geração baby boomer. Estima-se que os brancos constituam 74% do eleitorado dos baby boomers de 2020.

Ambos os partidos estão tentando atrair eleitores jovens. Obama reacendeu o entusiasmo dos estudantes universitários pelos democratas em sua campanha de 2008, enquanto o senador Bernie Sanders inspirou jovens americanos a votar no partido nos anos mais recentes. Republicanos, por outro lado, têm se voltado para grupos como o libertário Turning Point USA para recrutar jovens apoiadores.

Gênero 

Desde 1984, a taxa de votos femininos vem superando a de masculinos nas eleições presidenciais. Em 2016, 63% das mulheres votaram, em comparação com 59% dos homens. As mulheres brancas também lideraram os homens brancos na participação eleitoral (67% e 64%, respectivamente), seguidas por mulheres negras e homens negros (64% e 54%), e latinas e latinos (50% e 45%).

A educação também desempenha um papel fundamental entre homens e mulheres no que diz respeito à participação dos eleitores, com pessoas com diploma universitário votando em taxas mais altas do que aquelas sem.

O gênero também se reflete na filiação partidária, com os exemplos mais extremos sendo homens brancos, 58% dos quais se identificam como republicanos, e mulheres negras, 87% das quais se identificam como democratas.

Biden tem se apresentado como defensor dos direitos das mulheres e, para consolidar essa reivindicação, escolheu uma mulher como sua companheira de chapa. Trump e os republicanos, por outro lado, tomaram a direção oposta, sinalizando um forte desejo de ver a revogação do aborto legalizado e apostando nos medos de mulheres brancas suburbanas para obter seu apoio.

Como os candidatos lidam com cada grupo

Outros fatores demográficos incluem renda, educação, religião e orientação ou identidade sexual. Biden continuou seguindo a abordagem tradicional de seu partido de expandir a base, buscando construir uma ampla coalizão de apoiadores que inclua o maior número possível de eleitores minoritários, enquanto perde o mínimo possível de brancos no processo. No passado, mulheres e jovens eleitores ajudaram o partido a vencer, algo que Biden e Harris agora buscam capitalizar mais uma vez.

Para Trump, raça, acima de tudo, foi um aspecto fundamental de sua campanha de reeleição. Sua base é predominantemente branca e, quando se comunica com seus apoiadores, ele usa abertamente linguagem e alegorias racistas.

Em 2016, ele venceu com menos apoio negro e latino do que qualquer outro presidente nos 40 anos anteriores. Ainda assim, apesar de sua mensagem veementemente anti-imigração, Trump tem buscado eleitores hispânicos conservadores em todo o cinturão do sol – especialmente na Flórida – na esperança de garantir votos nos principais estados do sul.

Embora Trump diga que fez mais pelos negros americanos do que qualquer presidente desde Abraham Lincoln, seu alcance foi prejudicado por sua hostilidade aberta a grupos como Black Lives Matter, à congressista da Califórnia Maxine Waters e a figuras culturais como Colin Kaepernick.

Em vez de tentar expandir sua própria base de votos, Trump dobrou seus esforços para atrair os eleitores brancos sem diploma universitário que o levaram à vitória em 2016. Embora o grupo não esteja crescendo demograficamente, ainda pode haver alguma esperança para captadores de votos, já que brancos sem diploma universitário representaram metade dos que não votaram em 2016.

Analistas acreditam que o caminho de Trump para a vitória será mais difícil desta vez, já que sua base demográfica diminuiu nos últimos quatro anos, embora 2016 tenha mostrado a importância descomunal de blocos de votação de nicho em estados decisivos. Eleitores brancos sem formação universitária, por exemplo, ajudaram a dar a Trump a margem de que ele precisava em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde um total de 80 mil votos ajudaram a determinar a presidência.

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