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"Rússia quer transformar Kherson em cidade da morte"

Lilia Rzheutska | Ihor Burdyga
12 de novembro de 2022

Grande ceticismo cerca anúncio de que o invasor se retira da região ucraniana de Kherson. DW entrevistou moradores da capital regional. Em meio à falta de artigos básicos e informações, persiste esperança de libertação.

Homem caminha diante de prédio danificado por bombardeio
Prédio danificado por bombardeio em Kherson, 11/11/2022Foto: Celestino Arce Lavin/ZUMA/IMAGO

Segundo suas próprias informações, a Rússia encerrou a retirada das tropas no norte da região de Kherson, no sul da Ucrânia. Apenas poucos dias antes, o Ministério da Defesa em Moscou anunciara uma "manobra" em que as tropas da cidade de Kherson, ainda ocupada, seriam relocadas para a margem oposta do rio Dnipro. Unidades das Forças Armadas ucranianas entraram na cidade, os soldados russos restantes receberam ordens de se render.

Num comunicado, a vice-ministra ucraniana da Defesa, Anna Maljar, informou que os ocupadores da região de Kherson desmontaram todas as torres de telefonia celular e confiscaram roteadores wifi, a fim de impedir qualquer tipo de comunicação.

E acrescentou: "Em localidades da região de Kherson, o inimigo está construindo posições de artilharia diretamente em edifícios residenciais. Ele realiza trabalhos de fixação em que casas privadas são destruídas."

Autoestrada na fronteira da região de Kherson, sol da UcrâniaFoto: Metin Aktas/AA/picture alliance

O conselheiro da Presidência ucraniana, Mykhailo Podolyak, disse temer que as tropas russas pretendam reduzir a capital regional a ruínas, com bombardeios a partir da margem oriental.

"A Federação Russa quer transformar Kherson numa 'cidade da morte'. As forças russas minam tudo o que podem, residências e a canalização. A artilharia na margem esquerda pretende deixar a cidade em destroços. Assim é o 'mundo russo': eles vieram para saquear, celebrar o saque, matar 'testemunhas', para, finalmente, abandonar a ruína e fugir."

"Sem eletricidade, água, aquecimento nem informações"

Apesar de há dias não haver em Kherson conexões estáveis de telefonia celular nem de internet, a DW conseguiu se comunicar com diversos habitantes da cidade. Todos pediram anonimato: a maioria está temerosa e desesperada, pois, devido à falta de acesso à internet, ninguém sabe o que está acontecendo no momento, nem o que deve esperar.

"Não temos nem eletricidade, água, aquecimento, nem informações. Desculpe, mas não dou mais informações, desde que me enfiaram um saco na cabeça", conta um homem, vitima maus tratos pelos ocupadores russos devido a seu posicionamento pró-ucraniano.

Kiev após anúncio da retirada de Kherson; alegria fora de hora?Foto: GENYA SAVILOV/AFP

Grande parte dos moradores que permaneceram tem esperanças de uma libertação pelo exército ucraniano. Contudo também eles não acreditam que as tropas vão simplesmente desistir da cidade. Entre os céticos está Tetyana.

"Só se tem internet estando na margem do Dnipro. Há pouco os russos vieram e nos avisaram que seria bom deixar Kherson o mais rápido possível, porque eles vão começar a bombardear e transformar a cidade numa segunda Mariupol. Cada um que decida para si se acredita nas ameaças deles ou não. Mas não há praticamente mais nenhum invasor."

Nesse ínterim, foram também retiradas todas as bandeiras russas. "Estamos esperando com ansiedade pelas forças da Ucrânia", reforça a moradora de Kherson. Segundo ela, a assim chamada "evacuação" da população, organizada pelas autoridades de ocupação russas, está concluída.

No entanto há habitantes que tentam deixar a cidade por meios próprios. Muitos vão para Skadovsk, na margem oriental do Dnipro. De lá, passando pela península da Crimeia, anexada por Moscou, pretendem seguir para países da União Europeia – o que no momento é muito difícil, quase impossível.

Evacuação da população civil de Kherson pelas autoridades de ocupação, 19/10/2022Foto: Dmitry Marmyshev/TASS/IMAGO

Explosões portam esperança de libertação

Quem permanece em Kherson sofre carência de artigos fundamentais. Roman, atuante como engenheiro numa operadora comunitária, informa que nos edifícios de vários andares da cidade a calefação não funciona, há lapsos no fornecimento de gás e eletricidade.

"Mas algumas lojas do Mercado Central ainda estão abertas e mini-ônibus ainda trafegam. Já os grandes ônibus municipais, adquiridos ainda antes da guerra, os russos infelizmente 'evacuaram' para a margem esquerda."

Serhiy, que atua como gerente de uma instituição de ensino da cidade, confirma que "eletricidade e internet, só temos com interrupções, depende do bairro". Nos edifícios já se pega novamente a televisão ucraniana.

Embora atualmente haja bem menos soldados russos na capital regional, ainda impera uma forte sensação de insegurança: "Nos subúrbios de Kherson, há cada vez mais barulho, a toda hora se ouvem explosões", comenta Serhiy. "Isso aviva a esperança de que em breve as Forças Armadas da Ucrânia vão libertar a cidade."

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