Réu por improbidade, ex-diretor da PRF se aposenta aos 47
23 de dezembro de 2022
Silvinei Vasques pediu voto para Bolsonaro durante a campanha eleitoral, o que é proibido. Ele também teria promovido operações da PRF no segundo turno e é suspeito de leniência durante bloqueios ilegais em rodovias.
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O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, teve aposentadoria voluntária concedida pela corporação. Depois de ter sido exonerado do cargo na última terça-feira, ele foi aposentado um dia depois, fato que só veio a público nesta sexta-feira (23/12), em publicação no Diário Oficial da União.
A aposentadoria é integral, e ele receberá o mesmo salário que ganhava na ativa.
Vasques tem 47 anos e integrava a PRF desde 1995. Com 27 anos de corporação, ele pode se aposentar por tempo de contribuição, ao beneficiar-se da regulamentação da época em que entrou para a PRF, ou seja, o possível encerramento da carreira com 20 anos de atividade policial. Atualmente, a aposentadoria só pode ser concedida para quem tem 55 anos de idade e 25 anos de serviços.
O ex-diretor da PRF é investigado devido a três casos que ocorreram nas últimas eleições, todos relacionados a possíveis favorecimentos ao presidente Jair Bolsonaro (PL), excedendo, assim, suas atribuições na PRF.
O primeiro desses casos é por improbidade administrativa, por ter pedido votos para o presidente, o que não é permitido. Um dia antes do segundo turno, Vasques fez uma postagem em sua conta no Instagram na qual declarou que votaria em Bolsonaro.
Após a repercussão, o post foi apagado. Antes disso, porém, viralizou nas redes sociais: a imagem continha uma bandeira do Brasil com o texto "vote 22. Bolsonaro presidente".
O segundo motivo pelo qual Vasques é investigado deriva das operações feitas pela PRF na manhã do segundo turno da eleição, dia 30 de outubro, para fiscalizar supostos transportes ilegais de pessoas.
As ações foram executadas mesmo após proibição imposta pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que impedia a atuação da PRF no dia da eleição.
As barreiras só foram desmontadas depois que Vasques e Moraes se encontraram na tarde de domingo, dia do pleito, com o juiz pedindo o encerramento das fiscalizações.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, até as 12h35min daquele dia a PRF já havia realizado 514 operações em ônibus. Essas ações causaram diversos atrasos e lentidão em rodovias.
Suposta omissão em bloqueios
A terceira razão pela qual Vasques é investigado diz respeito a uma suposta leniência da PRF em relação aos bloqueios protagonizados por bolsonaristas radicais em rodovias de todo o país nos dias que se seguiram ao pleito.
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Insatisfeitos com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), partidários de Bolsonaro trancaram diversas estradas. No auge dessas manifestações ilegais, foram registrados mais de 400 pontos de bloqueios em praticamente todos os estados brasileiros.
Dois dias após a votação, em 1º de novembro, Moraes determinou que as polícias militares dos estados possuíam plenas atribuições constitucionais e legais para atuar na desobstrução de rodovias, inclusive as federais. Foi somente após essa decisão que governadores e polícias passaram a agir na liberação dos bloqueios.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), que também acusa Vasques de violar princípios da administração pública, a atuação da PRF no episódio dos bloqueios denota "não apenas a ausência de providências da Polícia Rodoviária Federal diante das ações ilegais dos manifestantes, mas até declarações de membros da corporação em apoio a manifestantes, como se fosse essa a orientação recebida dos órgãos superiores da instituição".
gb (ots)
A história das eleições presidenciais no Brasil
A história das eleições presidenciais no Brasil
Foto: Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP
1989: a primeira eleição direta da redemocratização
Os brasileiros voltaram a escolher diretamente um presidente depois de 27 anos. Um total de 22 candidatos se apresentou – até hoje um recorde. O pleito foi marcado por debates na TV e acusações de manipulação jornalística. Fernando Collor, filiado a um partido nanico, largou na frente ao se apresentar como “caçador de marajás”. No final, Collor derrotou o líder sindical Lula (PT) no 2° turno.
Foto: Radiobras/Roosewelt Pinheiro
1994: o início da era tucana
No início de 94, o pleito tinha um favorito: Lula. No entanto, alguns meses antes da eleição foi lançado o Plano Real, bem-sucedido em conter a inflação. A popularidade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos autores do plano, disparou. Lula, que havia criticado o real, afundou nas pesquisas. FHC acabou vencendo a eleição ainda no 1° turno. Era o início de oito anos de hegemonia do PSDB.
Foto: Acervo FHC
1998: a reeleição entra em cena
Em 1997, foi aprovada a emenda da reeleição– com denúncias de compra de votos –, abrindo caminho para FHC disputar mais um mandato. Mais uma vez seu adversário foi Lula, que indicou Leonel Brizola, seu antigo rival na esquerda, como vice. Durante a campanha, o governo omitiu que o real estava sobrevalorizado. FHC foi eleito no 1° turno. Depois da posse, o real sofreu uma desvalorização recorde.
Foto: Acervo FHC/Secretaria de Imprensa
2002: o início da hegemonia petista
Lula chegou à eleição com uma nova imagem: se comprometeu a apoiar o plano real, nomeou um empresário como vice e recorreu a marqueteiros. A estratégia para acalmar o mercado deu certo. Ciro Gomes chegou a despontar em segundo lugar, mas afundou após uma série de declarações que repercutiram mal. No final, Lula derrotou o candidato do governo FHC, José Serra, no segundo turno, com 61% dos votos.
Foto: Agência Brasil/M. Casal Jr.
2006: escândalos não impedem reeleição de Lula
Lula se candidatou novamente após a eclosão do escândalo do Mensalão. Parecia destinado a vencer no 1° turno, mas a prisão de assessores do PT na reta final abalou sua campanha. No 2° turno, os petistas contra-atacaram. Rotularam o tucano Geraldo Alckmin de privatista e de ser contra o Bolsa Família. Alckmin acabou recebendo menos votos no 2° turno do que na primeira rodada, e Lula foi reeleito.
Foto: Instituto Lula/R. Stuckert
2010: a primeira presidente mulher
Com alto índice de popularidade, Lula apresentou Dilma Rousseff como candidata à sucessão. Os tucanos voltaram a lançar José Serra, e a ex-ministra Marina Silva disputou pela primeira vez. A campanha de Serra tentou encurralar Dilma ao acusá-la de ser favorável ao aborto. No final, pesou a popularidade de Lula, e a petista ganhou no 2° turno, se tornando a primeira mulher a chegar à Presidência.
Foto: Agência Brasil/W. Dias
2014: a campanha mais cara e acirrada
Nova polarização entre PSDB e PT: Dilma disputou um novo mandato com Aécio Neves. Após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva entrou na corrida, mas desabou nas pesquisas após ataques do PT. Dilma foi reeleita com apenas 3,28 pontos percentuais a mais que Aécio no 2° turno. A petista e o tucano gastaram R$ 570 milhões - com muitas doações de empresas acusadas de corrupção na Lava Jato.
Foto: Reuters/R. Moraes
2018: polarização entre PT e Bolsonaro
Após uma campanha que acirrou ânimos e dividiu o país, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). A vitória do ex-capitão defensor do regime militar marcou a volta da extrema direita brasileira ao poder e representou um fracasso para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesse pleito estava preso por corrupção e impedido de se candidatar.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
2022: inédita disputa entre presidente e ex-presidente
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas são o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos. Bolsonaro ampliou benefícios sociais às vésperas da campanha e vem questionando o sistema eleitoral. Já Lula busca aliança ampla contra extrema direita e capitalizar sua experiência anterior no governo.