Quem vai governar com Merkel?
23 de setembro de 2017Com a chanceler federal Angela Merkel virtualmente reeleita para mais quatro anos, segundo todas as pesquisas eleitorais, a dúvida para a eleição deste domingo (24/09) passa a ser com quem ela vai formar a próxima coalizão de governo na Alemanha.
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No momento, a constelação mais provável parece ser uma aliança com o Partido Social-Democrata (SPD), o que seria uma reedição da atual grande coalizão, como é conhecida na Alemanha a união entre as duas maiores bancadas do Parlamento: a União – União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) – e o SPD.
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Matematicamente não haveria problemas, pois essas duas bancadas têm muito mais da metade dos assentos no Bundestag (Parlamento). E, depois de duas edições da grande coalizão, muitos parlamentares conservadores disseram estar satisfeitos com a cooperação com os social-democratas e gostariam de reeditá-la– até porque a União seria, mais uma vez, o membro majoritário da coalizão.
Mas dentro do SPD as dúvidas são maiores. Muitos parlamentares atribuem o fraco desempenho eleitoral dos últimos anos – e também o resultado aquém do esperado nas atuais pesquisas eleitorais – ao fato de o SPD ser o parceiro minoritário da grande coalizão e ficar à sombra da CDU/CSU e de Merkel. Assim, eles defendem que o partido vá para a oposição.
Essa tendência deve ganhar força se as atuais pesquisas se confirmarem e o SPD ficar abaixo de 23% dos votos. Esse percentual foi alcançado na eleição de 2009, quando o candidato a chanceler era Frank-Walter Steinmeier, e é uma espécie de teto mínimo tolerado pelos social-democratas. As atuais pesquisas dão entre 20% e 21% para o partido.
Se elas se confirmarem, a tendência de o SPD ir para a oposição ficará mais forte. No outro extremo, se as pesquisas estiverem erradas, e o SPD obtiver um resultado bem acima dos 23% – por exemplo acima dos 25,7% de 2013 – as vozes dentro do partido que são favoráveis à permanência no governo, mesmo como parceiro minoritário da CSU/CSU, devem se fortalecer.
Mas há um outro aspecto que pode acabar obrigando o SPD a aceitar participar de um novo governo Merkel: a possibilidade de novas eleições caso a chanceler não consiga formar uma aliança com as demais agremiações representadas no Parlamento. E é bem provável que ela não consiga.
Segundo as pesquisas, matematicamente restaria à CDU/CSU apenas uma coalizão com o Partido Liberal Democrático (FDP, 10% nas pesquisas) e o Partido Verde (8% nas pesquisas) – já que a Alternativa para a Alemanha (AfD) e A Esquerda estão descartadas de antemão. Porém, há grandes dificuldades para que uma coalizão tão ampla se forme.
Primeiro, os liberais e os verdes divergem em vários aspectos, como, por exemplo, a política para refugiados. Segundo, é difícil imaginar a CSU, um partido fortemente conservador, e a ala esquerda do Partido Verde integrando o mesmo governo. O ministro dos Transportes, Alexander Dobrindt (CSU), declarou recentemente que os verdes são "pessoas fora da realidade" e descartou uma aliança.
Também o candidato de ponta dos liberais, Christian Lindner, disse ver dificuldades para essa coalizão por causa das grande divergências com os verdes. "Parece que eles não aprenderam nada com a crise dos refugiados", comentou.
Tudo indica, portanto, que essa coalizão – conhecida no jargão político alemão como Jamaica, por causa das cores preto, amarelo e verde – seria muito difícil de ser negociada. E aí a CDU/CSU teria apenas uma alternativa: voltar a se unir ao SPD.