Em sua primeira viagem oficial à Europa, líder cubano é recebido com honras militares em Paris. Presidente francês destaca "nova fase" nas relações bilaterais e pede que EUA removam embargo a Havana.
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Em sua primeira viagem oficial à Europa, líder cubano é recebido com honras militares em Paris. Presidente francês destaca "nova fase" nas relações bilaterais e pede que EUA removam embargo a Havana.
O presidente cubano, Raúl Castro, iniciou nesta segunda-feira (01/02) uma visita de dois dias à França. A viagem oficial, a primeira dele à Europa, é vista como um passo fundamental para uma reaproximação de Cuba com o Ocidente.
Com direito a honras militares, Castro foi recebido pela ministra francesa do Meio Ambiente, Ségolène Royal, sob o Arco do Triunfo, um dos símbolos de Paris. O líder percorreu ainda a famosa avenida Champs-Elysées, especialmente decorada com bandeiras de Cuba e da França. Trata-se da primeira visita de um chefe de Estado cubano à capital francesa em mais de 20 anos.
A polícia francesa restringiu fortemente o acesso do público, e apenas alguns grupos de simpatizantes do regime cubano estiveram presentes na cerimônia.
Castro foi recebido pelo presidente François Hollande com um abraço, em frente ao Palácio do Eliseu. Numa coletiva de imprensa após o encontro bilateral, o líder francês pediu que o presidente dos EUA, Barack Obama, finalmente remova o embargo comercial imposto a Cuba.
"Obama, que fez vários gestos, deve, como ele mesmo disse, ir até o final e permitir que este vestígio da Guerra Fria termine", disse Hollande. Ele afirmou que a França sempre esteve convencida da necessidade de acabar com o embargo, apesar das tensões internacionais.
Castro, por sua vez, agradeceu Hollande pela mensagem contra o bloqueio comercial e por exercer um "papel de liderança" nas relações entre Cuba e a União Europeia.
Castro agradeceu a França por interceder a favor da ilha nas negociações com o chamado Clube de Paris sobre a dívida cubana. O grupo reestruturou em dezembro uma dívida milionária de Cuba. O acordo é considerado chave para possibilitar o acesso de Havana a créditos em âmbito internacional.
Hollande, que foi a Cuba em maio do ano passado, descreveu a visita de Castro como "uma nova fase no fortalecimento das relações entre os dois países".
Abertura internacional
A visita de Castro à França se insere numa gradual abertura internacional da ilha comunista, que restaurou as relações diplomáticas com os Estados Unidos no ano passado.
O presidente assumiu a presidência do país em 2008, depois que o irmão Fidel Castro, no poder desde 1976, adoeceu. Fidel foi o último chefe cubano a viajar à França, em 1995, mas, na ocasião, não foi recebido com honras de uma visita de Estado.
Castro chegou a Paris no sábado, mas iniciou a programação oficial somente nesta segunda-feira. Na terça-feira, ele deve se reunir com o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, e com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
EK/afp/dpa
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.