Putin ordena abertura de seis corredores para evacuação de civis da cidade síria. Governo russo apela para que rebeldes abandonem Aleppo por outras duas rotas e garante segurança. Trégua de dez horas será na sexta-feira.
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O governo russo anunciou nesta quarta-feira (02/11) uma nova trégua humanitária na cidade de Aleppo, na Síria, prevista para durar dez horas nesta sexta-feira. Intuito é evacuar os civis das áreas sitiadas, bem como permitir que grupos rebeldes deixem o bastião, cercado por forças russas e sírias.
Valery Gerasimov, chefe das Forças Armadas da Rússia, fez um apelo nesta quarta-feira para que os rebeldes aproveitem a trégua para abandonar a cidade. "Levando em conta que nossos colegas americanos são incapazes de separar a oposição dos terroristas, nós apelamos diretamente aos líderes de grupos armados para que cessem os combates e deixem Aleppo com suas armas", disse o oficial.
De acordo com Gerasimov, citado por agências de notícias internacionais, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou que suas forças abram oito corredores especiais para a passagem ilesa de civis e rebeldes durante o cessar-fogo, que deve durar de 9h às 19h, no horário local de Aleppo.
Dois corredores serão voltados para a saída de combatentes de grupos armados, "a fim de evitar uma perda sem sentido de vidas", informou o Ministério da Defesa. Uma das rotas será no norte da cidade, em direção à fronteira com a Turquia, e outra, no sudoeste, em direção à cidade síria de Idlib.
"Os outros seis corredores serão designados para a partida de civis e para a evacuação de pessoas feridas e doentes", acrescentou o chefe russo das Forças Armadas. Segundo ele, a Rússia e as tropas governamentais sírias "garantirão a segurança na retirada da população" nesta sexta-feira.
Gerasimov afirmou ainda que uma ofensiva lançada pelos rebeldes na semana passada na tentativa de romper o cerco russo e sírio à cidade de Aleppo fracassou. "Os terroristas sofreram grandes perdas em vidas, armas e equipamentos. Eles não têm chance de escapar da cidade", garantiu o militar.
Nesta quarta-feira, os rebeldes rechaçaram o apelo russo para que eles deixem a cidade. "Isso está completamente fora de questão. Não vamos desistir de Aleppo para os russos e não vamos ceder", disse à agência de notícias Reuters um combatente do grupo rebelde Fastaqim. Segundo ele, os corredores não garantem uma passagem segura, e os civis não confiam na palavra do governo.
Guerra síria
A Rússia apoia o presidente sírio, Bashar al-Assad, na guerra civil no país. A operação militar russa na Síria, agora em seu segundo ano, tem reforçado a posição de Assad. Isso colocou Moscou em rota de colisão com os Estados Unidos e seus aliados, que querem que o presidente saia do poder.
Tanto a Rússia como os sírios afirmam que não realizam bombardeios em Aleppo desde o último dia 18 de outubro. Enquanto isso, os governos ocidentais alegam que ataques da oposição têm matado grande quantidade de civis – uma alegação repetidamente negada pelo governo russo.
Tréguas humanitárias já foram organizadas por Moscou e Damasco anteriormente, mas fracassaram totalmente em meio à violência. Ambos os lados acusam o outro de impedir que as pessoas deixem Aleppo. A abertura de corredores não foi suficiente para que se pudesse levar ajuda humanitária a partes sitiadas da cidade ou fazer evacuação de civis, afirmou a Organização das Nações Unidas.
EK/ap/dpa/efe/rtr
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".