Rússia deporta alemão acusado de "propaganda LGBT"
2 de maio de 2023
Professor de 40 anos foi punido após tentar marcar encontro com um homem de 25 anos. Lei que entrou em vigor na Rússia em 2022 passou a proibir duramente o que o Kremlin vê como propaganda de "relações não tradicionais"
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Um tribunal russo ordenou a deportação de um cidadão alemão por considerá-lo culpado de promover "propaganda LGBT" no país, em violação a uma lei que proíbe manifestações favoráveis à diversidade sexual na mídia e nas artes.
Não está claro como o alemão violou a lei. Relatos na imprensa russa afirmam que o acusado, um professor de 40 anos identificado apenas como "R.", teria entrado em contato por meio da internet com um morador local de 25 anos e o convidado para ir ao seu quarto de hotel. Não ficou claro se as mensagens foram enviadas de forma privada ou se foram divulgadas publicamente em redes sociais.
O tribunal na cidade de Kamchatka, no extremo leste do país, também multou o alemão em 150 mil rublos (em torno de R$ 9,4 mil). Segundo a imprensa russa, ele admitiu ser culpado da acusação.
O julgamento ocorreu no início de abril, mas somente agora a punição foi aplicada. Nesta terça-feira (02/05), a polícia judiciária o transportou para Moscou, de onde ele iniciará sua viagem de volta para a Alemanha, com uma escala na Turquia.
Relações entre pessoas do mesmo sexo não são oficialmente ilegais na Rússia, mas o governo do país instituiu uma série de leis homofóbicas para reprimir a expressão da diversidade sexual ou o que o Kremlin classifica como "relações sexuais não tradicionais".
Em abril de 2023, um tribunal de Kazan já havia determinado a expulsão de um blogueiro chinês da Rússia com base na lei de "propaganda LGBT". De acordo com o tribunal, o chinês postou vídeos em seu canal no YouTube "retratando relações sexuais não tradicionais com um nativo da Geórgia". Na realidade, os vídeos apenas retravavam o cotidiano do casal. Mostrando os parceiros se abraçando, recriando cenas de beijos e falando sobre a primeira relação sexual.
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O que diz a lei russa
O termo LGBT – acrônimo para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros – é amplamente utilizado na imprensa e na sociedade russa.
Uma lei assinada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em dezembro, proibiu publicidade, referências online e na imprensa, livros, filmes e peças de teatro que contenham "promoção de relações sexuais não tradicionais" ou, de maneira coloquial, "propaganda LGBT".
A lei, voltada para qualquer tipo de representação positiva da homossexualidade, amplia uma legislação de 2013 que já proibia esse tipo de "propaganda" para menores de idade. Desde então, o que o governo russo chama de "propaganda de relações sexuais não tradicionais" passou a ser proibida todas as faixas etárias.
Em abril, a proibição desse tipo de conteúdo levou o renomado Balé Bolshoi a cancelar uma produção dedicada a Rudolf Nureyev que tratava da homossexualidade do célebre bailarino russo.
Organizações de direitos humanos criticam fortemente a legislação, que consideram um encorajamento do Estado russo à homofobia, intolerância e discriminação. O texto da lei é considerado vago e aberto a interpretações, o que acaba permitindo a condenação de indivíduos.
rc (DPA)
A homossexualidade na realeza através dos tempos
Holanda anunciou em 2021 que um monarca poderia se casar com um parceiro do mesmo sexo sem ter que abrir mão do direito ao trono. Mas sempre existiram gays, lésbicas e bissexuais na realeza. Relembre alguns casos.
Foto: Instagram: ivar_mountbatten
Príncipe Manvendra Singh Gohil
O príncipe indiano Manvendra Singh Gohil se tornou o primeiro príncipe abertamente gay do mundo ao se declarar homossexual em 2006. A revelação, porém, levou sua família a deserdá-lo rapidamente. Em 2013, ele se casou com seu príncipe encantado nos EUA. Ativista fervoroso dos direitos LGBTQ, hoje ele também educa sobre a prevenção do HIV e até já abrigou LGBTQs em seu palácio.
Foto: Karin Törnblom/Imago Images
Imperador Adriano (76 - 138 DC)
O imperador Adriano pode não ser considerado um rei no sentido moderno, mas foi imperador romano de 117 a 138 d.C. Nesse período, nunca escondeu seu amor pelo jovem grego Antínoo, com quem participava publicamente de cerimônias reais. Quando Antínoo morreu, Adriano ficou tão abalado que pediu que o jovem fosse transformado em deus – uma honra geralmente reservada à família do imperador.
Filipe 1º, duque de Orléans (1640-1701)
Irmão mais novo do rei Luís 14, da França, Filipe 1º jamais escondeu seu jeito afeminado. O duque era famoso por ser "perfumado, adornado com joias e extravagantemente vestido de renda e seda". Filipe teve muitos amantes – homens e mulheres –, mas seu companheiro favorito era um nobre francês da casa ducal de Lorena, com quem permaneceu até o fim da vida.
Foto: Public Domain
Rainha Ana da Grã-Bretanha (1665 - 1714)
A rainha Ana reinou na Grã-Bretanha de 1702 a 1714. Embora casada, seu coração pertencia a Sarah Churchill, uma ancestral de Winston Churchill. O afeto entre ambas está bem documentado em cartas de amor. Quando a rainha decidiu terminar o relacionamento, Churchill tornou pública a sexualidade de Ana. A história foi adaptada no filme "A Favorita".
Foto: National Portrait Gallery, London
Lorde Alfred Douglas (1870 - 1945)
Lorde Alfred Douglas, caso de amor de Oscar Wilde no início do século 20, era filho do marquês de Queensberry. Seu pai repudiava seu relacionamento com o poeta irlandês, tendo acusado Oscar Wilde de sodomia – o que acabaria colocando Wilde atrás das grades. Após os eventos traumáticos, Douglas se casou com uma mulher e repudiou publicamente a homossexualidade de Wilde.
Foto: Imago Images/Leemage
Príncipe Egon von Fürstenberg (1946 - 2004)
O príncipe Egon von Fürstenberg, da Alemanha, foi um socialite, designer e queridinho dos tabloides. Sua bissexualidade sempre foi pública: duas vezes casado com mulheres, não escondia seus parceiros homens. Ao longo da vida, Von Fürstenberg era famoso frequentador da vida noturna gay.
Foto: Holt, Rinehart and Winston
Umberto 2º (1904 - 1983)
Umberto 2º foi o último rei da Itália. Como uma forma de desacreditá-lo, jornais fascistas italianos trouxeram sua homossexualidade a público de forma sensacionalista no final de 1943. Mas após a guerra, logo ele foi nomeado rei novamente até 1946.
Foto: Public Domain
Luisa Isabel Alvarez de Toledo (1936 - 2008)
Luisa Isabel Alvarez de Toledo nunca se preocupou com a reputação familiar – e isso apesar de a Casa de Medina Sidonia, à qual ela pertencia, ser uma das casas ducais mais importantes da Espanha. Ativista dedicada contra a Igreja, ela manteve um relacionamento amoroso com sua secretária por mais de 20 anos. O casamento oficial ocorreu em 2008, com a duquesa em seu leito de morte.
Foto: picture alliance/dpa
Lorde Ivar Mountbatten
Lorde Ivar Mountbatten foi o primeiro membro da realeza britânica a ter uma relação aberta com alguém do mesmo sexo e também o primeiro a se casar com seu parceiro, em 2018. A revelação foi aparentemente bem recebida pela família – a ex-mulher de Mountbatten inclusive o acompanhou até o altar.