Rússia assume presidência do Conselho de Segurança da ONU
1 de abril de 2023
Sob críticas da Ucrânia e desconfiança dos EUA, delegação russa irá gerir a agenda de trabalho e presidir as reuniões do mais alto órgão de decisão das Nações Unidas. Ucrânia fala em "piada de mau gosto".
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A Rússia assumiu neste sábado (01/04) a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU por um mês. Embora a responsabilidade seja majoritariamente de caráter formal, irritou o governo da Ucrânia, gerou apelo dos EUA para que o cargo seja cumprido com responsabilidade e pedidos de boicote por parte de organizações pró-Ucrânia.
Durante o mês de abril, a delegação russa ficará encarregada de gerir a agenda de trabalho e presidir as reuniões do mais alto órgão de decisão das Nações Unidas. A presidência da ONU é rotativa e a troca ocorre a cada mês, seguindo a ordem alfabética, em inglês, dos países-membros. A última vez que a Rússia ocupou o cargo foi em fevereiro de 2022 – justamente quando lançou sua guerra de agressão à Ucrânia.
Uma das principais vantagens do cargo é que a presidência pode organizar sessões especiais sobre assuntos que considere particularmente importantes e que frequentemente contam com a presença de membros do governo.
No caso da Rússia, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, deve viajar a Nova York para presidir pelo menos duas reuniões: uma focada no respeito à Carta das Nações Unidas e outra no conflito palestino-israelense, segundo adiantaram fontes diplomáticas.
A programação oficial, que será apresentada na segunda-feira, lista reuniões de rotina sobre os diversos conflitos e questões que o conselho trata, independentemente de quem esteja na presidência.
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Revolta da Ucrânia
Para a Ucrânia, apesar de tratar-se de um cargo protocolar, ver a Rússia no comando do órgão mais importante da ONU é "um tapa na cara da comunidade internacional", disse neste sábado o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba.
"Peço aos atuais membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas que impeçam qualquer tentativa da Rússia de abusar de sua presidência", escreveu Kuleba no Twitter.
De acordo com a emissora americana CNN, Kuleba também disse que a chegada da Rússia à presidência em 1º de abril foi a pior piada do Dia da Mentira de todos os tempos e mais uma evidência de que algo está errado na arquitetura de segurança internacional.
Anteriormente, Kuleba já tinha classificado a presidência russa do Conselho como "uma piada de mau gosto".
"A Rússia usurpou um assento, está travando uma guerra colonial, seu líder é um criminoso de guerra procurado pelo TPI [Tribunal Penal Internacional] por sequestrar crianças", escreveu Kuleba no Twitter, referindo-se à posição ucraniana de que Moscou teria herdado ilegalmente o assento da União Soviética e da recente decisão do TPI de solicitar a prisão do presidente russo, Vladimir Putin.
Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano Volodimir Zelenski, disse que isso representa um "golpe simbólico no sistema de relações internacionais baseado em regras".
"É muito revelador que no feriado de um Estado terrorista - Irã - outro estado terrorista - Rússia - comece a presidir o Conselho de Segurança da ONU", disse Yermak, referindo-se ao Dia da República Islâmica, celebrado no Irã.
Rússia pode ser excluída do conselho?
Em recente artigo de opinião, o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, destacou que a presidência do conselho dá poder real à Rússia e defendeu que haveria base legal para excluí-la dessa posição - e até mesmo para expulsá-la do Conselho de Segurança.
Essa interpretação, no entanto, se choca com a da maioria dos países, inclusive de potências ocidentais, que consideram que as normas não permitem tal medida.
Por enquanto, os países do Conselho não devem aceitar os pedidos de boicote lançados por algumas organizações pró-ucranianas e, podem, no máximo, optar por enviar diplomatas de baixo escalão para algumas das reuniões organizadas pela Rússia, afirmam fontes da diplomacia.
"Não acho que devamos dar grande importância a isso", disse esta semana um diplomata ocidental que pediu anonimato e estava convencido de que a Rússia exercerá a responsabilidade de maneira "profissional".
Na sexta-feira, Kremlin disse que a Rússia planeja exercer todos os direitos conferidos pelo papel.
Os Estados Unidos exortaram a Rússia a "se comportar profissionalmente" enquanto ocupa o cargo, mas disseram que não havia como impedi-la de assumir a presidência.
"Infelizmente, a Rússia é um membro permanente do Conselho de Segurança e não há nenhuma via legal internacional viável para mudar isso", disse um porta-voz da Casa Branca.
O Conselho de Segurança da ONU é composto por 15 países. Cinco deles – China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos – são membros permanentes com direito de veto. Outros 10 países ocupam assentos não permanentes, com mandatos de dois anos. Os atuais membros não permanentes são: Albânia, Brasil, Gabão, Gana, Emirados Árabes Unidos, Equador, Japão, Malta, Moçambique e Suíça.
A Rússia recebeu a presidência de Moçambique e passará o mandato para a Suíça em maio.
le (AFP, EFE, ots)
Bakhmut: a "fortaleza do Donbass" na linha de frente da guerra
Antes da invasão russa, Bakhmut tinha 70 mil moradores. Intensos combates entre tropas russas e ucranianas causaram mortes e destruição na estratégica cidade do Donbass, mas nem todos os civis a abandonaram.
Foto: LIBKOS/AP Photo/picture alliance
A cidade antes da destruição
Esta foto, tirada na primavera europeia de 2022, mostra murais com o tema "Família e Crianças" em Bakhmut. Em maio, a linha de frente da guerra chegou à cidade, e os tiros e bombardeios aéreos começaram. Muitas casas foram seriamente danificadas.
Foto: JORGE SILVA/REUTERS
"Você se sente um sem-teto"
Blocos de apartamentos no leste de Bakhmut foram os primeiros a serem atingidos por ataques russos. Hoje, os bairros se assemelham aos da cidade portuária destruída de Mariupol. "Você se sente um sem-teto, perdemos tudo. Não há para onde voltar", disse uma moradora chamada, Halyna, retirada de Bakhmut e cuja casa foi totalmente destruída.
Foto: Aris Messinis/AFP/Getty Images
Escola em ruínas
Dois professores de Bakhmut se abraçam em frente às ruínas de sua escola. Ela foi bombardeada pelo exército russo em 24 de julho de 2022. O prédio ficou bastante danificado. Não houve mortos ou feridos no ataque.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Patrimônio cultural em pedaços
O bombardeio russo causou a destruição de muitos prédios históricos importantes em Bakhmut, incluindo o Palácio da Cultura, a antiga casa particular do comerciante Polyakov da década de 1880 e o antigo ginásio para meninas. Edifícios mais modernos, que já foram o "cartão de visitas" de Bakhmut, também foram destruídos.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Preparativos para a retirada
Oleksandr Hawrys faz os preparativos finais para transferir a esposa e dois filhos de Bakhmut para Kiev. Em 7 de março de 2023, menos de 4 mil pessoas ainda estavam na cidade, que antes da guerra tinha 73 mil habitantes.
Foto: Metin Aktas/AA/picture alliance
Só ficaram os solteiros e os mais fracos
Mais de 90% dos residentes deixaram Bachmut e arredores. Por meses, algumas lojas e uma farmácia ainda funcionaram durante momentos de trégua. Instituições de caridade e voluntários levaram ajuda humanitária aos moradores da cidade.
Foto: ANATOLII STEPANOV/AFP/Getty Images
Eles resistem, apesar de tudo
A grávida Olha e seu marido, Wlad, em 28 de janeiro de 2023 em frente a um abrigo antiaéreo em Bakhmut. O casal está entre os poucos civis que permaneceram na cidade, apesar dos violentos combates. Atualmente, para entrar em Backmut é preciso um passe especial.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Viver sob medo constante
A aposentada Valentyna Bondarenko, de 79 anos, olha pela janela de seu apartamento em Bakhmut, em agosto de 2022. Por causa dos bombardeios sem fim e do perigo constante, muitos moradores de Bakhmut permanecem em porões e abrigos de emergência por meses.
Foto: Daniel Carde/Zumapress/picture alliance
O dia a dia num porão
"Estamos acostumados aos zumbidos e explosões", disse Nina, de Bakhmut, à DW. Suas filhas foram "para a Europa", mas ela e o marido pretendem ficar enquanto o exército ucraniano estiver na cidade. Se a situação piorar, eles querem deixar a cidade "para não perturbar os militares quando o inimigo se esconder atrás das casas".
Foto: Oleksandra Indukhova/DW
Na fila pela ajuda humanitária
A situação humanitária na cidade piorou, principalmente nos últimos meses de 2022, depois da ofensiva das tropas russas de 1º de agosto. A rede elétrica foi danificada pelos ataques e bombardeios. O abastecimento de alimentos se tornou difícil, e a telefonia móvel entrou em colapso. Até voluntários foram atacados.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Batalhas de artilharia pesada
As principais batalhas por Bakhmut são travadas entre unidades de artilharia. Segundo estimativas militares, quase toda a gama de artilharia e morteiros fica nesta área. Bakhmut é fortemente atacada por unidades do exército privado russo Grupo Wagner. Os militares ucranianos continuam resistindo aos ataques.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Bandeira ucraniana de Bakhmut no Congresso dos EUA
Em 20 de dezembro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou soldados ucranianos perto de Bakhmut. De lá, ele levou uma bandeira ucraniana, que deu à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, dois dias depois, durante sua visita ao Congresso dos Estados Unidos. A bandeira traz as assinaturas de soldados que defendem a soberania da Ucrânia nas linhas de frente.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Tratamento dos feridos em Bakhmut
As principais tarefas dos médicos militares no front são estabilizar os feridos, prevenir mortes por perda de sangue e choque e, em casos graves, garantir o transporte para hospitais de áreas mais seguras no interior do país.
Foto: Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance
Cidade está 80% em ruínas
A foto é dos últimos dias de dezembro de 2022. A fumaça sobe sobre as ruínas de casas nos arredores de Bakhmut. De acordo com as autoridades locais, em março de 2023 os violentos combates já haviam destruído mais de 80% da área habitacional da cidade.
Foto: Libkos/AP/picture alliance
Destruição registrada por satélite
Uma imagem de satélite divulgada pela Maxar em 4 de janeiro de 2023 mostra a extensão da destruição em Bakhmut. "A cidade tem sido o centro de intensos combates entre as forças russas e ucranianas nos últimos meses, e as imagens mostram danos significativos em prédios e infraestrutura", informou a empresa aeroespacial.
Foto: Maxar Technologies/picture alliance/AP
Cidade-fantasma
Esta foto de 13 de fevereiro de 2023, tirada por um drone da agência de notícias AP, mostra a extensão da destruição causada pelos combates. Fileiras inteiras de casas foram destruídas, apenas as paredes externas e as fachadas danificadas ainda estão de pé. Telhados, tetos e pisos desmoronaram, e a neve se acumula dentro das ruínas.
Foto: AP Photo/picture alliance
"Fortaleza Bakhmut"
Um soldado ucraniano diante de uma pichação no centro da cidade que diz "Bakhmut ama a Ucrânia". Embora a liderança política e militar da Ucrânia tenha decidido continuar defendendo o lugar, a Otan não descarta que Bakhmut possa cair, embora isso não signifique necessariamente uma virada na guerra.