Rammstein: petróleo como droga
15 de novembro de 2005Novembro foi o mês do European Music Awards da MTV, que desta vez aconteceu em Lisboa. Os portugueses e quem por lá estava viram shows legais, mas muita gente deve ter viajado exclusivamente para ver Madonna, que abriu o evento e deixou pouca esperança de que algo melhor pudesse vir. Mas Green Day mandou muitíssimo bem, Gorillaz foi sensacional, só Robbie Williams é que poderia ter estado mais animado.
Bom mês também para o Wir sind Helden, que saiu em sua primeira turnê européia e já teve que fazer um show extra em Londres. E isso em um clube que nem é tão pequeno assim, afinal cabem 500 pessoas no Garage! Mas eles negam que estejam em busca da carreira internacional, dizem que continuarão cantando em alemão e ponto. Então por que é que eles gravaram o novo single Von hier an blind em inglês, francês e japonês??
Eu, eu e eles
Alguém imagina como seria ter a Rita Lee como professora substituta? Não? Pois uma coisa semelhante aconteceu em Berlim este mês: longa pausa entre uma aula e outra em um ginásio da capital. A professora faltou.
Uma revista jovem encontrou a solução ideal: enviou o duo Ich + Ich para substitui-la e um repórter para protocolar a conversa. Lá foram Annette Humpe e Adel Tawil para falar daquilo que entendem: letras de música.
Para quem não sabe: Annette é uma velha conhecida da música pop alemã. Sua irmã é cantora do 2raumwohnung e ela própria cantava na banda Ideal durante a Neue Deutsche Welle. Recentemente, ela e Adel Tawil se juntaram para este projeto e logo emplacaram dois singles na parada alemã, cantando música pop misturada com soul em alemão.
Schiller: poesia emprestada
Schiller é Christopher von Deylen, mas não só ele: a cada álbum, o produtor e DJ trabalha com uma série de convidados que dão uma cara diferente para a sua "banda". Peter Heppner (do Wolfsheim), Alexander Veljanov (do Deine Lakaien) e Sarah Brightman já cantaram em discos passados.
No novo Tag und Nacht (Noite e Dia), o quarto desde que começou sua carreira em 1998, Schiller trabalhou com diversas vocalistas femininas, o que deu um caráter etéreo à sua dance music comportada e sonhadora. E contou também com a ajuda de convidados como Mike Oldfield (que compôs a trilha sonora de O Exorcista), o baterista Gary Wallis (que já tocou com o Pink Floyd) e o rapper Tomas D. (da banda Die Fantastischen Vier).
E ele é tão convencido do valor estético de sua música que pegou mesmo o nome emprestado do poeta Friedrich Schiller. Tudo o que envolve a banda está sob seu máximo controle. Na última turnê, ele obrigou seus ilustres convidados a viajar no mesmo ônibus – nada de hotéis, nada de pedidos extras, nada de lista vip na entrada.
Seu som caberia em um lounge em Ibiza, em aniversário de família, em filme pornô, mas há algo nele que o torna inapropriado para ser tocado em rádio. Não é sofisticado como ele gostaria que fosse, mas não tem nenhum apelo comercial, entende? Há quem goste e quem odeie. Schiller não se importa.
Leia mais na próxima página sobre o novo disco do Rammstein.
Houve uma época em que o Rammstein tinha de brigar pelo seu espaço – em plenos anos 90, poucos tinham paciência para tantos músculos à mostra, um desconfortável machismo, letras sobre violência, morte, sexo. A música pop vivia uma espécie de belle époque, talvez como forma de expurgar a herança do heavy metal.
E o Rammstein, que teimava em subir ao palco (tra)vestido, maquiado e equipado de toda sorte de efeitos pirotécnicos, ainda insistia em Kiss e Alice Kooper quando o mundo inteiro parava para ouvir Exit Planet Dust, álbum de estréia dos Chemical Brothers que saiu no mesmo ano que o primeiro disco dos alemães.
Quando o primeiro disco Herzeleid (1995) chegou às lojas, a mídia alemã se esforçou para sufocar o grupo. Não parecia exatamente um futuro promissor para o emergente sexteto de Berlim. Como explicar então a escalada catapultante, a atenção com que suas letras são decifradas nos principais jornais do país e a fidelidade de fãs no mundo todo?
Motivos se repetem
Foi o Rammstein que abriu mão dos excessos em prol da popularidade? Certamente não, afinal basta observar os textos do frontman Till Lindemann – ele até já lançou seu primeiro livro de poesias na Alemanha – para ver que a escolha dos motivos se manteve igual em toda a trajetória da banda. E a mídia, afinal de contas, continua descendo a lenha na banda.
A diferença é que o Rammstein convenceu milhões de fãs no mundo todo. Um ano após o lançamento do último disco, Reise, Reise, a banda retorna com seu quinto álbum, Rosenrot, que, como não poderia deixar de ser, já ocupa o Top 10 em nada menos que 18 países desde seu lançamento em 28 de outubro. Um resultado nada modesto, que os torna os principais músicos de exportação alemães do pós-guerra.
Na Alemanha, na Áustria, na Estônia e na Finlândia, o disco está na primeira posição das paradas. Na Suíça, na Bélgica, na Suécia, na Dinamarca e até no México eles ocupam a segunda posição. Isso simultaneamente a lançamentos de peso como Depeche Mode, Madonna e Robbie Williams.
Mas eles não convenceram só os fãs: músicas do Rammstein já foram remixadas por vários artistas internacionais. Até os Pet Shop Boys já fizeram e aí morrem críticas tão freqüentes – quase acusações – de "teutonismo excessivo", "estética fascista" ou "atitude homofóbica".
Quem tiver uma explicação que me envie. Faz esse favor: feedback.brazil@dw-world.de
Encalhados?
Agora vamos ao disco por partes. A capa de Rosenrot mostra um navio quebra-gelo nuclear preso em uma imensidão de gelo. O jornal Tagesspiegel questiona se isso talvez seja "uma párabola da própria banda? Um sinal de que a própria carreira encalhou?", mencionando problemas de integração dos seis músicos e de autoridade no processo de composição.
Mas o que mudou do último álbum para este novo? Não muita coisa. Os motivos principais continuam sendo a violência, uma força destruidora incontrolável que só encontra barreiras no próprio ego (Zerstören), a sedução da morte e o voyeurismo diante dela (Spring). Para celebrar o sexo sem recheio, eles até arriscaram o espanhol em Te quiero puta!: Vamos vamos mi amor/Me gusta mucho tu sabor/No no no tu corazón/Mucho mucho tu limón.
Mais homoeróticos que homofóbicos
Também há faixas mais elaboradas, como o primeiro single Benzin, cuja letra pode ser lida tanto como uma metáfora irônica da ganância pelo petróleo quanto como um elogio do homem-máquina: Não preciso de amigos, nem de cocaína/Nem de médico, nem de medicina/Não preciso de mulher, só de vaselina/Um pouco de nitroglicerina/Preciso de dinheiro para gasolina.
Esse teor homoerótico prossegue em Mann gegen Mann (Homem contra Homem): Na minha corrente não falta nenhum elo/Quando a luxúria vem por trás/Meu sexo me acusa de traidor/Sou o pesadelo de todos os pais//Homem contra homem/Minha pele pertence aos senhores/Homem contra homem/Igual e igual se unem com prazer.
O álbum saiu na Alemanha em duas versões: uma simples e outra em formato digipack, com três músicas extras gravadas ao vivo durante a turnê de Reise, Reise, que provavelmente estarão também no CD/DVD ao vivo que a banda lançará em março do ano que vem.
Em dezembro sai o segundo single, Rosenrot, com remixes de Chris Vrenna (ex-baterista do Nine Inch Nails), do duo eletrônico alemão Northern Lite e de Jagz Kooner, que já produziu bandas como Manic Street Preachers e Garbage.
O vencedor do CD The Politics of Dancing 2, de Paul van Dyk, sorteado por esta coluna no mês passado, é Fernando Marques, de Salvador (BA). Não se preocupe, você será avisado por e-mail e receberá o prêmio no endereço fornecido.