Moscou e Damasco irão interromper ataques por oito horas para permitir evacuação de civis, feridos e combatentes de região controlada por rebeldes. Para Estados Unidos e ONU, pausa humanitária deve ser mais longa.
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O Ministério russo da Defesa anunciou nesta segunda-feira (17/10) uma pausa humanitária de oito horas nos ataques a rebeldes na cidade síria de Aleppo. O cessar-fogo temporário valerá para os bombardeios conduzidos por Moscou e para as tropas do governo da Síria.
"Em 20 de outubro, das 8h até as 16h, na zona de Aleppo será declarada uma pausa humanitária", disse o general russo Sergei Rudskoi à imprensa local. O militar afirmou que o objetivo da ação é permitir "a passagem livre dos civis e a evacuação dos doentes e feridos, e também a saída dos combatentes" da parte leste da cidade, controlada pela oposição ao regime sírio.
Imagens de drones mostram Aleppo em ruínas
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Para a saída dos civis, aos quais o Exército russo garante "a total segurança, atendimento médico" e estadia em refúgios temporários, serão habilitados seis corredores, e para os combatentes, outros dois.
"O primeiro passa pela estrada de Castello, enquanto o outro atravessa o sul da cidade. Por ditos corredores, os combatentes podem ir para a zona de Idlib", acrescentou Rudskoi.
A Rússia decidiu anunciar a pausa humanitária depois das consultas no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a saída do grupo Frente al Nusra de Aleppo, proposta pelo enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.
Rudskoi também afirmou que o Frente al Nusra reforçou seus ataques contra as zonas residenciais da cidade, onde os civis que tentam deixar a região são fuzilados em execuções públicas sumárias.
Pouco tempo
As Nações Unidas, apesar de pediram um cessar-fogo humanitário de 48 horas, saudaram a iniciativa russa. "Qualquer diminuição da violência, dos confrontos, qualquer pausa que seja implementada é bem recebida", afirmou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric. "Claro que há a necessidade de uma pausa mais longa para podermos levar os comboios de ajuda humanitária", acrescentou.
Já o Departamento de Estado americano afirmou que o cessar-fogo humanitário anunciada, além de ser muito curto, é tardio. "Se o plano visa uma pausa de oito horas no sofrimento incessante da população de Aleppo, é um pouco tarde para isso", disse o porta-voz Mark Toner.
Desde a quebra do cessar-fogo humanitário, acordado internacionalmente, no mês passado, a Rússia e as forças do presidente Bashar al-Assad estão bombardeando intensamente regiões controladas por rebeldes em Aleppo.
Os Estados Unidos e alguns países europeus acusaram Moscou e Damasco de cometer atrocidades e crimes de guerra. A Rússia nega as acusações e afirma que o Ocidente está sendo cúmplice de terroristas.
CN/efe/rtr/afp
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".