Rainha Elizabeth: Alegações sobre racismo são preocupantes
9 de março de 2021
Em entrevista, príncipe Harry e Meghan Markle alegaram que um membro da família real questionou o quão "escura" seria a pele do filho do casal.
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A rainha Elizabeth divulgou nesta terça-feira (09/03) um comunicado no qual afirma que alguns dos itens levantados na entrevista do príncipe Harry e de Meghan Markle à apresentadora americana Oprah Winfrey, especialmente os referentes a racismo, eram "preocupantes", e que ela ficou triste ao saber o quão difícil a vida do casal era na realeza.
"A família como um todo está triste em saber de forma completa o quão difícil os últimos anos foram para Harry e Meghan. Os temas levantados, especialmente o relacionado a raça, são preocupantes. Apesar de que algumas lembranças podem variar, elas serão consideradas com muita seriedade e serão tratadas pela família de forma privada", disse a monarca, que acrescentou que "Harry, Meghan e Archie serão para sempre amados membros da família".
O Palácio de Buckingham estava sob pressão para responder às alegações de racismo entre os mais altos escalões da família real. Na entrevista, que foi ao ar no domingo (07/03), o casal também falou sobre a dificuldade de conviver com a família real britânica e sobre depressão.
Na revelação mais chocante, Harry e Meghan contaram que alguém da monarquia havia externado preocupação com relação sobre quão "escura" poderia ser a pele do filho do casal, Archie.
Mais tarde, Oprah esclareceu que nem a Rainha Elizabeth 2ª nem seu marido, o Duque de Edimburgo, haviam feito as declarações. No entanto, a recusa de Harry e Meghan em identificar o membro da família que teria feito o comentário racista lançou suspeitas a outros integrantes da realeza.
Meghan, que é filha de uma afro-americana, sugeriu durante a entrevista que o fato de que Archie pudesse ter pele mais escura significaria que ele não poderia ter o título de príncipe. Segundo os protocolos, como neto de um soberano, Archie se tornaria automaticamente um príncipe quando seu avô, Charles, ascendesse ao trono.
No entanto, o casal afirmou que havia sido informado de que essas regras seriam alteradas, de acordo com o plano de Charles para uma monarquia mais enxuta, deixando Archie sem o título e a segurança que vem com ele.
Harry disse que o racismo foi "uma grande parte" do motivo pelo qual o casal deixou o Reino Unido, alegando que, embora o país não fosse intolerante, a imprensa britânica, especificamente os tabloides, era. Hoje, o casal vive na Califórnia com o filho Archie e espera uma filha, que deve nascer no verão no hemisfério norte.
Johnson em cima do muro
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, recusou-se a entrar na polêmica. Questionado sobre se o palácio deveria investigar as acusações, Johnson disse que sempre teve "a maior admiração pela Rainha e pelo papel unificador que ela desempenha". Já quanto a todos os outros assuntos da família real, o primeiro-ministro afirmou que "ficou muito tempo sem comentá-los" e que não pretende fazer o contrário agora.
Mas nem todo mundo se absteve. O político conservador e ministro do governo Zac Goldsmith afirmou em um tweet que Harry estava "explodindo sua família". "O que Meghan quer, Meghan consegue", escreveu.
A secretária de educação do gabinete paralelo, Kate Green, disse à Sky News que as declarações do casal foram "realmente angustiantes, chocantes" e pediu que o palácio investigue qualquer alegação de racismo.
O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, afirmou que as questões raciais e de saúde mental levantadas por Meghan eram "maiores do que a família real" e não deveriam ser deixadas de lado. A ministra das crianças, Vicky Ford, sublinhou que "não há lugar para o racismo na nossa sociedade".
Problemas de saúde mental
Meghan também disse que não se sentia bem no palácio. Ela revelou que a intensa pressão que sofreu a fez pensar em suicídio e que falou ao palácio que precisava de ajuda para problemas de saúde mental, mas não recebeu nenhum apoio. "Eu simplesmente não queria mais viver. E esse foi um pensamento constante, aterrorizador, real e muito claro", disse Meghan.
Questionada sobre a reação do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à entrevista, a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki disse que a decisão de Meghan de falar sobre suas lutas com a saúde mental "exige coragem" e "isso é certamente algo em que o presidente acredita". No entanto, Psaki disse que não comentaria mais o assunto, "visto que se trata de cidadãos privados, compartilhando sua própria história e suas próprias lutas".
A biógrafa real Penny Junor disse que o casal "jogou uma granada na família" e teme que "não haja mais volta". Para o autor real e historiador Robert Lacey, as repercussões "reverberarão por muito tempo, porque são mais do que sobre personalidades". "É um testemunho em primeira mão de uma família disfuncional", afirmou.
No entanto, para Charles Anson, ex-secretário de imprensa da Rainha, o palácio poderá refletir sobre a entrevista e tentar uma reconciliação.
O grupo anti-monarquia República pediu um debate honesto sobre o futuro da monarquia e disse que a instituição "precisa acabar".
A Sociedade de Editores atacou a alegação de que a imprensa do Reino Unido é intolerante. "A mídia do Reino Unido não é preconceituosa e não será influenciada por seu papel vital de responsabilizar os ricos e poderosos", afirmou o diretor-executivo da entidade, Ian Murray.
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Maior escândalo desde os anos 1990
A ampla cobertura da imprensa britânica sobre a primeira grande entrevista do casal após se afastar da família real gerou um nível de controvérsia que a realeza não via desde os anos 1990, durante o colapso público do casamento da princesa Diana com o príncipe Charles.
Em 1992, Diana colaborou com o autor Andrew Morton em uma biografia reveladora e, em 1995, deu uma entrevista bombástica à rede BBC. Na ocasião, Diana disse que tanto ela quanto seu marido, o príncipe Charles, haviam sido infiéis, e falou sobre o quanto se sentia isolada, lutando contra a automutilação e a bulimia.
Embora Harry e Meghan tenham deixado claro que as declarações racistas não partiram da Rainha Elizabeth 2ª, a polêmica ainda pode ser prejudicial à monarca, já que ela é chefe da Commonwealth, uma organização que compreende 54 ex-colônias britânicas, muitas delas na África, com 2,4 bilhões de pessoas, quase um quarto da população mundial.
Desde que a rainha subiu ao trono, em 1952, a imigração em massa transformou o Reino Unido de um país predominantemente branco para um em que mais pessoas se classificam como britânicos-asiáticos, negros-britânicos ou mestiços.
Para o historiador David Olusoga, as afirmações de Harry e Meghan "não são apenas uma crise para a família real, mas para o próprio Reino Unido".
Em janeiro do ano passado, Harry e Meghan anunciaram o afastamento da realeza para terem um futuro independente. O anúncio inesperado surpreendeu e causou desconforto entre os outros membros da monarquia, tendo levantado dúvidas sobre as futuras fontes de financiamento dos duques de Sussex.
Com a decisão, Harry e Meghan deixaram de participar dos compromissos reais e não recebem mais recursos públicos destinados à coroa britânica.
le (afp,ots)
A família real britânica
O conceito de "família real" surgiu na metade do século 19, com o príncipe Alberto e a rainha Victoria. Desde então, não é só uma rainha ou um rei que representam o Império Britânico, mas uma família inteira.
Foto: Daniel Lea/AFP
Um conceito de família
O conceito de "família real" surgiu na metade do século 19, com o príncipe Alberto, a rainha Victoria e os nove filhos. Desde então, não é só uma rainha ou um rei que representam o Império Britânico, mas uma família inteira. Os Windsor modernizaram e aperfeiçoaram esse conceito. Tanto que a rainha Elizabeth 2ª até aceitou a segunda esposa de seu filho Charles na família.
Foto: picture-alliance/dpa/PA Wire/Yui Mok
Monarquia em perigo
O rei George 5º e seu primo, o czar Nicolau 2º da Rússia, eram até bem parecidos em sua fisionomia, mas George se distanciou de Nicolau quando este teve de abdicar devido à revolução de fevereiro de 1917. Temendo revoltas em seu próprio império, ele logo voltou atrás numa oferta de asilo político. Pouco depois, Nicolau 2º foi assassinado.
Foto: picture-alliance/Heritage Images
Rei George 5º e Mary of Teck
Controverso durante a Primeira Guerra Mundial, o reinado de George 5º se estabilizou rapidamente após a mudança de nome para Windsor. Enquanto em outros lugares as monarquias enfrentavam crises, George 5º liderava o Reino Unido através da crise econômica e permitiu a independência de colônias britânicas dentro da Commonwealth.
Foto: picture-alliance/akg-images
Reinado curto de Edward 8º
Após a sua morte, em 1936, George 5º foi sucedido no trono pelo filho Edward 8º. O reinado deste foi um dos mais curtos da história britânica, com apenas 326 dias. A relação entre o playboy e a americana Wallis Simpson foi um escândalo e causou uma crise constitucional. O governo conservador acabou forçando Edward a abdicar.
Foto: picture-alliance/Photoshot
O pai de Elizabeth
Seu irmão mais novo assumiu o trono em 1937 como George 6º. Com a esposa, Elizabeth, e suas duas filhas, Elizabeth e Margaret Rose, ele trouxe uma família intacta ao palácio. Ele conduziu o país durante a Segunda Guerra Mundial, mas esta lhe custou a saúde: ele morreu em 1952, aos 56 anos, por causa de uma trombose coronariana.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Austrian Archives
Castelo de Windsor
Uma das receitas para o sucesso dos Windsor é a forma como eles enfrentam as crises. Durante a Segunda Guerra Mundial, a família real compartilhou das dificuldades vividas pelos súditos e viveu, por exemplo, apenas com as rações de comida. O rei permaneceu em Londres apesar dos bombardeios alemães e dos danos no Palácio de Buckingham. Só os fins de semana ele passava com a família em Windsor.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Austrian Archives
"Queremos o rei!"
Com o seu engajamento e sua determinação, os membros da família real se tornaram símbolos da resistência britânica ao fascismo. Após a rendição das tropas alemãs em 8 de maio de 1945, uma multidão eufórica gritou em frente ao palácio de Buckingham: "Queremos o rei!". George 6º estava no auge da popularidade.
Foto: picture-alliance/akg-images
Casamentos reais como eventos do ano
Em 1947, multidões foram a Londres para o casamento da então princesa Elizabeth e de Philip Mountbatten. A união livre de escândalos gerou quatro filhos, assegurando continuidade aos Windsor em tempos em que muitas monarquias se desfizeram.
Foto: picture-alliance/akg-images
Charles esperou muito pelo trono
O casamento entre o príncipe Charles e Lady Diana nunca foi feliz. Ele terminou em 1992, trazendo danos à imagem da família real. Os dois filhos tiveram de superar não só a separação dos pais, como a morte da mãe em um acidente de carro em 1997. Levou muito tempo até que Charles voltasse a ser visto como um membro respeitado da família real.
Foto: picture-alliance/dpa
Um reinado de aniversário
Em 2012, o reino celebrou as bodas de diamante da rainha Elizabeth e, em 2016, o seu aniversário de 90 anos. Nenhum outro soberano esteve por tanto tempo à frente da monarquia britânica. Ela é o chefe de Estado há mais tempo no cargo em todo o mundo. Apesar das críticas à família real britânica, o apoio à monarquia, no reinado dela, segue inabalado.
Foto: imago/i Images
William e Kate, a monarquia moderna
Após a separação dos pais e a trágica morte da mãe, a vida privada de William, neto da rainha, começou a ser alvo do interesse do público. Em 2011, ele se casou com Kate Middleton, uma plebeia que demonstrou gosto pelo seu papel na família real. O casal já ampliou a família com três pequenos herdeiros.
Foto: AFP/Getty Images/C. de Souza
A próxima geração
Os novos membros da família Windsor já concentram as atenções da mídia. "Efeito príncipe George" é o nome dado à influência que o pequeno príncipe exerce sobre a economia e a cultura pop. Ou seja: o que George veste ou usa vende bem. Na foto, vê-se George ao lado da irmã, Charlotte.
Foto: imago/i Images
Mais um na linha de sucessão
Em 23 de abril de 2018, Kate deu à luz seu terceiro filho. O menino é o quinto na linha de sucessão ao trono britânico. O primogênito da rainha, príncipe Charles, encabeça a lista, seguido pelo príncipe William, George, Charlotte e o mais novo membro da família real.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/T. Nicholson
Mais dois netos para a rainha
Em 6 de maio de 2019, a poucos dias de completarem um ano de casados, o príncipe Harry e a esposa, Meghan Markle, anunciaram a chegada do primeiro filho, Archie, que é o sétimo na linha de sucessão ao trono britânico. Em 4 de junho de 2021 nasceu a filha deles, Lilibet Diana.
Foto: Prince Harry and Meghan, The Duke and Duchess of Sussex/dpa/picture alliance
O "Megxit"
Em janeiro de 2020, Harry e Meghan renunciaram ao título "sua alteza real" e a recursos públicos, em troca de uma vida independente. O casal passou a ser "apenas" duque e duquesa de Sussex. A família real concordou com a renúncia após o casal comunicar à rainha o desejo de abdicar do status de "membros sêniores" da monarquia para serem economicamente independentes e viver na América do Norte.
Foto: AFP/D. Leal-Olivas
Entrevista bombástica a Oprah Winfrey
Em março de 2021, Harry e Meghan falaram da dificuldade de conviver com a família real, racismo e depressão. Segundo Meghan, a família e quem comanda a instituição são coisas separadas. Filha de uma afro-americana, Meghan falou da "preocupação sobre quão escuro" seria seu filho. A pressão a fez pensar em suicídio. Harry disse que o pai e o irmão estão "presos" em seus papéis.
Foto: Harpo Productions/Joe Pugliese/REUTERS
Grande perda para a rainha
Em 9 de abril de 2021, morreu o príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª. O Duque de Edimburgo tinha 99 anos, e sua saúde vinha se deteriorando há algum tempo. Ele e a rainha da Inglaterra estavam casados desde 1947.
Foto: John Patrick Fletcher/Action Plus/imago images
70 anos no trono
Elizabeth 2ª acumulou recordes notáveis: aos 96 anos de idade, foi a monarca reinante mais antiga e teve o casamento mais duradouro na história da realeza britânica. Sua coroação entrou para a história, com recorde de espectadores – carca de 300 milhões mundo afora. E, por fim, ninguém jamais ocupou por tanto tempo o trono britânico. Em 2022, ela completou 70 anos no trono.
Foto: Daniel Leal/AFP
A morte de uma rainha
No dia 8 de setembro de 2022, foi anunciada a morte da rainha Elizabeth 2ª, causando comoção em toda Commonwealth. No seu enterro, em 19 de setembro, compareceram chefes de governo e de estado do mundo inteiro. Multidões acompanharam os féretros e as cerimônias fúnebres.