Rússia suspende acordo para escoar grãos ucranianos
29 de outubro de 2022
Moscou deixa o pacto após suposto ataque à sua frota no Mar Negro e mina esforços para aliviar crise global de alimentos. Kiev diz que russos utilizam pretextos falsos e exige que o Kremlin cumpra suas obrigações.
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A Rússia suspendeu neste sábado (29/19) sua participação no acordo intermediado pela ONU para permitir o escoamento da produção de grãos da Ucrânia através do Mar Negro.
A decisão de Moscou, que gera prejuízos aos esforços para aliviar a crise alimentar mundial, foi tomada após o Kremlin relatar um ataque de drones ucranianos à frota russa na Península da Crimeia.
O Kremlin alega que a Ucrânia atacou sua frota nas proximidade de Sevastopol, capital da Península anexada ilegalmente por Moscou em 2016. Segundo o Ministério russo da Defesa, o ataque, que classificou como "terrorista", envolveu 16 drones e contou com a ajuda de especialistas da Marinha britânica.
Moscou afirma ter repelido o ataque, que teria causado somente danos menores em um navio caça-minas, e disse que as embarcações que seriam os alvos estavam envolvidas na manutenção da segurança no corredor marítimo no Mar Negro.
O Ministério do Exterior afirmou que, após os supostos ataques, "a parte russa não pode garantir a segurança das cargas civis que participam da 'Iniciativa do Mar Negro' e suspende sua implementação a partir de hoje por tempo indeterminado". Com a aproximação da data final do acordo, no dia 19 de novembro, a Rússia passou a repetir que havia graves problemas com o pacto.
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Kiev acusa Moscou de "falsos pretextos"
O Reino Unido afirmou neste sábado que as alegações russas – incluindo a afirmação de que membros de sua Marinha teriam explodido o gasoduto Nord Stream no mês passado – são falsas e seriam uma tentativa de distrair a atenção dos fracassos militares russos na Ucrânia.
O chefe de gabinete do presidente ucraniano,Volodimir Zelenski, acusou a Rússia de inventar "ataques terroristas fictícios a suas próprias instalações".
O Ministro ucraniano do Exterior, Dmytro Kuleba, disse que Moscou utiliza pretextos falsos com a intenção de sabotar o acordo. "Peço a todas as nações que exijam que a Rússia ponha fim a seus 'jogos da fome' e se comprometa com suas obrigações", afirmou.
O acordo mediado pela ONU é crucial para o mercado global de alimentos, ao permitir a exportação de grãos – interrompida pela invasão russa ao país – de um dos maiores produtores de cereais em todo o mundo.
Mais de 9 milhões de toneladas
Desde o acordo firmado entre Rússia e Ucrânia no dia 22 de julho, mais de 9 milhões de toneladas de trigo, produtos de girassol, cevada, colza e soja deixaram os portos ucranianos. A exportação desses produtos é considerada fundamental para o alívio da crise global na distribuição de alimentos.
Moscou deve notificar oficialmente o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sobre a suspensão do acordo. A ONU já está em contato com autoridades russas para tratar da situação.
Alguns analistas afirmam que, apesar de o acordo ter contribuído para a redução dos preços dos alimentos no Ocidente, a Rússia teve pouco a ganhar com isso.
rc (Reuters, AP)
Patrimônio cultural da Ucrânia sob ataque
Além de custar vidas humanas, a guerra da Rússia aniquila a rica herança arquitetônica e cultural ucraniana. Nos primeiros seis meses da ofensiva, pelo menos 450 sítios culturais foram danificados ou destruídos.
Foto: Nicola Marfisi/UIG/IMAGO
Biblioteca Regional Juvenil, Chernihiv
Fundada no século 10º, Chernihiv é uma das cidades mais antigas da Ucrânia. Ela foi uma das primeiras atacadas pela Rússia ao invadir o país vizinho em 24 de fevereiro de 2022, e 70% de seus prédios e infraestrutura estão destruídos. A Biblioteca Regional Juvenil do século 19, uma das marcas registradas de Chernihiv, foi destroçada por bombas russas em 11 de março.
Foto: Nicola Marfisi/UIG/IMAGO
Teatro Dramático, Mariupol
Alguns dos combates mais violentos da guerra da Rússia contra a Ucrânia têm se desenrolado na cidade portuária de Mariupol, no Mar Negro. Há mais de 60 anos, adornava seu centro um elegante Teatro Dramático, em cujo porão os moradores iam buscar segurança durante as ofensivas. Porém em 16 de março as forças sob ordens de Vladimir Putin bombardearam o prédio, matando cerca de 600 civis.
Foto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance
Museu de Arte Arkhip Kuindzhi, Mariupol
Em 21 de março, a Rússia lançou uma devastadora ofensiva aérea contra o Museu de Arte Arkhip Kuindzhi de Mariupol, construído em 1902, em estilo art nouveau. Nenhuma das obras desse pintor do século 19 se encontrava no prédio, porém as de Tetyana Yablonska e de outros artistas ucranianos. Não está claro se alguma delas foi recuperada.
Foto: Alexey Kudenko/SNA/IMAGO
Borodyanka
A cidadezinha de Borodyanka, cerca de 50 quilômetros a noroeste de Kiev, era um pacífico local residencial. Após mais de um mês de ocupação russa, contudo, grande parte dela está em ruínas. Casas, playgrounds, jardins, escolas, parques, até monumentos, como este busto do poeta ucraniano Taras Shevchenko, foram danificados ou destruídos.
Em 6 de maio, as tropas russas lançaram um ataque sobre a casa onde morou o poeta e filósofo do século 18 Hryhoriy Skovoroda, num subúrbio de Kharkiv. O prédio transformado em museu em honra de seu legado foi atingido por um míssil, um homem de 35 anos que supervisionava o local ficou ferido. A coleção não sofreu danos, pois já fora transportada para um local seguro.
Foto: Sergey Bobok/AFP/Getty Images
Igreja Pokrovsky, Malyn
Em 6 de março de 2022, os invasores russos lançaram um bombadeio aéreo sobre a praça central de Malyn. As paredes da Igreja Ortodoxa Pokrovsky, construída em meados dos anos 1990, sofreram sérios danos, suas janelas ficaram estilhaçadas.
Foto: Maxym Marusenko/NurPhoto/picture alliance
Izyum
Terceira maior cidade da região de Kharkiv, Izyum foi fundada em 1681 e ficou famosa por suas igrejas e outras construções históricas. Devido a sua localização estratégica, a Rússia tentou capturá-la pouco após o início da invasão. Bombas e mísseis destruíram 80% dos edifícios residenciais de Izyum. Esta escola datando de 1882 ficou seriamente danificada.