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Racismo contra Boateng ainda repercute na Itália

7 de janeiro de 2013

Após incidente de racismo na última semana, jogador ameaça deixar o futebol italiano. Treinadores temem que caso leve a um aumento no abandono de partidas. Presidente da Fifa comentou o caso e criticou Boateng.

Foto: dapd

O reinício do campeonato italiano neste fim de semana ficou em segundo plano nas notícias esportivas do país. Passados três dias do amistoso conturbado entre Milan e a equipe semiamadora do Aurora Pro Patria, o debate sobre as ofensas racistas contra o jogador ganês nascido em Berlim Kevin-Prince Boateng continua repercutindo na Itália e no mundo. Jogadores, treinadores, políticos e até o presidente da Fifa comentaram o abandono do jogo por Boateng e seus companheiros de time.

Na última quinta-feira (03/01), durante a partida amistosa disputada na pequena cidade de Busto Arsizio, o jovem meiocampista abandonou o gramado aos 26 minutos devido aos constantes chingamentos racistas e imitações de macaco vindos da torcida do time da casa.

O jogador do Milan declarou que, a partir de agora, pretende deixar o gramado sempre que ouvir cantos racistas vindos das arquibancadas. "Não podemos mais tolerar o racismo. Eu teria feito a mesma coisa num jogo da Liga dos Campeões contra o Real Madrid e vou continuar fazendo-o", declarou Boateng.

Jogador ameaça deixar futebol italiano

O treinador do Milan, Massimiliano Allegri, apoiou seu atleta. "Em qualquer situação semelhante que possa vir a acontecer, a equipe vai reagir da mesma forma." Ele disse que até a ministra do trabalho e assuntos sociais da Itália, Elsa Fornero, felicitou a decisão tomada pela equipe em Busto Arsizio. Na partida deste domingo (06/01) contra o lanterna da Serie A, Siena, os jogadores usaram durante o aquecimento camisetas com a mensagem, em inglês e italiano, "AC Milan contra o racismo". Durante a partida, vencida pela equipe de Milão por 2x1, torcedores cantaram melodias de apoio e aplaudiram bastante o jogador.

Entretanto, o apoio a Boateng não garante que ele vá continuar no país. O jogador, que atua também pela seleção do Gana, disse, em entrevista ao jornal alemão Bild, que o que aconteceu no amistoso não vai ficar por isso mesmo. "Vou dormir três noites sobre o acontecido e na próxima semana terei uma reunião com meu empresário Roger Wittmann. Teremos que analisar se ainda faz sentido continuar jogando na Itália."

Kevin-Prince Boateng manifestando o que pensa dos torcedores racistas do Pro PatriaFoto: AP

Nem os torcedores do Milan, nem o treinador Allegri querem acreditar que o jogador realmente vá se despedir do futebol italiano. "Eu penso que ele disse isso em um momento de angústia", comentou Allegri. Até o prestigiado diário esportivo Gazzetta dello Sport descreveu a declaração de Boateng como um "choque". Conturbado por atos racistas, violência entre torcidas e escândalos envolvendo a máfia de apostas ilegais, o Calcio, como é chamado o futebol na Itália, não quer perder seu mais novo ídolo.

Abandonar partida? Joseph Blatter critica

A imprensa italiana destacou a reação de Boateng, que chamou de "histórica". A atitude do ganês recebeu diversos elogios não só na Itália, mas no mundo inteiro. Mas pode um jogador de futebol abandonar o campo e causar a interrupção da partida? A regra diz que tal atitude deve ser punida pelo árbitro e, teoricamente, o jogador e sua equipe podem sofrer sanções esportivas e financeiras. O temor é que atitudes iguais à de Boateng incitem torcidas organizadas a provocar a interrupção de partidas e que isso se torne corriqueiro.

O treinador da rival Juventus de Turim, Antonio Conte, entende que a reação de Boateng foi acertada, mas questiona o que aconteceria se um caso semelhante ocorresse durante uma partida oficial. "Se a equipe cujos torcedores se comportaram de maneira inadequada for punida com a perda da partida, teremos inúmeras interrupções", previu Conte.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, que estava participando de um evento em Dubai, nos Emirados Árabes, criticou a atitude de Boateng. "Eu penso que um jogador não pode simplesmente deixar o campo. Esta não é a solução. Senão, frente a uma iminente derrota, os jogadores se retirarão do gramado." Mas Blatter também deixou claro: "Racismo não pode ser tolerado".

Racismo este que deu as caras novamente neste fim de semana. Na partida entre o Lazio e o Cagliari no Estádio Olímpico, os ultrafascistas do time da capital, conhecidos pelo nome Irriducibili (irredutível, em italiano), entoaram canções racistas contra o jogador colombiano Victor Ibarbo. A equipe visitante chegou a ameaçar abandonar o gramado, mas Ibarbo disse que seguiria em campo mesmo se as ofensas não parassem. De acordo com o jogador holandês e ex-companheiro de Boateng no Milan Clarence Seedorf, a atitude de Ibarbo foi correta. Segundo Seedorf, que atualmente joga pelo Botafogo, ações como as de Boateng só aumentam a visibilidade das minorias racistas.

Ultras da Lazio ostentando bandeiras com a suásticaFoto: AP

FIGC promete combater o racismo

O presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC, na sigla em italiano), Giancarlo Abete, pediu uma reunião com o chefe da polícia, Antonio Manganelli, para discutir diligências contra o racismo nos estádios de futebol. Abete quer fortalecer a cooperação entre os clubes de futebol e a polícia italiana.

Os primeiros passos já foram dados. Seis torcedores do Pro Patria foram identificados por meio de câmeras de vigilância do estádio em Busto Arsizio. Os torcedores, com idades entre 22 e 30 anos, já foram autuados por incitação do ódio racial. Além disso, eles podem ser proibidos de frequentar qualquer estádio de futebol pelos próximos cinco anos.

Enquanto o jogador colombiano Ibarbo era ofendido por centenas de torcedores no Estádio Olímpico de Roma, Boateng publicou em sua conta do Twitter: "muito triste".

PV/dap/sid
Revisão: Francis França

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