Rainha russa do xadrez Kosteniuk muda para a federação suíça
Mark Hallam
3 de março de 2023
Ex-campeã mundial feminina Alexandra Kosteniuk jogará sob a bandeira da Suíça em futuras competições. Ela é uma dos diversos xadrezistas russos que deixaram o país ou criticaram a invasão da Ucrânia.
Anúncio
A mestre do xadrez russa Alexandra Kosteniuk, ex-campeã mundial feminina e uma das dez melhores jogadoras do mundo, migrou para a federação suíça de xadrez nesta sexta-feira (03/03), disse ela no Twitter.
Ela iniciou o processo para mudar de federação após a invasão russa da Ucrânia, que teve um impacto severo no xadrez, dada a enorme influência dos jogadores dos dois países.
"Agora é oficial. Representando a Suíça desde 03.03.2023", escreveu Kosteniuk, adicionando uma imagem de sua nova página de perfil de jogadora do site da federação suíça de xadrez.
Nova regra permitiu troca rápida
Kosteniuk, de 38 anos, já tinha dupla cidadania russa e suíça, e em janeiro a federação suíça anunciou que ela passaria a competir pelo país a partir de 2024.
No entanto, uma mudança recente nas regras pela Federação Internacional de Xadrez (Fide) permitiu uma mudança mais rápida.
Em casos normais, espera-se que as jogadoras que troquem de federação paguem uma taxa em compensação à federação da qual estão saindo.
A Fide decidiu recentemente que isentaria os jogadores russos dessa taxa, desde que eles se juntassem a outra federação europeia e que quisessem fazer a mudança como resultado da invasão da Ucrânia. Os prazos normais de transição também foram afastados.
"Os jogadores que pertenciam à CFR [Federação Russa de Xadrez] serão autorizados a representar sua nova federação de forma imediata, a partir do dia seguinte à apresentação de sua candidatura, sem quaisquer restrições. Todas as taxas de transferência, para a Fide ou a CFR, estão dispensadas", disse a entidade ao anunciar a decisão em fevereiro.
Kosteniuk foi campeã mundial feminina em 2008 e perdeu o título em 2010, mas ainda está entre as dez melhores jogadoras por classificação e foi a vencedora geral do Torneio Internacional de Munique em fevereiro.
Anúncio
Rússia está banida de torneios?
O xadrez tem adotado uma abordagem semelhante a esportes como o tênis, e mais tolerante do que os esportes como o futebol, em reação à invasão da Ucrânia.
A Rússia como país está banida dos torneios internacionais de equipes, mas os jogadores russos individuais ainda são elegíveis para competir em todas as competições sob uma bandeira neutra.
A federação russa de xadrez também se mudou recentemente do grupo europeu de federações para o grupo asiático, depois que a União Europeia de Xadrez suspendeu as federações russas e bielorrussas após o início da guerra. Isso significa que os jogadores russos não serão mais elegíveis para torneios somente na Europa, mas provavelmente abrirá o caminho para que as equipes russas retornem à competição internacional de equipes.
Vários grandes mestres russos do xadrez deixaram o país desde o início da guerra, e outros que ficaram também fizeram comentários críticos. Entre os que partiram estão Dmitry Andreikin, Vladimir Fedoseev, Alexander Predke e Alexey Sarana.
Quarenta e quatro jogadores russos de destaque publicaram uma carta aberta ao presidente Vladimir Putin pedindo que ele parasse a guerra, em abril do ano passado, entre eles Kosteniuk, assim como o campeão mundial russo Ian Neopmniachtchi.
Kosteniuk disse ao site chess.com no final do ano passado que ela ficou "completamente em choque" quando a guerra eclodiu.
"Na Rússia há pessoas que gostam de repetir que a Rússia 'nunca atacou ninguém na história'", disse ela. "Costumava acreditar com prazer em tais histórias, que a Rússia nunca havia invadido outros países, mas infelizmente isso não é verdade. Claro que, no início do ano, estávamos acompanhando as notícias, e havia rumores sobre uma possível invasão, mas nos recusamos a acreditar um único momento nessas histórias. É por isso que ficamos tão chocados quando isso realmente aconteceu."
Um ano de guerra da Ucrânia: uma linha do tempo em imagens
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em um ano de combates, milhares de soldados e civis perderam a vida. Relembre os fatos mais marcantes nesta linha do tempo.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP/Getty Images
Um dia sombrio para milhões
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, os ucranianos foram acordados por explosões como esta na capital, Kiev. A Rússia havia iniciado uma invasão em grande escala, marcando o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia imediatamente declarou a lei marcial. Estruturas civis passaram a ser atacadas e logo começaram a ser relatadas as primeiras mortes.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
Bombardeios impiedosos
O presidente russo, Vladimir Putin, insiste ainda hoje tratar-se de uma "operação militar especial" e que o objetivo é tomar as regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Moradores de Mariupol se abrigaram em porões por semanas. Muitos morreram sob os escombros. Um ataque aéreo russo em março a um teatro da cidade onde centenas se refugiavam foi condenado por grupos de direitos humanos.
Foto: Nikolai Trishin/TASS/dpa/picture alliance
Êxodo em massa
A guerra na Ucrânia forçou uma emigração nunca vista na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, mais de 8 milhões de pessoas fugiram do país. Só a Polônia acolheu 1,5 milhão de pessoas, mais do que qualquer outro Estado da UE. Milhões de pessoas, principalmente do leste e do sul da Ucrânia, foram forçadas a fugir.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP
Cenas de horror em Bucha
Após algumas semanas, o exército ucraniano conseguiu expulsar as forças russas de áreas no norte e nordeste do país. O plano da Rússia de sitiar Kiev fracassou. Depois que as regiões foram libertadas, a extensão das atrocidades tornou-se aparente. Imagens de civis torturados e assassinados em Bucha, perto de Kiev, deram a volta ao mundo. As autoridades relataram 461 mortes.
Foto: Carol Guzy/ZUMA PRESS/dpa/picture alliance
Devastação e morte em Kramatorsk
O número de vítimas civis em Donbass aumentou rapidamente. As autoridades pediram à população civil para recuar para áreas mais seguras, mas os mísseis russos também atingiram as pessoas enquanto tentavam escapar, inclusive em Kramatorsk. Mais de 61 foram mortos e 120 ficaram feridos na estação ferroviária da cidade em abril, quando milhares esperavam para fugir para um local mais seguro.
Durante os ataques aéreos russos, milhões de ucranianos buscaram refúgio em algum tipo de abrigo. Para as pessoas próximas às linhas de frente dentro do alcance da artilharia, os porões se tornaram segundos lares. Moradores de grandes cidades também buscaram abrigo dos mísseis. Em Kiev (foto) e em Kharkiv, as estações de metrô funcionam como locais seguros.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Alto risco nuclear em Zaporíjia
Nas primeiras semanas após a invasão, a Rússia ocupou uma grande área das regiões sul e leste da Ucrânia, inclusive as proximidades de Kiev. Os combates se espalharam para as instalações do complexo nuclear de Zaporíjia, no sudeste, que está sob controle russo desde então. A Agência Internacional de Energia Atômica enviou especialistas para a usina e pediu uma zona segura ao redor da instalação.
Foto: Str./AFP/Getty Images
Resistência desesperada em Mariupol
O exército russo manteve Mariupol sob cerco por três meses, impedindo o envio de munição e outros suprimentos. O complexo siderúrgico Asovstal era o último reduto ucraniano na cidade, abrigando milhares de soldados e civis. Depois de um ataque prolongado, em maio de 2022 milhares de soldados russos assumiram o controle da usina, capturando mais de 2 mil pessoas.
Foto: Dmytro 'Orest' Kozatskyi/AFP
Um símbolo de resistência
A Rússia conquistou a Ilha das Cobras, no Mar Negro, no primeiro dia da guerra. Um diálogo entre militares ucranianos e russos, na qual os ucranianos se recusaram a se render, se tornou viral. Em abril, os ucranianos afirmaram ter afundado o navio de guerra russo Moskva, uma das duas embarcações envolvidas no ataque à ilha. Em junho, a Ucrânia disse ter expulsado os russos da ilha.
Foto: Ukraine's border guard service/AFP
Número de mortos incerto
O número exato de mortos na guerra permanece incerto. Segundo a ONU, pelo menos 7.200 civis foram mortos e outros 12 mil, feridos – mas os números reais podem ser muito maiores. A quantidade exata de soldados ucranianos tombados também é incerta. Em dezembro, o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, estimou o número em até 13 mil. Estatísticas imparciais não estão disponíveis.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Divisor de águas para a Ucrânia
O envio de armas ocidentais à Ucrânia tem sido um assunto polêmico desde o começo da guerra, mas elas demoraram a chegar a Kiev. Os lançadores de foguetes Himars, fabricados nos EUA, foram uma ajuda decisiva. Eles permitiram que os militares ucranianos cortassem o abastecimento de munição para a artilharia russa e provavelmente também contribuíram para as contraofensivas bem-sucedidas da Ucrânia.
Foto: James Lefty Larimer/US Army/Zuma Wire/IMAGO
Alívio a cada libertação
No início de setembro, os militares ucranianos conduziram uma contraofensiva bem-sucedida em Kharkiv, no nordeste do país. Os russos, surpreendidos, recuaram rapidamente, deixando para trás equipamentos, munições e até evidências de supostos crimes de guerra. Os militares ucranianos também conseguiram libertar Kherson, no sul, e seus moradores comemoraram a chegada dos soldados ucranianos.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Explosão na ponte da Crimeia
No início de outubro, ocorreu uma grande explosão na ponte que a Rússia construiu sobre o Estreito de Kerch, ligando à Crimeia, península ucraniana que Moscou ocupa desde 2014. A ponte foi parcialmente destruída. A Rússia afirma que um caminhão da Ucrânia carregado de explosivos causou os danos, mas as autoridades em Kiev não assumiram a responsabilidade pelo ataque.
Foto: AFP/Getty Images
Ataques maciços à infraestrutura de energia
Poucos dias após a explosão na ponte da Crimeia, a Rússia começou a atacar em grande escala a infraestrutura de energia da Ucrânia. Quedas de energia ocorreram de Lviv a Kharkiv. Desde então, esses ataques se tornaram rotina. Devido aos enormes danos às usinas de energia e outras infraestruturas civis, as pessoas na Ucrânia enfrentam quedas de energia e escassez de água quase diariamente.
Foto: Genya Savilov/AFP/Getty Images
Apoio do mundo ocidental
Mensagens diárias por vídeo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em que ele relata a situação no país e sobre a guerra em andamento, são vistas por milhões de pessoas. Zelenski não só conseguiu unificar a população de seu país, mas também ganhou o apoio do Ocidente. A integração europeia progrediu muito sob a sua liderança, e a Ucrânia está a caminho da adesão à UE.
Foto: Kenzo Tribouillard/AFP
Esperando por tanques Leopard 2
A defesa da Ucrânia depende muito da ajuda externa. Um grupo de países liderado pelos EUA ofereceu um pacote de bilhões de dólares em ajuda humanitária, financeira e militar. O envio de artilharia pesada foi muito debatido no Ocidente, em grande parte devido a preocupações com a reação da Rússia. Mas a Ucrânia acabará recebendo tanques ocidentais, em sua maioria Leopard 2, de fabricação alemã.
Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images
Uma cidade em ruínas
Há meses, batalhas sangrentas acontecem em Bakhmut, na região de Donetsk. Desde que as tropas ucranianas perderam o controle do vilarejo de Soledar no início de 2023, defender a cidade tornou-se ainda mais difícil. Em janeiro, o serviço secreto da Alemanha relatou perdas diárias de três dígitos do lado ucraniano. Mas acredita-se que o número de mortos na Rússia seja ainda maior.