Apelidada de "Chernobyl flutuante" por ativistas ambientais, Akademik Lomonsov vai produzir energia para um porto e plataformas de extração de petróleo no Ártico.
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A Rússia lançou neste sábado (28/04) uma nova usina nuclear. Com um detalhe: a estrutura não foi erguida sobre o solo, mas sim em uma estrutura flutuante para poder ser operada sobre o mar.
Batizada de Akademik Lomonosov, a usina deixou um estaleiro em São Petersburgo neste fim de semana e iniciou uma longa jornada que vai terminar no Ártico. Inicialmente, a estrutura vai atravessar o Mar Báltico, depois contornar a Noruega até chegar ao porto de Murmansk. Nesta última parada, os reatores nucleares vão ser abastecidos com combustível.
De lá, a estrutura vai ser rebocada por mais de 5 mil quilômetros até a costa ártica de Chukotka, próximo do Alasca. Em 2019, espera-se que a usina abasteça uma cidade portuária, plataformas de petróleo e uma usina de dessalinização. A previsão é de que os dois reatores forneçam eletricidade para um total de 200 mil pessoas no porto de Pewek. Hoje a cidade tem apenas 4 mil habitantes.
O plano original era que a usina já deixasse São Petersburgo com os reatores abastecidos, mas queixas de vários países na rota da estrutura levaram a empresa Rosatom – estatal russa responsável pelos reatores – a abandonar o plano e optar pela parada em Murmansk.
O nome da usina é uma homenagem ao cientista russo do século 18 Mikhail Lomonosov.
Uma Chernobyl flutuante?
Ambientalistas criticaram a usina marítima. O Greenpeace chegou a chamá-la de "Chernobyl flutuante", em referência ao desastre nuclear de 1986 que ocorreu na usina de Chernobyl, na Ucrânia, então controlada pelos soviéticos. Considerado o pior acidente nuclear da história, o episódio provocou uma evacuação em massa e deixou vastas faixas da Ucrânia e da vizinha Bielorrússia inabitáveis. O Greenpeace também usou a expressão "Titanic nuclear" para criticar o projeto.
"Reatores nucleares flutuando no Oceano Ártico representam de maneira explícita uma ameaça óbvia a um ambiente frágil que já está sob enorme pressão pelas mudanças climáticas", disse Jan Haverkamp, especialista em energia nuclear do Greenpeace no Leste Europeu.
Segundo o especialista, a natureza da usina a torna especialmente vulnerável a acidentes. "A usina nuclear flutuante vai operar perto da costa, em águas rasas. Ao contrário das afirmações sobre sua segurança, o casco chato no fundo e a falta de propulsão tornam a usina particularmente vulnerável a tsunamis e ciclones", disse Haverkamp.
Nos últimos anos, o aquecimento global resultou em um rápido derretimento do gelo do Ártico, que está abrindo novas rotas de navegação pelo norte da Rússia. O país está aproveitando o fenômeno para explorar os ricos depósitos de petróleo e gás da Sibéria. O Kremlin também busca fortalecer sua presença militar na região.
Segundo o Greenpeace, a empresa Rosatom pretende abrir uma verdadeira linha de montagem dessas usinas flutuantes e vendê-las para outros países. Potenciais compradores vêm sendo consultados na África e na América do Sul.
"Esse tipo de iniciativa perigosa nao é apenas uma ameaça ao Ártico, mas, potencialmente, para regiões densamente habitadas ou com um ambiente natural vulnerável", completou Haverkamp.
JPS/ots
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Os últimos habitantes de Chernobyl
Os arredores da cidade ucraniana continuam inabitáveis 32 anos depois do acidente nuclear. Mas algumas pessoas já voltaram para suas casas. O cotidiano delas foi fotografado por Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
O otimismo de Baba Gania
Baba (mulher, senhora) Gania (e) tem 86 anos. Há dez, ela é viúva e, há 25, cuida da irmã Sonya, portadora de deficiência mental. "Não tenho medo da radiação. Cozinho os cogumelos até sair tudo", explica. A fotógrafa ucraniana Alina Rudya a visitou várias vezes: "É a pessoa mais calorosa e gentil que eu conheço", diz.
Foto: DW/A. Rudya
Casas vazias, indício de fuga apressada
Gania e a irmã vivem em Kupuvate, um vilarejo na área restrita que foi delimitada num raio de 30 km ao redor das ruínas da usina nuclear de Chernobyl. Depois da explosão do reator, em abril de 1986, 350 mil pessoas precisaram deixar a região. A maioria das casas em Kupuvate ficou vazia. Gania usa essa casa nas proximidades para guardar o seu caixão e o da irmã.
Foto: DW/A. Rudya
A volta dos mortos
"Na verdade, o cemitério de Kupuvate se parece com qualquer outro cemitério dos vilarejos da Ucrânia", conta Alina Rudya. "Muitas pessoas hoje enterradas aqui tiveram de abandonar a região depois da catástrofe e passaram a vida fora da área de radiação nuclear. Eles só voltaram depois de morrer", relata.
Foto: DW/A. Rudya
O último desejo de Baba Marusia
Os poucos que ficaram cuidam dos restos mortais dos familiares – como Baba Marusia, que veio até o túmulo da mãe. A filha vive em Kiev com o marido e duas crianças. "Fico feliz de ter ficado aqui", diz Baba Marusia. "Aqui é minha casa. Quero ser enterrada aqui." E acrescenta: "Mas do lado da minha mãe, não do meu marido."
Foto: DW/A. Rudya
Samosely: voltando para ficar
"Samosely" é como são chamados os habitantes que voltaram e vivem ilegalmente dentro da área de exclusão de Chernobyl. Galyna Ivanivna é um deles. "Minha vida passou como um raio. Tenho 82 anos e parece que nunca vivi. Quando era mais jovem, sonhava em viajar pelo mundo inteiro. Mas eu nunca consegui ir além de Kiev", recorda.
Foto: DW/A. Rudya
Vivendo no próprio mundo
Ivan Ivanovich e sua mulher também fazem parte das poucas centenas de habitantes que mudaram de volta para a área contaminada por radiação nuclear nos anos 1980. Entre os turistas que visitam a região, Ivan se tornou uma espécie de celebridade. "Ele conhece inúmeras histórias que oscilam entre verdade e imaginação", explica Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
Testemunhas mudas do passado
Uma semana antes do aniversário de 32 anos da catástrofe de Chernobyl, no dia 26 de abril, Alina Rudya foi à vila de Opachichi. Segundo ela, apenas uma mulher idosa ainda vive aqui – os outros habitantes já morreram. Suas casas vazias ficam abertas como testemunho mudo, mas eloquente, do ocorrido, através de fotos, calendários, cartas, toalhas bordadas e móveis.
Foto: DW/A. Rudya
Despedida a prestação
Marusia observa o marido, Ivan, dormindo. Ele teve um AVC recentemente e sofre de demência. "Às vezes, ele acorda à noite e sai procurando o seu trator. Trabalhou com o veículo por 42 anos." Ela diz que o desejo de morrer está vindo lentamente para ela. "Não quero ser um fardo para meus filhos e netos", afirma.
Foto: DW/A. Rudya
Prevenidos para a morte
Antes de ficar doente, Ivan, marido de Marusia, ainda construiu dois caixões para estar preparado para a própria morte e a morte da mulher. Os caixões ficam num galpão, diretamente ao lado da bicicleta velha. "O de baixo é meu, e o de cima é o do meu marido", explica Marusia.
Foto: DW/A. Rudya
Os últimos "samosely"
Apenas poucos samosely ainda vivem na zona de exclusão. Alina Rudya, que também nasceu perto de Chernobyl, os visitou várias vezes e fez retratos de alguns para um projeto fotográfico de longo prazo que ela quer publicar em livro. "Visitar os vilarejos abandonados está ficando cada vez mais triste. Toda vez que eu venho, alguém morreu, porque quase todos têm mais de 70 anos", explica.