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Rússia bombardeia leste ucraniano, em sinal de novo objetivo

9 de dezembro de 2022

Ataques concentrados indicam mudança de estratégia de Moscou, que agora teria como ambição apenas manter regiões já anexadas ilegalmente.

Casas destruídas
Lyman é uma das cidades ucranianas alvo dos russosFoto: Oleksandr Sawytskyj/DW

Autoridades ucranianas informaram nesta sexta-feira (09/12) que as forças russas bombardearam toda a linha de frente na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. A atitude reforça as especulações de que Moscou estaria reduzindo suas ambições com a invasão da Ucrânia, tentando manter agora apenas a maior parte do território que anexou ilegalmente em outubro.

Os combates mais violentos ocorreram perto das cidades de Bakhmut e Avdiivka, informou o governador da região, Pavlo Kyrylenko, em entrevista à televisão. Na quinta-feira, cinco civis foram mortos e dois ficaram feridos em partes de Donetsk controladas pela Ucrânia, devido a ataques russos.

"Toda a linha de frente está sendo bombardeada", disse Kyrylenko, acrescentando que as tropas russas também estão tentando avançar perto de Lyman, que foi recapturada pelas forças ucranianas em outubro, em um dos vários reveses no campo de batalha sofridos pela Rússia nos últimos meses.

Em Bakhmut e em outras partes da região de Donetsk vizinha à província de Lugansk, as forças ucranianas responderam com barragens de lançadores de mísseis, reportou uma testemunha à agência de notícias Reuters.

"Os russos intensificaram seus esforços em Donetsk e Lugansk", disse o conselheiro presidencial ucraniano, Oleksiy Arestovych. "Eles estão agora em uma fase muito ativa de tentar conduzir operações ofensivas. Não estamos avançando para lugar nenhum, mas defendendo, destruindo a infantaria e o equipamento do inimigo onde quer que ele tente avançar", acrescentou.

Em um relatório divulgado nesta sexta-feira, o estado-maior ucraniano disse que suas forças atacaram posições russas e pontos de concentração de tropas em pelo menos meia dúzia de cidades no sul da Ucrânia. Cerca de 240 russos teriam ficado feridos e três depósitos de munição e vários equipamentos militares teriam sido destruídos. A DW não pode verificar as informações de forma independente.

Mudança de objetivos

Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o presidente russo, Vladimir Putin, tem dado declarações conflitantes sobre os objetivos da guerra. No entanto, após mais de nove meses de conflito, está claro que as metas incluem a expansão das fronteiras da Rússia.

Isso contrasta com os comentários no início da "operação militar especial" - como se refere a Rússia sobre a guerra na Ucrânia - quando, em fevereiro, Putin disse que seus planos não incluíam a ocupação de terras ucranianas.

O presidente russo repetiu nesta sexta-feira sua acusação de que o Ocidente está "explorando" a Ucrânia e usando seu povo como "bucha de canhão" em um conflito com a Rússia. Segundo ele, o desejo do Ocidente de manter seu domínio global está aumentando os riscos de conflito.

"Eles deliberadamente multiplicam o caos e agravam a situação internacional", disse Putin em uma mensagem de vídeo para aliados.

Rússia quer fortalecer domínio na região de LuganskFoto: Stanislav Krasilnikov/TASS/picture alliance

O Kremlin disse na quinta-feira que estava decidido a garantir pelo menos a maior parte dos territórios no leste e no sul da Ucrânia – sinalizando que desistiria de retomar outras partes no oeste e nordeste que a Ucrânia recapturou.

 A Rússia anunciou a anexação de quatro províncias ucranianas em outubro, após a realização de referendos não reconhecidos nem pela Ucrânia nem pela comunidade internacional.

Embora a Rússia tenha deixado claro que deseja assumir o controle total de Donetsk e Lugansk - duas regiões de língua russa conhecidas coletivamente como Donbas -, não ficou claro quanto das regiões de Zaporíjia e Kherson estava anexando.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirma que suas tropas expulsarão a Rússia de todos os territórios capturados, incluindo da península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Troca de prisioneiros

Em um lembrete de que Moscou mantém linhas de comunicação com o Ocidente apesar da guerra, os Estados Unidos disseram que a Rússia libertou a jogadora de basquete americana Brittney Griner em troca da libertação do traficante de armas russo Viktor Bout.

No entanto, o Kremlin disse nesta sexta-feira que a troca de prisioneiros não deve ser vista como um passo para melhorar os laços bilaterais entre Moscou e Washington, afirmando que eles permanecem "em um estado lastimável".

A mídia estatal russa classificou a libertação de Bout como uma "vitória" política para Putin. A Casa Branca disse que a troca de prisioneiros não mudaria seu compromisso com o povo da Ucrânia.

A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou um projeto de lei de defesa na quinta-feira que fornece à Ucrânia pelo menos 800 milhões de dólares em assistência de segurança adicional no próximo ano.

Os Estados Unidos também estão se preparando para enviar à Ucrânia um pacote de ajuda militar de 275 milhões o de dólares, oferecendo novos recursos para derrotar drones e fortalecer as defesas aéreas.

Zelenski, em um discurso em vídeo na noite de quinta-feira, acusou as forças russas de deixarem nos territórios anteriormente ocupados minas terrestres, minas de tripwire, além de edifícios, carros e infraestruturas minadas.

"Isso talvez seja ainda mais feroz e desonesto do que o terror de mísseis", disse Zelenski, que prestou homenagem a quatro policiais mortos por minas terrestres na província de Kherson.

Tensão na usina de Zaporíjia

Também nesta quinta-feira, autoridades ucranianas informaram que forças russas instalaram vários lançadores de mísseis na usina nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia. A informação aumenta temores de que a maior usina nuclear da Europa possa ser usada como base para disparar, aumentando os riscos de radiação. A informação não pode ser verificada pela DW de forma independente.

A empresa nuclear ucraniana Energoatom disse em um comunicado que as forças russas que ocupam a usina colocaram vários lançadores de foguetes perto de um de seus seis reatores nucleares.

Embora um risco de colapso nuclear seja baixo, já que os seis reatores da usina foram desligados, especialistas consultados pela agências de notícias AP disseram que ainda há possibilidade de liberação perigosa de radiação.

le (Reuters, AP, ots)