Rússia amplia sanções a países da UE no caso Navalny
22 de dezembro de 2020
Moscou convoca representantes diplomáticos de Alemanha, França, Suécia e UE, em retaliação a medidas impostas por Bruxelas. Opositor envenenado disse ter obtido confissão de agente russo sobre tentativa de assassinato.
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A Rússia estendeu suas sanções contra alguns países da União Europeia (UE) nesta terça-feira (22/12), em retaliação às sanções impostas por Bruxelas a Moscou no caso do dissidente russo Alexei Navalny.
"Essas sanções serão contra autoridades importantes nos escritórios de líderes alemães e franceses", disse o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, em comentários transmitidos pela agência estatal de notícias TASS. "Na lista estão aqueles que participaram da instigação da atividade sancionatória antirrussa dentro da UE."
Representantes diplomáticos de França, Alemanha, Suécia e União Europeia foram convocados ao Ministério do Exterior da Rússia nesta terça-feira.
Segundo a nota oficial, as sanções respondem ao "princípio da reciprocidade", e os altos funcionários dos países europeus afetados serão proibidos de entrar no território da Federação Russa. O Ministério do Exterior russo insistiu que "ações hostis por parte dos países ocidentais receberão agora uma resposta adequada".
"Consideramos categoricamente inaceitável a adoção pela UE [...] de medidas restritivas ilegais em relação a vários de nossos compatriotas com a desculpa de sua suposta participação no incidente com o cidadão russo Navalny", disse a nota.
Moscou afirmou que os iniciadores das sanções europeias não apresentaram "provas" para a Rússia, tampouco para outros países-membros da UE.
"Como a Alemanha foi a força motriz por trás das sanções da UE no caso Navalny e como essas sanções afetam diretamente os dirigentes do gabinete presidencial russo, nossas sanções serão como um espelho", explicou Lavrov.
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Laboratórios atestam envenenamento
Em resposta, o Ministério do Exterior da Alemanha afirmou nesta terça-feira que considera "injustificadas" as retaliações do Kremlin. "Apesar de contramedidas deste tipo já terem existido no passado, elas são, do ponto de visto do governo alemão, injustificadas."
O opositor russo de 44 anos tem sido um dos maiores críticos domésticos do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Navalny organizou diversos protestos contra Putin, a quem ele acusa de perpetuar a corrupção enraizada no país.
Em agosto, Navalny foi extraditado por médicos para a Alemanha após ficar criticamente doente durante uma viagem em que foi fazer campanha para políticos da oposição na cidade siberiana de Tomsk. Em Berlim, Navalny foi tratado no Hospital Charité.
Laboratórios alemães, franceses e suecos atestaram que Navalny foi envenenado com o agente neurotóxico Novichok, desenvolvido pela antiga União Soviética. Autoridades russas alegaram que não encontraram nenhuma evidência que apoie essa conclusão.
Navalny alega ter obtido confissão
Em novembro, a União Europeia impôs sanções a seis altos funcionários russos, incluindo Alexander Bortnikov, chefe do poderoso Serviço de Segurança Federal (FSB) da Rússia, uma espécie de sucessora da KGB soviética.
Poucos dias depois, Moscou sancionou representantes da Alemanha e da França, que haviam elaborado a lista dos russos sancionados.
E nesta terça-feira, a Rússia decidiu estender as sanções depois que na semana passada o site investigativo Bellingcat, em parceria com a revista alemã Der Spiegel, a emissora americana CNN e o próprio Navalny, denunciou um grupo de especialistas em armas químicas do FSB como responsável pela tentativa de envenenamento.
Além disso, na segunda-feira, Navalny publicou uma gravação na qual supostamente obteve uma confissão de um dos agentes do FSB que teria participado da operação secreta pelo seu assassinato, o químico Konstantin Kudriavtsev.
O Kremlin reagiu acusando Navalny de sofrer de "delírios de perseguição e sintomas de megalomania", e o FSB afirmou que a gravação de Navalny se trata de uma "falsificação e de uma provocação".
PV/afp/rtr/lusa/efe
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.