Raoni marcha com jovens em Bruxelas em defesa do clima
17 de maio de 2019
Em turnê pela Europa, líder kayapó se une a centenas de manifestantes na capital belga para protestar em favor da proteção climática e da preservação da Amazônia. Prefeito de Bruxelas promete ajuda financeira ao Xingu.
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Em visita à Europa, o líder indígena brasileiro Raoni Metuktire se uniu a centenas de manifestantes, entre eles vários jovens, nesta sexta-feira (17/05) em Bruxelas, na Bélgica, em uma marcha em defesa da Amazônia, do clima e da biodiversidade.
O cacique kayapó, que iniciou na segunda-feira sua turnê de três semanas por países europeus, marchou ao lado dos estudantes belgas que há cinco meses vêm realizando protestos semanais para pressionar autoridades a agirem contra o aquecimento global.
Raoni aproveitou a marcha, que reuniu cerca de 600 pessoas, para promover sua batalha contra o desmatamento da Amazônia e em defesa de que seja erguida uma barreira de bambu para proteger o Parque Indígena do Xingu contra o tráfico de madeira, animais, ouro e outros elementos.
"Você precisa me ajudar a refazer os limites, as margens [do Xingu]. Isso é tudo que eu peço. Temos que fazer isso neste ano", pediu o cacique ao prefeito de Bruxelas, Philippe Close, durante uma coletiva de imprensa após a manifestação.
Raoni ainda alertou contra a ameaça das "grandes fazendas" localizadas na reserva do Xingu – cuja área representa seis vezes o tamanho da Bélgica – e disse ter medo das pessoas que estão "destruindo tudo" naquela localidade.
"Eu quero que tudo permaneça como está, porque as árvores fornecem sombra e mantêm a terra fria", disse o líder indígena, insistindo na importância de preservar a floresta para seu povo.
Após o apelo de Raoni, o prefeito de Bruxelas se comprometeu a liberar "muito rapidamente" ajuda financeira à região brasileira, destacando a importância de uma "batalha urgente" em prol do clima na qual é "necessário o envolvimento de todos".
Depois de Bruxelas, o líder kayapó viaja para Luxemburgo, Mônaco, Cannes – onde participará do Festival de Cinema – Itália e o Vaticano, onde está prevista uma entrevista com o papa Francisco, segundo a programação comunicada pela Forêt Vierge, organização com sede em Paris que Raoni preside de forma honorária.
Nesta quinta-feira, ele foi recebido pelo presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, em Paris. O líder europeu prometeu ao cacique o apoio da França em sua batalha contra a exploração de terras indígenas por madeireiros e pelo agronegócio.
Macron conversou por 45 minutos com Raoni e três outros líderes indígenas brasileiros: Kayula, Tapy Yawalapiti e Bemoro Metuktire. Após o encontro, o Palácio do Eliseu indicou que a França apoiará o projeto de Raoni. Os detalhes da ajuda, especialmente a parte financeira, serão comunicados posteriormente, segundo a presidência francesa.
O cacique ganhou visibilidade internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia. A viagem do líder da etnia kayapó de 87 anos ocorre num momento de apreensão para os povos indígenas no Brasil devido a medidas adotadas ou anunciadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
A turnê na Europa recebeu o apoio de figuras como o cantor Sting, que há 30 anos realizou uma turnê ao lado do cacique por 17 países e o ajudou a ganhar notoriedade internacional na luta pela proteção dos povos do Xingu.
A diversidade dos povos indígenas na América Latina
Unicef registra 522 grupos étnicos nativos na região. Vítimas frequentes da pobreza, eles sofrem perigos que vão de aculturação e exclusão social à violência. Ao mesmo tempo, são peças-chave na proteção do clima.
Foto: Christopher Pillitz
Amazônia, fonte de diversidade
Segundo o "Atlas Sociolinguístico de Povos Indígenas na América Latina", do Unicef, a Amazônia é a região de maior diversidade de povos nativos, com 316 grupos, dos quais 241 só no Brasil, seguido pela Colômbia (83), México (67) e Peru (43). Outras regiões ricas em diversidade indígena são a Mesoamérica, a Bacia do Orinoco, os Andes e o Chaco. A América Latina como um todo abarca 522 povos.
Foto: DW/T. Fischermann
Pluralidade de povos e línguas
Cinco povos agrupam vários milhões de representantes – Quechua (foto), Nahua, Aymara, Maya yucateco e Ki'che –, outros seis têm entre meio milhão e 1 milhão de membros – Mapuche, Maya q'eqchí, Kaqchikel, Mam, Mixteco e Otomí. Cerca de um quinto dos indígenas perdeu seu idioma nativo nas últimas décadas: de 313 línguas, 76% são faladas por menos de 10 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/Robert Hardin
Cada vez mais urbanos
Embora mais de 60% da população indígena do Brasil, Colômbia, Equador, Honduras e Panamá ainda viva em zonas rurais, mais de 40% da de El Salvador, México e Peru reside em áreas urbanas. No Chile (foto) e Venezuela, uma parcela superior a 60% dos nativos vive em cidades, dispondo de 1,5 vez mais acesso a eletricidade e 1,7 vez mais a água corrente do que a das zonas rurais.
Foto: Rosario Carmona
Convivendo com a pobreza
Segundo um informe do Banco Mundial, a pobreza afeta 43% dos lares indígenas – mais do que o dobro dos demais – e 24% vivem em condições de pobreza extrema – 2,7 vezes mais do que os não indígenas. Na Guatemala, em 2011 três de cada quatro habitantes de zonas de pobreza crônica pertenciam a um lar indígena.
Foto: picture-alliance/Demotix
Brecha digital, exclusão social
Apesar da aparente familiaridade deste membro da tribo brasileira dos Kayapó com a tecnologia, ela não tem beneficiado os povos indígenas em geral. Na Bolívia, eles têm quatro vezes menos acesso à internet do que os demais; e no Equador, seis vezes menos. Além disso, o acesso dos nativos a computadores na Bolívia equivale à metade da dos não indígenas.
Foto: AP
Envolvidos na política
Muitos indígenas participam ativamente da vida política de suas comunidades, através de parlamentos locais ou nacionais, estaduais e municipais. Seus líderes ou estão integrados a partidos nacionais ou criaram suas próprias legendas políticas. Assim, existem partidos indígenas muito influentes sobretudo na Bolívia e no Equador, mas também na Venezuela, Colômbia e Nicarágua.
Foto: Reuters/J. L. Plata
Na mira da violência
Por outro lado, representantes de povos indígenas são vítimas de criminalização e hostilidades, sofrendo ameaças, violência e até homicídios por se posicionar contra a instalação de grandes infraestruturas em seu território. Na foto, membro dos Munduruku, no Pará, cujo território é ameaçado pelo extrativismo e por projetos hidrelétricos.
Foto: DW/N. Pontes
Figuras-chave na proteção do clima
O reconhecimento e proteção dos territórios indígenas é uma estratégia eficaz para evitar o desmatamento e combater a mudança climática global. Entre 2000 e 2012, o desflorestamento da Amazônia brasileira nas áreas sob proteção legal foi de 0,6%, contra 7% fora delas.
Foto: Ádon Bicalho/IPAM
Os grandes desconhecidos
Algumas comunidades indígenas seguem se negando a ter contato com o mundo exterior, vivem em áreas isoladas e usam lanças e dardos envenenados para caçar macacos e pássaros. Esse é o caso dos Huaorani, habitantes da selva amazônica do Equador. Nas últimas décadas, muitos deixaram de viver como caçadores para se assentar no Parque Nacional Yasuní.
Foto: AP
Civilização fatal
Infelizmente, alguns dos que foram contatados sofreram consequências drásticas. Os Matsés ou Mayorunas, conhecidos como "povo do jaguar", que vivem à margem do Rio Yaquerana, na fronteira entre o Brasil e o Peru, foram contatados pela primeira vez em 1969. A partir desse encontro, muitos morreram de enfermidades, como tuberculose e hepatite.