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Rússia diz estar aberta a diálogo sobre a guerra na Ucrânia

11 de outubro de 2022

Kremlin afirma que não recebeu propostas sérias para negociações de paz, mas que as consideraria. Cúpula do G20 em novembro poderia ser uma oportunidade. Na ONU, Moscou sofre revés em votação sobre anexações ilegais.

Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, assina documento durante negociações sobre a guerra na Ucrânia em Belek, na Turquia
Ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, negou que Moscou tem recusado reuniões sobre a guerra na UcrâniaFoto: President Of Turkey Press Office/TASS/dpa/picture alliance

A liderança russa comunicou estar aberta a conversas com o Ocidente sobre um possível fim da guerra na Ucrânia. Ao menos é o que indicou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, em entrevista à televisão estatal russa nesta terça-feira (11/10).

Mas, segundo Lavrov, ainda não houve nenhuma proposta séria. O ministro também deixou a porta aberta para um possível encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo americano, Joe Biden, durante o transcorrer da próxima cúpula do G20.

"Temos repetido muitas vezes que não recusamos reuniões. Se houver uma proposta, vamos considerá-la", afirmou Lavrov.

Autoridades americanas, incluindo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, afirmaram que os Estados Unidos estão abertos a negociações, mas que a Rússia tem recusado.

"Isso é mentira", refutou Lavrov. "Não recebemos nenhuma oferta séria de contato."

A próxima reunião dos chefes de Estado e governo do G20, que reúne os países industrializados e emergentes mais importantes, está prevista para meados de novembro na ilha indonésia de Bali. Segundo Lavrov, a Rússia está pronta para ouvir quaisquer propostas de negociações de paz.

Erdogan deve se reunir com Putin

Membro da Otan e do G20, a Turquia terá a oportunidade de dialogar com o mandatário russo antes da cúpula em Bali. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deve encontrar Putin durante a Conferência sobre Medidas de Interação e Construção de Confiança na Ásia (Cica, na sigla em inglês), que contará com a presença de 11 chefes de Estado e de governo em Astana, no Cazaquistão. O encontro entre Erdogan e Putin deve ocorrer na quinta-feira.

Em setembro, Erdogan já havia se encontrado com Putin – e o presidente da China, Xi Jinping – no Uzbequistão. Enquanto Ancara busca, como membro da Otan, um papel relevante de intermediação entre Ocidente e Moscou, há também indícios de uma aproximação da Turquia – em muitos momentos escanteada pela União Europeia – com a Rússia e a China. Portanto, é incerto o que as conversas entre Erdogan e Putin podem acarretar.

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, numa ação que Moscou descreve como operação militar especial para desmilitarizar a Ucrânia. Kiev e o Ocidente, por outro lado, falam de uma guerra que infringe o direito internacional.

Negociações diretas entre Moscou e Kiev foram interrompidas no final de março. Após a anexação ilegal de quatro regiões ucranianas pela Rússia no final de setembro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, declarou estar aberto a negociações com a Rússia, mas não com Putin.

G7 convoca reunião extraordinária

Nesta terça-feira, o G7 convocou uma reunião extraordinária para realizar consultas virtuais sobre como prosseguir em relação ao conflito em solo ucraniano. Zelenski deve solicitar aos líderes de EUA, Reino Unido, Japão, Canadá, França, Itália e Alemanha o envio de sistemas de defesa aérea. Na segunda-feira, a Rússia bombardeou várias cidades ucranianas, incluindo Kiev, em retaliação à detonação de um caminhão-bomba na ponte Kerch, que liga o território da Rússia à Crimeia.

De acordo com relato da defesa civil ucraniana, os ataques russos causaram 19 mortes e deixaram ao menos 105 feridos.

Consequentemente, Zelenski descreveu o envio de sistemas antiaéreos como a principal prioridade. "Faremos tudo para fortalecer nosso Exército", disse ele em seu discurso diário à nação. Em um telefonema na noite anterior, Biden já havia prometido a Zelenski a entrega de sistemas de defesa aérea.

Mais bombardeios nesta terça-feira

A Rússia prosseguiu com os bombardeios com mísseis de longo alcance nesta terça-feira – mas, aparentemente, não com a mesma veemência dos ataques de segunda-feira. Muitas localidades, incluindo partes da cidade de Lviv, ficaram sem energia.

A Ucrânia acusou a Rússia de cometer crimes de guerra ao atacar suas usinas. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, escreveu no Twitter que a Rússia está criando intencionalmente condições insuportáveis para a população civil.

"Os alvos principais dos ataques russos são as usinas de energia. Eles atingiram muitas ontem, e estão atingindo as mesmas e novas hoje. São crimes de guerra planejados com bastante antecedência e destinados a criar condições intoleráveis para a população civil – a estratégia deliberada da Rússia por meses", escreveu Kuleba.

Revés diplomático na ONU

O Kremlin tem negado que suas forças cometeram crimes de guerra na Ucrânia. No entanto, de acordo com as Nações Unidas, os recentes ataques russos podem ter violado o direito internacional.

"Estamos muito preocupados que alguns dos ataques possam ter como alvo a infraestrutura civil, Isso pode ser uma indicação de que esses ataques podem ter violado os princípios internacionais de direitos humanos", disse uma porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). "Pedimos à Rússia que se abstenha de uma nova escalada e faça todo o possível para evitar baixas civis e danos à infraestrutura civil."

Também nesta semana, Moscou sofreu um revés diplomático nas Nações Unidas. A Assembleia Geral da ONU rejeitou o pedido da Rússia para que o sufrágio para condenar a anexação de quatro regiões ucranianas seja realizado por meio de uma votação secreta. A resolução será votada publicamente.

De acordo com o projeto, pede-se aos Estados-membros que não reconheçam a anexação das regiões parcialmente ocupadas por forças russas – Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson – e confirmem a soberania e a integridade territorial da Ucrânia.    

pv (Reuters, ots)

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