Rússia e Ocidente trocam acusações por suposta "bomba suja"
25 de outubro de 2022
Moscou acusa Kiev de preparar explosivo que dissemina radiação por milhares de quilômetros quadrados. Otan, EUA e UE rejeitam alegação: intenção russa seria agravar o conflito em solo ucraniano.
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O Ocidente e a Rússia trocaram acusações nesta segunda-feira (24/10) em torno de uma suposta "bomba suja" que estaria sendo preparada pela Ucrânia. O Kremlin insiste na gravidade da denúncia, enquanto países como Estados Unidos, França e Reino Unido afirmam que a alegação seria uma tentativa de justificar um possível agravamento na guerra travada em solo ucraniano.
As nações ocidentais rejeitaram as alegações feitas pelo ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, no último fim de semana, de que Kiev já teria preparado o artefato.
As chamadas "bombas sujas" são dispositivos convencionais que disseminam material radioativo. Elas não possuem o efeito devastador como a destruição gerada por uma bomba nuclear, mas são capazes de deixar vastos territórios contaminados por radiação.
"Indignação" russa
Moscou planeja levar a questão à reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta quarta-feira. Autoridades russas reforçaram nesta segunda-feira as acusações de Shoigu.
Segundo o chefe das Forças de Proteção Química e Biológica das Forças Armadas russas, tenente-general Igor Kirillov, os militares russos estão preparados para uma possível contaminação por radiação, mas frisou que a explosão de uma "bomba suja" poderá contaminar milhares de quilômetros quadrados.
O ministro russo do Exterior, Sergei Lavrov, disse não se tratar de uma suspeita infundada: "Temos sérias razões para acreditar que tais coisas estejam sendo planejadas."
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Ocidente rejeita acusação
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, rejeitou categoricamente a acusação. Após conversar por telefone com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e com o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, ele advertiu que a Rússia "não deve usá-la como pretexto para uma escalada" no conflito.
O diretor de Comunicações do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, assegurou que não há indícios da suposta preparação de uma "bomba suja" por parte da Ucrânia.
"Vimos no passado que os russos, ocasionalmente, culpam a Ucrânia por coisas que eles mesmo planejam fazer", lembrou, ao mesmo tempo admitindo não haver indícios de que Moscou esteja preparando uma bomba radioativa. De qualquer forma, "essa é uma manobra que já vimos antes".
Kirby assegura não haver verdade alguma nas alegações russas de que os ucranianos planejariam detonar a "bomba suja" para depois jogar a culpa em Moscou. "Isso simplesmente não é verdade. Nós sabemos que não é verdade."
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, assegurou que o apoio do bloco europeu à Ucrânia continua inabalável, "inclusive no combate à desinformação".
Zelenski rebate
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também rejeitou a acusação: "Se a Rússia afirma que a Ucrânia estaria supostamente preparando algo, isso só pode significar uma coisa: que a Rússia já preparou isso ela própria."
Moscou reagiu com indignação às declarações das lideranças ocidentais. "Suas desconfianças em relação às informações compartilhadas pela parte russa não significam que a ameaça de uma 'bomba suja' tenha deixado de existir – a ameaça é óbvia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
rc/av (DPA, Reuters, AP, AFP)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.