Rússia inicia megaesquema de segurança para os Jogos de Sochi
7 de janeiro de 2014Em meio a uma crescente ameaça de terrorismo, a Rússia pôs em funcionamento nesta terça-feira (07/01) – exatamente um mês antes do início dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi – um dos maiores esquemas de segurança da história do evento esportivo.
Sochi, nas margens do Mar Negro, contará com a primeira grande operação de segurança desde os Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980. Segundo dados oficiais, 37 mil policiais provenientes de todo o país estarão na cidade costeira. Muitos deles terão até mesmo aulas de inglês ou farão cursos rápidos de escalada, a fim de auxiliar turistas estrangeiros ou para entrar em ação nas montanhas da região, caso necessário.
Além disso, 23 mil funcionários do Ministério de Proteção Civil e Catástrofes ficarão estacionados em Sochi. Um contingente de soldados, controladores de fronteira e um sem número de agentes do serviço secreto também se deslocarão até a região.
Embarcações militares e submarinos patrulharão a costa, enquanto aviões de guerra e drones cuidarão do espaço aéreo. Dezenas de viaturas já circulam pela cidade e arredores. Já há várias semanas policiais de outras cidades testam rotas e treinam pessoal. Já foram instaladas na cidade cerca de 1.400 câmeras de vídeo, e nas montanhas próximas serão utilizados quadriciclos especiais.
Medo do terrorismo
O esquema é uma resposta aos recentes ataques terroristas em Volgogrado, que mudaram até mesmo o tradicional discurso de fim de ano do presidente russo, Vladimir Putin.
Devido à diferença de fuso horário entre as regiões russas, os habitantes da Península de Kamchatka ainda ouviram o pronunciamento original do presidente. Nas demais regiões, porém, os telespectadores já escutaram o discurso que Putin mandou fazer às pressas, no qual declarou explicitamente guerra ao terrorismo.
O governo russo teme atentados durante os Jogos de Sochi. E o perigo é real, afirma Iekaterina Sokirianskaia, da ONG International Crisis Group.
Alexei Filatov, um antigo oficial da unidade antiterrorista Alfa, declara: "É possível que estejamos dando muito gás, mas as medidas são justificáveis. A segurança deve ficar em primeiro plano e o conforto, em segundo".
As críticas ao excesso de segurança cessaram após os recentes atentados terroristas em Volgogrado. Os altos custos do esquema, que giram em torno de 3 bilhões de dólares e vinham sendo seriamente criticados até então, não estão mais sendo questionados.
Mesmo assim, especialistas não excluem a possibilidade de que venha a acontecer algum atentado terrorista em Sochi ou em alguma outra cidade russa durante as Olimpíadas de Inverno. "Os enormes esforços que estão sendo feitos em Sochi e outras cidades russas não garantem que nada acontecerá durante os Jogos", afirma Sokirianskaia.
Controle acirrado de visitantes
Um mês antes dos Jogos Olímpicos de Inverno, acirradas medidas de controle foram implementadas em Sochi, a começar pela obrigação de se apresentar às autoridades locais, válida para qualquer pessoa que queira permanecer na cidade por mais de três dias.
Todos que quiserem assistir às competições receberão um "passaporte de espectador", contendo dados pessoais, que serão encaminhados às autoridades russas de segurança. Veículos de outras regiões russas terão acesso proibido à cidade, exceto caminhões que tiverem sido especialmente credenciados para o fornecimento de alimentos ou outros produtos para a região.
Foram também estabelecidas "zonas proibidas" na cidade, cujo acesso será limitado ou totalmente suspenso. Elas incluem também os territórios de fronteira com a República da Abecásia, região separatista da Geórgia, e as montanhas localizadas atrás de Kranaya-Polyana, onde serão realizadas as provas olímpicas. O objetivo é impedir que terroristas oriundos do norte do Cáucaso cheguem aos locais de competição.
Enquanto isso, as autoridades tentam mandar de volta a seus países de origem todos os trabalhadores temporários estrangeiros e aqueles que estiverem ilegais no país. Viaturas fazem buscas nas ruas atrás de pessoas em situação irregular, e os moradores da cidade foram convocados a denunciar pessoas que considerem suspeitas ou objetos estranhos encontrados no espaço público.
Sigilo de correspondência foi suspenso
O governo russo foi ainda além ao suspender, na prática, o sigilo de correspondência durante os Jogos Olímpicos. A empresa russa de correios Potchta Rossii já anunciou que todos os pacotes e encomendas que tiverem como destino a região de Krasnodar, à qual Sochi pertence, entre os dias 1° de janeiro e 31 de março, terão que ser abertos.
O mesmo vale para a correspondência eletrônica: o serviço secreto russo FSB já afirmou que todo o sistema de telecomunicações estará sob vigilância durante os Jogos Olímpicos. O sistema russo de vigilância Sorm, semelhante ao norte-americano Prism, foi modernizado exclusivamente para esse fim.