Rússia avança para descriminalizar violência doméstica
14 de janeiro de 2017
Segundo projeto de lei, só quando o agressor voltar a bater no mesmo familiar num prazo de um ano poderá ser acusado judicialmente. Estima-se que uma mulher morra a cada 40 minutos no país vítima de violência de gênero.
Anúncio
Bater num filho, mulher ou avô uma vez por ano, deixando hematomas e arranhões, vai deixar de ser crime na Rússia se for aprovada uma lei que, em grande parte, vai descriminalizar a violência doméstica. O projeto já passou nesta semana no Parlamento.
Só quando o agressor voltar a bater no mesmo familiar num prazo de um ano - e se o agredido provar os fatos - é que poderá ser acusado judicialmente e punido com prisão.
"As vítimas devem reunir todas as evidências de espancamento e ir a todos os locais em tribunal para provar. É um absurdo. O agredido deve investigar o seu próprio caso", diz o advogado especializado em violência de gênero Mari Davtian.
Na prática, diz o advogado, em 90% dos casos as vítimas não vão fazer qualquer denúncia, porque o procedimento é muito complicado e porque o agressor é alguém que está na própria casa.
Os autores da iniciativa são dois deputados e dois senadores do Rússia Unida, partido do presidente Vladimir Putin. Eles argumentam que só querem descriminalizar as agressões que não provoquem danos à saúde das vítimas.
Um hematoma ou uma ferida superficial, argumentam os defensores da lei, não provocam danos à saúde, porque são lesões que curam em pouco tempo.
"A descarada ingerência na família" pela justiça "é intolerável", disse Vladimir Putin, há três semanas, ao responder a um ativista que o questionou sobre a conveniência de acabar com uma lei que permite "prender um pai só porque deu umas palmadas num filho porque o mereceu".
Mas o artigo 116 do Código Penal, que a Rússia quer despenalizar, não se refere a bofetadas ou palmadas, mas a espancamentos que podem deixar lesões como hematomas, arranhões e feridas superficiais.
Uma mulher morre a cada 40 minutos na Rússia vítima de violência de gênero, um número oculto e silenciado num país dominado por valores ultraconservadores que toleram o machismo como parte da sua tradição.
Entre 12 mil e 14 mil mulheres foram mortas pelos maridos em 2008, segundo números divulgados pelo Ministério do Interior russo, que, desde então, apesar dos múltiplos pedidos de organizações internacionais, não revela os números da violência doméstica no país.
RPR/lusa/ots
Mulheres que sobreviveram ao ácido
A fotógrafa alemã Ann-Christine Woehrl retratou mulheres de vários países que foram vítimas de ataques com ácido ou com fogo. E descobriu nelas uma força incomum.
Foto: DW/M. Griebeler
Farida, de Bangladesh
O marido de Farida era viciado em drogas e no jogo. Ele perdeu tanto dinheiro que teve que vender a casa. Farida ameaçou deixá-lo. Nessa noite, enquanto ela dormia, ele derramou ácido sobre ela e trancou a porta com duas fechaduras. Ela gritou tão alto que os vizinhos vieram correndo. Eles tiveram que arrombar a porta.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Cicatrizes que ficam
Quando isso aconteceu, Farida tinha 24 anos. Desde então ela foi operada 17 vezes. Para manter as cicatrizes flexíveis, a mãe dela massageia regularmente as lesões. Farida mora com a irmã em Manigkanj, em Bangladesh. Ela não tem mais uma casa dela.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Flavia, de Uganda
Em 2009, Flavia foi atacada por um estranho em frente à casa dos pais. Ela não sabe até hoje quem ele era. Mas decidiu: a vida continua. Nesta foto, ela se arruma antes de ir para uma aula de salsa.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Apoio da família e amigos
Antes ela não saia de casa, mas agora dança uma vez por semana – e não dá tempo nem de recuperar o fôlego, pois é frequentemente convidada para dançar pelos homens. O que a ajudou muito foi o apoio da família e dos melhores amigos.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Neehari, da Índia
A indiana Neehari tentou, aos 19 anos, por desespero, tirar a própria vida. O marido a agredia física e emocionalmente.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Uma nova beleza
Neehari penteia o cabelo no quarto dos pais, onde ela pôs fogo em si mesma. Foi o último, o 49° palito de fósforo, que finalmente acendeu. Hoje ela tem coragem, uma tatuagem e sua própria organização, "Beleza das Mulheres Queimadas".
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Nusrat, do Paquistão
A paquistanesa Nusrat foi ataca com ácido pelo marido e pelo cunhado – e sobreviveu. Em seu quarto, ela termina de se arrumar para sair de casa. "Eu conheci muitas mulheres que realmente sabem usar o delineador com cuidado", comenta a fotógrafa Ann-Christine Woehrl.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Esperança à vista
Durante o ataque com ácido, Nusrat perdeu muito cabelo. Nesta foto, ela está em uma consulta médica. O médico a informa sobre os próximos passos. O primeiro transplante de cabelos já foi feito.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Entre amigos
Num encontro da Fundação para Sobreviventes de Ácidos, Nusrat tem a oportunidade de manter contato com outras mulheres. Aqui estão pessoas que entendem umas às outras. E todas percebem que não estão sozinhas.