Rússia bombardeia várias cidades em toda a Ucrânia
9 de março de 2023
Moscou usa mísseis hipersônicos em ataques que deixaram ao menos nove mortos. Infraestrutura civil ucraniana volta a ser alvo russo e usina nuclear de Zaporíjia fica novamente sem energia.
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A Rússia lançou intensos bombardeios em diferentes regiões da Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (09/03), matando ao menos nove pessoas e provocando quedas no fornecimento de eletricidade, com o desligamento da usina nuclear de Zaporíjia da rede elétrica do país.
Esse foi o maior ataque aéreo registrado no país desde meados de fevereiro. Os bombardeios interromperam o período mais prolongado de relativa calma, desde o início da campanha russa contra alvos da infraestrutura ucraniana, em outubro do ano passado.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, informou que dez regiões do país foram atingidas. Ele culpou os invasores russos por aterrorizarem a população civil. "É só o que conseguem fazer", afirmou. "Eles não conseguirão evitar a responsabilização por tudo o que têm feito."
Autoridades ucranianas informaram que os ataques atingiram a capital, Kiev, a cidade portuária de Odessa, no Mar negro, e a segunda maior cidade do país, Kharkiv, além de alvos a oeste do rio Dnipro e na região central da Ucrânia.
Um míssil matou ao menos cinco pessoas em uma casa num vilarejo próximo a Lviv, no extremo oeste do país, a cerca de 700 quilômetros das frentes de batalha. Outro civil foi morto em um ataque de mísseis na região central de Dnipro, e outros três teriam sido mortos por ataques de artilharia em Kherson.
Mísseis hipersônicos
Em Kiev, os moradores foram acordados no meio da noite por explosões. Os alertas de bombardeios soaram durante sete horas, o período mais longo desde o início dos ataques aéreos russos a alvos da infraestrutura civil do país.
O prefeito da capital ucraniana, Vitali Klitschko, relatou explosões no sudeste da cidade e disse que 40% da população estava sem energia elétrica e aquecimento.
O governador da região de Odessa, Maksym Marchenko, disse que mísseis russos atingiram instalações de energia e áreas residenciais. Em Kharkiv, o governo local afirmou que a cidade e a região foram atingidas por 15 ataques, inclusive contra alvos de infraestrutura.
As autoridades ucranianas dizem que os russos utilizaram no ataque seis mísseis hipersônicos Kinzhal, uma quantidade sem precedentes que suas defesas não têm condições de abater.
O Ministério russo da Defesa relatou que suas forças realizaram "ataques massivos de retaliação" após uma suposta ofensiva ucraniana na região russa de Bryansk, próximo à fronteira com a Ucrânia, no dia 2 de março, considerada um "ato terrorista" por Moscou. O órgão confirmou a utilização de mísseis Kinzhal nos bombardeios desta madrugada.
Observadores avaliam que Moscou possuiria somente algumas poucas dezenas desses mísseis hipersônicos, os quais o presidente russo, Vladimir Putin, costuma mencionar em seus discursos como uma arma para a qual a Otan não teria defesa.
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Usina de Zaporíjia novamente sem energia
Moscou alega que os bombardeios a infraestruturas distantes das frentes de batalha têm como objetivo reduzir a capacidade de combate dos ucranianos. Kiev, porém, afirma que esses ataques não possuem propósitos militares e teriam a intenção de intimidar os civis, o que constituiria em crime de guerra.
A Ucrânia disse que os ataques desta madrugada interromperam o fornecimento de energia da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que estaria desconectada da rede elétrica do país.
"A última linha de força entre a usina ocupada de Zaporíjia e o sistema energético ucraniano foi cortada em consequência dos ataques de mísseis", informou a empresa estatal ucraniana de energia Energoatom.
Segundo a empresa, esta seria a sexta vez que a usina foi desconectada da rede elétrica ucraniana desde a captura do local pelas forças russas no ano passado. A usina estaria funcionando por meio de geradores a diesel, que, segundo a Energoatom, seriam capazes de abastecer o local por dez dias.
A estatal russa de energia Rosenergoatom, porém, afirmou que tudo estaria dentro do normal em Zaporíjia. "Não há ameaça ou perigo de um incidente nuclear. Há combustível mais que suficiente e, se necessário, será fornecido à usina", disse o CEO da empresa, Renat Karchaa.
Russos e ucranianos se acusam mutuamente de arriscarem um potencial desastre nuclear em razão dos combates na região da usina.
rc/cn (Reuters, AFP)
Um ano de guerra da Ucrânia: uma linha do tempo em imagens
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em um ano de combates, milhares de soldados e civis perderam a vida. Relembre os fatos mais marcantes nesta linha do tempo.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP/Getty Images
Um dia sombrio para milhões
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, os ucranianos foram acordados por explosões como esta na capital, Kiev. A Rússia havia iniciado uma invasão em grande escala, marcando o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia imediatamente declarou a lei marcial. Estruturas civis passaram a ser atacadas e logo começaram a ser relatadas as primeiras mortes.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
Bombardeios impiedosos
O presidente russo, Vladimir Putin, insiste ainda hoje tratar-se de uma "operação militar especial" e que o objetivo é tomar as regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Moradores de Mariupol se abrigaram em porões por semanas. Muitos morreram sob os escombros. Um ataque aéreo russo em março a um teatro da cidade onde centenas se refugiavam foi condenado por grupos de direitos humanos.
Foto: Nikolai Trishin/TASS/dpa/picture alliance
Êxodo em massa
A guerra na Ucrânia forçou uma emigração nunca vista na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, mais de 8 milhões de pessoas fugiram do país. Só a Polônia acolheu 1,5 milhão de pessoas, mais do que qualquer outro Estado da UE. Milhões de pessoas, principalmente do leste e do sul da Ucrânia, foram forçadas a fugir.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP
Cenas de horror em Bucha
Após algumas semanas, o exército ucraniano conseguiu expulsar as forças russas de áreas no norte e nordeste do país. O plano da Rússia de sitiar Kiev fracassou. Depois que as regiões foram libertadas, a extensão das atrocidades tornou-se aparente. Imagens de civis torturados e assassinados em Bucha, perto de Kiev, deram a volta ao mundo. As autoridades relataram 461 mortes.
Foto: Carol Guzy/ZUMA PRESS/dpa/picture alliance
Devastação e morte em Kramatorsk
O número de vítimas civis em Donbass aumentou rapidamente. As autoridades pediram à população civil para recuar para áreas mais seguras, mas os mísseis russos também atingiram as pessoas enquanto tentavam escapar, inclusive em Kramatorsk. Mais de 61 foram mortos e 120 ficaram feridos na estação ferroviária da cidade em abril, quando milhares esperavam para fugir para um local mais seguro.
Durante os ataques aéreos russos, milhões de ucranianos buscaram refúgio em algum tipo de abrigo. Para as pessoas próximas às linhas de frente dentro do alcance da artilharia, os porões se tornaram segundos lares. Moradores de grandes cidades também buscaram abrigo dos mísseis. Em Kiev (foto) e em Kharkiv, as estações de metrô funcionam como locais seguros.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Alto risco nuclear em Zaporíjia
Nas primeiras semanas após a invasão, a Rússia ocupou uma grande área das regiões sul e leste da Ucrânia, inclusive as proximidades de Kiev. Os combates se espalharam para as instalações do complexo nuclear de Zaporíjia, no sudeste, que está sob controle russo desde então. A Agência Internacional de Energia Atômica enviou especialistas para a usina e pediu uma zona segura ao redor da instalação.
Foto: Str./AFP/Getty Images
Resistência desesperada em Mariupol
O exército russo manteve Mariupol sob cerco por três meses, impedindo o envio de munição e outros suprimentos. O complexo siderúrgico Asovstal era o último reduto ucraniano na cidade, abrigando milhares de soldados e civis. Depois de um ataque prolongado, em maio de 2022 milhares de soldados russos assumiram o controle da usina, capturando mais de 2 mil pessoas.
Foto: Dmytro 'Orest' Kozatskyi/AFP
Um símbolo de resistência
A Rússia conquistou a Ilha das Cobras, no Mar Negro, no primeiro dia da guerra. Um diálogo entre militares ucranianos e russos, na qual os ucranianos se recusaram a se render, se tornou viral. Em abril, os ucranianos afirmaram ter afundado o navio de guerra russo Moskva, uma das duas embarcações envolvidas no ataque à ilha. Em junho, a Ucrânia disse ter expulsado os russos da ilha.
Foto: Ukraine's border guard service/AFP
Número de mortos incerto
O número exato de mortos na guerra permanece incerto. Segundo a ONU, pelo menos 7.200 civis foram mortos e outros 12 mil, feridos – mas os números reais podem ser muito maiores. A quantidade exata de soldados ucranianos tombados também é incerta. Em dezembro, o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, estimou o número em até 13 mil. Estatísticas imparciais não estão disponíveis.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Divisor de águas para a Ucrânia
O envio de armas ocidentais à Ucrânia tem sido um assunto polêmico desde o começo da guerra, mas elas demoraram a chegar a Kiev. Os lançadores de foguetes Himars, fabricados nos EUA, foram uma ajuda decisiva. Eles permitiram que os militares ucranianos cortassem o abastecimento de munição para a artilharia russa e provavelmente também contribuíram para as contraofensivas bem-sucedidas da Ucrânia.
Foto: James Lefty Larimer/US Army/Zuma Wire/IMAGO
Alívio a cada libertação
No início de setembro, os militares ucranianos conduziram uma contraofensiva bem-sucedida em Kharkiv, no nordeste do país. Os russos, surpreendidos, recuaram rapidamente, deixando para trás equipamentos, munições e até evidências de supostos crimes de guerra. Os militares ucranianos também conseguiram libertar Kherson, no sul, e seus moradores comemoraram a chegada dos soldados ucranianos.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Explosão na ponte da Crimeia
No início de outubro, ocorreu uma grande explosão na ponte que a Rússia construiu sobre o Estreito de Kerch, ligando à Crimeia, península ucraniana que Moscou ocupa desde 2014. A ponte foi parcialmente destruída. A Rússia afirma que um caminhão da Ucrânia carregado de explosivos causou os danos, mas as autoridades em Kiev não assumiram a responsabilidade pelo ataque.
Foto: AFP/Getty Images
Ataques maciços à infraestrutura de energia
Poucos dias após a explosão na ponte da Crimeia, a Rússia começou a atacar em grande escala a infraestrutura de energia da Ucrânia. Quedas de energia ocorreram de Lviv a Kharkiv. Desde então, esses ataques se tornaram rotina. Devido aos enormes danos às usinas de energia e outras infraestruturas civis, as pessoas na Ucrânia enfrentam quedas de energia e escassez de água quase diariamente.
Foto: Genya Savilov/AFP/Getty Images
Apoio do mundo ocidental
Mensagens diárias por vídeo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em que ele relata a situação no país e sobre a guerra em andamento, são vistas por milhões de pessoas. Zelenski não só conseguiu unificar a população de seu país, mas também ganhou o apoio do Ocidente. A integração europeia progrediu muito sob a sua liderança, e a Ucrânia está a caminho da adesão à UE.
Foto: Kenzo Tribouillard/AFP
Esperando por tanques Leopard 2
A defesa da Ucrânia depende muito da ajuda externa. Um grupo de países liderado pelos EUA ofereceu um pacote de bilhões de dólares em ajuda humanitária, financeira e militar. O envio de artilharia pesada foi muito debatido no Ocidente, em grande parte devido a preocupações com a reação da Rússia. Mas a Ucrânia acabará recebendo tanques ocidentais, em sua maioria Leopard 2, de fabricação alemã.
Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images
Uma cidade em ruínas
Há meses, batalhas sangrentas acontecem em Bakhmut, na região de Donetsk. Desde que as tropas ucranianas perderam o controle do vilarejo de Soledar no início de 2023, defender a cidade tornou-se ainda mais difícil. Em janeiro, o serviço secreto da Alemanha relatou perdas diárias de três dígitos do lado ucraniano. Mas acredita-se que o número de mortos na Rússia seja ainda maior.