Rússia teria aumentado uso de armas químicas na Ucrânia
4 de julho de 2025
Agências de inteligência da Alemanha e Holanda afirmam ter evidências do emprego sistemático por tropas russas de agente usado na Primeira Guerra Mundial. Cloropicrina seria jogada em trincheiras para expulsar soldados.
Uso de gás lacrimogêneo e cloropicrina por tropas russas teria se tornado uma prática padrãoFoto: Anatolii Lysianskyi/127th Territorial Defence Brigade/AFP
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A Rússia estaria usando cada vez mais armas químicas nos ataques à Ucrânia, afirmaram nesta sexta-feira (04/07) o Serviço Federal de Inteligência da Alemanha (BND) e os Serviços de Informações e Segurança Militar (MIDV) e de Informações e Segurança Geral (AIVD) da Holanda. A substância empregada é a cloropicrina, que pode ser letal em altas concentrações em espaços fechados.
Segundo os serviços secretos, há evidências de quer os militares russos estão lançando com drones um asfixiante para expulsar os soldados ucranianos de suas trincheiras. "A conclusão mais importante é que podemos confirmar que a Rússia está intensificando o uso de armas químicas", afirmou o ministro da Defesa holandês, Ruben Brekelmans.
A cloropicrina foi usada pela primeira vez na Primeira Guerra Mundial, e ficou conhecida como Cruz Verde, porque os projéteis carregados com este tipo de agente eram marcados com uma cruz verde. É uma substância asfixiante, que pode causar dificuldade de respirar ou falta de ar, irritação grave na pele, nos olhos e no trato respiratório. Se ingerida, pode causar queimaduras na boca e no estômago, náuseas e vômito.
O BND destacou que a situação representa uma grave violação da Convenção sobre Armas Químicas, um tratado que entrou em vigor em 1997 e que proíbe o uso agentes pulmonares em todas as circunstâncias. Além da cloropicrina, foi identificado também o emprego de gás lacrimogêneo no conflito, também proibido.
Os serviços secretos afirmaram ainda que o uso de gás lacrimogêneo e cloropicrina por tropas russas se tornou uma prática padrão. As agências disseram também que a Rússia está investindo pesadamente em seu programa de armas químicas, com a contratação de novos cientistas e a expansão de projetos de pesquisa.
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Primeiros relatos de maio de 2024
Em maio do ano passado, os Estados Unidos e o Reino Unido acusaram pela primeira vez a Rússia de usar cloropicrina nos ataques. Moscou, porém, alegou que foi descoberto com o uso de explosivos um esconderijo ucraniano no leste do país da substância. A Ucrânia negou as alegações.
Em 2004, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) declarou as acusações feitas pelos dois países como "insuficientemente fundamentadas". O ministro do Exterior holandês, Caspar Veldkamp, afirmou que a Holanda vai abordar a questão na reunião da próxima semana da Opaq e disse que as conclusões dos serviços secretos serão compartilhadas nesse encontro. "É importante mostrar à comunidade internacional como a Rússia atua", afirmou.
De acordo com Brekelmans, pelo menos três mortes na Ucrânia estão ligadas ao uso de armas químicas, enquanto mais de 2.500 soldados feridos no front relataram sintomas compatíveis com o uso desse tipo de armamento.
O Ministério da Defesa da Ucrânia afirma que a Rússia já utilizou agentes químicos contra tropas ucranianas mais de 9 mil vezes.
A estação pública neerlandesa NOS noticiou que, de acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, a substância foi utilizada em 9.000 ataques contra soldados ucranianos, nos quais o gás causou pelo menos três mortes.
cn (dpa, Reuters, AFP, Lusa)
Drogas com passado alemão
Muitos entorpecentes produzidos hoje em laboratórios clandestinos espalhados pelo mundo são criações de cientistas, militares e empresas da Alemanha.
Na Segunda Guerra
Nas campanhas na Polônia, em 1939, e na França, em 1940, Hitler enviou soldados drogados para o front. Na ocupação da França, teriam sido dados às tropas 35 milhões de comprimidos de Pervitin, que tinha o apelido de "chocolate de tanque" ou "pílula de Hermann Göring". A substância ativa, metanfetamina, é um estimulante do sistema nervoso central. Mas também os Aliados dopavam seus soldados.
Foto: picture-alliance/dpa-Bildarchiv
Alerta, destemido e sem fome
A droga foi produzida por um japonês, inicialmente em forma líquida. Químicos da fábrica berlinense Temmler aperfeiçoaram o produto e o patentearam em 1937. Um ano mais tarde o medicamento era lançado no mercado. Ele era usado contra cansaço, sensação de fome e sede e medo. Hoje em dia, o Pervitin é comercializado ilegalmente sob novo nome: Crystal Meth.
High Hitler?
Historiadores divergem se Adolf Hitler era dependente de Pervitin. Nas anotações de seu médico pessoal, Theodor Morell, aparece um "X" com frequência. Nunca foi esclarecido o que ele significa. Sabe-se, no entanto, que Hitler recebia medicamentos fortes, a maioria provavelmente muito aquém das atuais leis de combate às drogas.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
"Milagrosa" heroína
A criatividade dos produtores de drogas na Alemanha já havia começado muito mais cedo. "Fim à tosse graças à heroína", era o slogan da fabricante alemã Bayer no final do século 19 para o seu sucesso de vendas. Em pouco tempo, a heroína passou a ser prescrita contra epilepsia, asma, esquizofrenia e doenças cardíacas, mesmo em crianças. Como efeito colateral, a Bayer apontava prisão de ventre.
Pai da aspirina e da heroína
O químico e farmacêutico Felix Hoffmann é celebrado especialmente como o inventor da aspirina. Sua segunda grande descoberta aconteceu quase por acaso, enquanto experimentava com ácido acético. Ele resolveu combinar este ácido com morfina, obtido do suco da papoula usada para produzir ópio, criando assim a heroína. O produto só se tornaria ilegal na Alemanha em 1971.
Cocaína para oftalmologistas
Já desde 1862, a alemã Merck fabricava cocaína, usada na época pelos oftalmologistas como anestésico local. Ao pesquisar folhas de coca da América do Sul, o químico Albert Niemann havia isolado um alcaloide, que chamou de cocaína. Niemann morreu pouco depois de sua descoberta, vítima de um problema pulmonar.
Foto: Merck Corporate History
Freud e cocaína
Sigmund Freud consumia cocaína para fins científicos. Em seus "Escritos sobre a cocaína", o pai da psicanálise escreveu que ela não traz inconvenientes. Segundo ele, a substância transmite euforia, energia para viver, e motiva a trabalhar. Seu entusiasmo, no entanto, acabou com a morte de um amigo por causa da droga. Naquele tempo, a cocaína era prescrita contra dor de cabeça e dor no estômago.
Foto: Hans Casparius/Hulton Archive/Getty Images
O barato do Ecstasy
Embora o americano Alexander Shulgin seja considerado o inventor da pílula Ecstasy, a receita para sua produção estava em mãos da fabricante alemã Merck. Em 1912, foi dada entrada para a patente de uma substância oleosa sem cor chamada metilenodioximetanfetamina (MDMA ). Na época, os químicos consideraram que ela não teria valor comercial.
Foto: picture-alliance/epa/Barbara Walton
Efeitos de longo prazo
Os efeitos destas descobertas são implacáveis. As Nações Unidas calculam que em 2013 morreram 190 mil pessoas no mundo devido ao consumo de drogas ilegais. Em relação a bebidas alcoólicas, que não são proibidas, os números são mais impressionantes: a Organização Mundial da Saúde estima que em 2012 5,9% de todos os casos de morte no mundo (3,3 milhões) foram uma consequência do consumo de álcool.