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Questão catalã pode decidir eleição na Espanha

27 de abril de 2019

Socialistas do premiê Pedro Sánchez lideram pesquisas, mas é incerto se conseguirão formar maioria para governar. Campanha ocorre em país dividido entre duas visões para solucionar crise da secessão da Catalunha.

Quatro políticos espanhóis num estúdio televisivo durante debate para eleições 2019
Casado, Iglesias, Rivera, Sánchez: debate televisivo entre principais líderes partidários espanhóisFoto: Getty Images/AFP/J. Soriano

Quatro homens se digladiaram pesadamente no segundo debate televisivo para as eleições espanholas no fim de abril, com ataques pessoais sobre política para mulheres e de gênero. Os senhores, todos eles chefes de seus partidos, dizem lutar, de formas diferentes, contra a violência contra as mulheres, pela igualdade de remuneração e a igualdade de oportunidades.

Nenhum dos partidos apresentou uma mulher como principal candidata, embora o resultado da eleição dependa talvez decisivamente dos votos das espanholas. Segundo observadores, 60% dos eleitores ainda continuavam indecisos dias antes da votação, agendada para este domingo (28/04).

Durante o debate televisionado, se empenharam em propagar suas mensagens ao eleitorado o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe); Pablo Casado, do conservador Partido Popular (PP); Pablo Iglesias, do esquerdista Unidos Podemos; e o liberal Albert Rivera, do Ciudadanos. Também marcante a idade relativamente baixa dos candidatos: aos 47 anos, o primeiro-ministro socialista Sánchez já é o Matusalém da roda. Os demais têm entre 38 e 40 anos: uma nova geração luta pelo poder na Espanha.

O chefe do partido populista de direita Vox, Santiago Abascal Conde, de apenas 43 anos, não foi a nenhum debate televisivo. Sua legenda, uma dissidência do conservador Partido Popular, ainda não está representada no Parlamento nacional, e por isso não recebeu convite para os debates. Abascal realizou em Sevilha um comício paralelo ao duelo televisivo e reclamou da "ditadura da mídia liberal" e dos "progressistas" na política. Ele prometeu a seus seguidores uma "reconquista", um retorno à nação espanhola e o fim da imigração.

O candidato populista de direita rejeita o que chama de "direitos femininos exagerados" ou uma cultura gay "excessiva" que afirma haver na Espanha, afirmando ter como modelo o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán. Ele quer que os separatistas da região da Catalunha sejam tratados com rigidez e exige uma "pátria espanhola" governada com mão de ferro e de forma centralizada, na qual "se pode novamente dormir em paz", e quer abolir os parlamentos regionais.

Cartaz eleitoral do premiê espanhol, Pedro Sánchez: "Faz com que passe"Foto: picture-alliance/AP Photo/P. White

Catalunha divide Espanha

Sobretudo o conflito sobre os esforços de independência na província da Catalunha deu mais alento ao Vox. Segundo as pesquisas, o partido pode chegar a 11% no domingo. O cientista político José Ignacio Torreblanca, do think tank madrilenho Conselho Europeu de Relações Exteriores, acredita que a Espanha esteja atualmente tomada por uma onda de nacionalismo. "Por trás disso está orgulho e emoção, mais do que pensamento racional, porque na prática a política que o Vox propõe não faz sentido. Ela é uma miscelânea, mas os eleitores não se importam com isso. Quando votam no Vox, eles seguem suas emoções."

A crise em torno da Catalunha levou a uma profunda divisão entre os campos de esquerda e direita, desde o referendo de independência em 2017 e a subsequente administração central da região por Madri, mas ambos os campos têm poucas chances de obter uma maioria, caso as pesquisas estejam corretas.

"Os socialistas seguiram uma política mais branda para a Catalunha, e os conservadores são a favor de uma postura mais dura", diz o politólogo Torreblanca. "Portanto nesta eleição o que está em jogo é a escolha entre fortalecer-se o governo na Catalunha, para recuperar os eleitores que são a favor da secessão, ou reforçar-se o controle central e punir os separatistas catalães por terem realizado um referendo ilegal."

A questão da Catalunha, segundo pesquisadores, decidirá a eleição, mas não a crise econômica, que ainda não foi superada. A Espanha experimentou uma crise bancária e imobiliária de 2009 a 2013, a economia está crescendo novamente, mas a taxa de desemprego, de 13,9%, ainda está bem acima da média da UE.

Os partidos regionais da Catalunha podem ser os fiéis da balança na hora de se formar uma coalizão de governo. O socialista Sánchez havia derrubado o primeiro-ministro conservador Rajoy com a ajuda desses votos. Mas agora os partidos dissidentes catalães recusaram-se a dar a Sánchez seus votos para aprovar o orçamento, o que, por sua vez, levou à convocação de novas eleições.

Oriol Junqueras, chefe do mais moderado Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), está em prisão preventiva em Madri, de onde organiza a campanha eleitoral da legenda. Ele foi processado devido ao referendo sobre independência, mas provavelmente continuaria formando uma coalizão com os socialistas.

Líder de direita Santiago Abascal Conde, do Vox: contra "direitos femininos exagerados" e cultura gay "excessiva"Foto: Getty Images/AFP/C. Quicler

O primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez, poderia se unir aos esquerdistas do Podemos e aos catalães. O chefe do Partido Popular, que deve perder muitos votos para os populistas de direita do Vox, se uniria ao Vox e ao liberal Ciudadanos. Ainda não está claro se um dos campos consegue alcançar a maioria. "Esses dois campos se bloqueiam mutuamente, porque excluem uma coalizão de centro", avalia Torreblanca. O chefe do Ciudadanos, Albert Rivera, não quer de modo algum se unir ao socialista Sánchez, o qual acusa de dissolver e trair o Estado central espanhol.

Nenhum dos partidos fez da União Europeia um tema de campanha, pois a oposição a Bruxelas não mobiliza votos na Espanha. "Os espanhóis não veem a Europa como um inimigo. Por isso eles não querem controvérsias em torno da integração europeia. Nesse ponto a Espanha é como uma ilha no mar de euroceticismo e eurofobia dos outros países", diz Ignacio Torreblanca, do Conselho Europeu Relações Exteriores.

Mas é possível que a dívida da Espanha em breve volte a crescer muito acima do tolerável, já que todos os partidos prometem cortes de impostos e mais gastos, e nenhum fala do elevado peso do sistema previdenciário. O déficit orçamentário ainda está em 2,5% do PIB anual.

O comissário europeu para Assuntos Financeiros, Pierre Moscovici, ainda não está preocupado com a Espanha. "Não comento promessas de campanha", afirmou ao jornal El Pais, "o crescimento espanhol é robusto". Até agora, tanto o governo conservador quanto o socialista mostraram políticas fiscais responsáveis. "Se isso continuar assim, será possível liberar a Espanha do processo sobre déficit excessivo da UE, em que o país entrou dez anos atrás", prometeu Moscovici três dias antes da eleição.

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Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.
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