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Rússia é alvo de onda de ameaças falsas de bomba

Emily Sherwin ek
15 de setembro de 2017

Dezenas de prédios são evacuados no país após série de ligações anônimas alertando sobre possíveis ataques. Autoridades investigam motivação dos trotes, em meio a especulações.

Russland Moskau Evakuierungen nach Bombendrohungen
A loja de departamento GUM, em frente à Praça Vermelha, em Moscou, foi um dos alvos de ameaçaFoto: Getty Images/AFP/V. Maximov

Katya caminhava diante da icônica loja de departamento GUM, em frente à Praça Vermelha, em Moscou, quando se deparou com um policial bloqueando a passagem. "No começo não entendi por que não podia seguir em frente. O policial apenas disse: 'Você não pode passar, a rua está fechada'. Perguntei por quê, mas ele não respondeu", contou a testemunha, que vira pessoas deixando a loja.

O prédio da GUM foi um dos mais de 70 em Moscou que precisaram ser esvaziados nesta quarta-feira (13/09) após uma onda de ameaças de bomba – todas alarmes falsos, concluíram investigações posteriores. De acordo com a agência de notícias russa Interfax, mais de 100 mil pessoas tiveram de deixar às pressas edifícios da capital russa em meio às ameaças.

Ao todo, Moscou recebeu 65 ligações anônimas nesta quarta-feira, segundo a Interfax. Além da GUM, outros centros comerciais foram esvaziados, bem como três estações de trem e quatro universidades.

As chamadas, no entanto, não aconteceram apenas em Moscou. Elas fazem parte de uma onda de ameaças de bomba que já afetou cinemas, hotéis, aeroportos e prédios administrativos em todo o país desde domingo. Os primeiros alertas foram relatados na cidade siberiana de Omsk, e entre segunda e terça-feira as ameaças se espalharam por vários municípios do país – de Petrozavodsk, perto da fronteira com a Finlândia, a Vladivostok, próximo ao Japão.

Nesta quinta-feira, ao menos oito escolas em Moscou foram esvaziadas. Em São Petersburgo, vários centros comerciais e um prédio do governo também tiveram que ser liberados após ameaças por telefone.

Segundo relatos, as chamadas foram feitas através da internet, diretamente para o prédio que seria supostamente atacado ou para os bombeiros. Autoridades deram início a uma investigação criminal para apurar a questão. Trotes envolvendo atos terroristas podem levar a até cinco anos de prisão.

Autoridades russas mantiveram silêncio sobre o caso. Nesta quinta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o presidente Vladimir Putin foi informado sobre os trotes, os quais descreveu como "terrorismo telefônico". Ele disse que os órgãos competentes estão tomando todas as medidas necessárias, mas se recusou a comentar as várias teorias especuladas pela imprensa russa.

Vários centros comerciais do país foram evacuados após as ameaçasFoto: Imago/instagram.com/el_baron_de_fon_wo

Rumores sobre a motivação

Os possíveis motivos para as ameaças falsas são tão diversos quanto as cidades afetadas. Nesta quinta-feira, uma testemunha afirmou à agência de notícias Ria Novosti que alguém no exterior ligado ao grupo "Estado Islâmico" estaria por trás das ligações. "A investigação é dificultada porque aqueles que organizaram e realizaram esses atos criminosos usam ativamente serviços de mensagens criptografadas", disse a testemunha.

O portal de notícias RBC e a Interfax publicaram que as ligações – ou pelo menos muitas delas – foram feitas pela internet a partir de um território na Ucrânia. Em 2014, após a anexação da península da Crimeia pela Rússia, separatistas ucranianos apoiados por Moscou iniciaram uma guerra no leste do país contra o governo em Kiev. O conflito já deixou milhares de mortos.

Segundo o site RBC, o serviço secreto russo FSB já teria descoberto a origem das chamadas e anunciará em breve a caçada por um suspeito. De outro lado, vários veículos da imprensa russa, citando fontes locais, alegaram que as evacuações nos últimos dias no país não passaram de treinamentos antiterrorismo.

Aleksandr Kalinin, líder do movimento "Estado cristão – Rússia santa", tem outra teoria, um tanto peculiar: ao site de notícias russo Meduza, ele afirmou que a onda de evacuações pode estar ligada a uma tentativa de impedir cinemas do país de exibirem o filme Matilda – um longa controverso que retrata a paixão proibida entre Nicolau 2º, último czar da Rússia, e uma bailarina.

Fiéis da Igreja Ortodoxa alegam que o filme mancha a honra do czar, canonizado em 2000. Esta semana, após uma onda de indignação, duas grandes redes de cinema anunciaram que não pretendem exibir Matilda.

Kalinin, por sua vez, afirmou que seu movimento recebera uma carta no fim de semana passado, alertando sobre a existência de pessoas interessadas em desestabilizar a Rússia por meio de chamadas telefônicas por conta do lançamento do filme, com estreia prevista apenas para outubro.

Até o momento, autoridades não encontraram qualquer bomba na Rússia. Os residentes do país, portanto, não têm outra escolha a não ser manter a calma à medida que as evacuações continuam.

Katya, a testemunha de Moscou, descreveu o clima durante a evacuação da loja de departamento GUM. "Tudo estava calmo. Eu acredito que seja porque todos leram que [outros prédios] estavam sendo evacuados, também. Em Moscou não haverá pânico por causa disso", afirmou.

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