Rússia diz que Trump evoca "retórica da Guerra Fria" em Cuba
18 de junho de 2017
Ministério do Exterior russo condena decisão do presidente americano de frear aproximação com Havana, após anúncio de que Washington vai restabelecer restrições. Moscou reafirma "solidariedade inabalável" com a ilha.
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O Ministério do Exterior da Rússia condenou neste domingo (18/06) a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de frear a aproximação com Cuba, bem como os ataques verbais lançados pelo líder americano contra autoridades da ilha caribenha.
"A nova linha em relação a Cuba anunciada pelo presidente dos EUA traz de volta a retórica já quase esquecida da Guerra Fria", declarou o ministério russo em comunicado. "Fica claro que o discurso anti-Cuba ainda é muito necessário. Isso só pode causar arrependimento", acrescenta o texto.
Apesar de a campanha de Trump ter prometido melhorar as relações com Moscou, ainda não houve avanços significativos na aproximação entre os dois países. Na quinta-feira passada, o Senado americano aprovou, por ampla maioria, novas sanções contra a Rússia.
Nesta sexta-feira, o presidente americano anunciou uma revisão do acordo com Cuba firmado por seu antecessor, Barack Obama, restabelecendo algumas restrições ao país, que envolvem viagens de americanos à ilha e negociações entre empresas dos EUA e entidades militares cubanas.
Trump classificou o governo em Havana como "brutal", acusando-o de ser um "monopólio militar que explora e abusa dos cidadãos cubanos". Para o presidente, o acordo da gestão anterior "não ajuda a população em Cuba, apenas enriquece o regime".
As relações diplomáticas, no entanto, serão mantidas, bem como as embaixadas em Washington e Havana, garantiu o líder republicano.
Obama iniciou o processo de reaproximação com Cuba em dezembro de 2014, após mais de cinco décadas de relações diplomáticas rompidas. A embaixada americana em Havana foi reaberta, e uma série de medidas foram adotadas para atenuar o embargo econômico imposto à ilha em 1962.
Em março de 2016, Obama fez uma visita histórica a Cuba, a primeira de um presidente americano em 88 anos. Em agosto do mesmo ano, foram retomados os voos comerciais entre os dois países.
As sanções americanas à ilha vieram após a Revolução Cubana comandada pelo ex-líder Fidel Castro, que declarou Cuba um Estado comunista em 1961, em meio à Guerra Fria. Washington cortou relações diplomáticas com Havana, que recorreu à União Soviética.
Moscou mantém até hoje laços estreitos com o governo cubano. Em março passado, a Rússia assinou um acordo para enviar petróleo à ilha do Caribe.
No comunicado deste domingo, o Ministério do Exterior russo reafirmou sua "solidariedade inabalável com Cuba", e disse que o acordo de Obama com o país havia sido uma "decisão política bem pensada", que trazia como únicos perdedores "os adversários de Castro".
EK/afp/ap/rtr/dw
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.