Raro manuscrito de Bach é arrematado por US$ 3,3 milhões
Rick Fulker (ca)14 de julho de 2016
Partitura foi provavelmente escrita por Johann Sebastian Bach entre 1740 e 1745 e altamente valorizada pelo compositor. Muitas de suas peças continuam perdidas.
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Uma rara partitura escrita à mão pelo compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750) foi arrematada nesta quarta-feira (13/07) por 3,3 milhões de dólares, após ser leiloada pela tradicional casa londrina Christie's.
Provavelmente escrito entre 1740 e 1745, o Prelúdio, Fuga e Allegro em Mi bemol Maior (BWV 998) é uma das peças favoritas para cravos e alaúdes. Assim como muitas obras de Bach, ela pode ser tocada em diferentes instrumentos, o que é expressamente indicado numa anotação do compositor: "Prelude pour la Luth ò Cembal" (prelúdio para alaúde ou teclado).
Antes do leilão, a partitura, que não mudava de dono ou era vista desde que foi tornada pública em 1969, foi exibida em Hamburgo, Munique, Düsseldorf e Stuttgart, seguindo então para exposições em Nova York e no Japão.
Como uma pintura
Chantal Nastasi, repórter de cultura da emissora pública alemã NDR, considerou a visão do manuscrito como um "momento especial". Ela descreveu o documento como "amarelado, quase bronzeado". Nastasi observou que Bach havia, evidentemente, trabalhado com cuidado na composição, corrigindo poucas notas.
Hans-Christoph Rademann, diretor da Academia Internacional Bach em Stuttgart, confirmou que a clareza do texto manuscrito indica que Bach escreveu a composição provavelmente num único arroubo. "Ele deve ter finalizado em sua mente, transcrevendo depois de memória – uma grande conquista", disse Rademann, afirmando que a inspeção do manuscrito foi "uma experiência comparável a ver uma pintura original".
Thomas Venning, especialista em manuscritos da Christie's, descreveu a letra de Bach na partitura como "muito fluente e graciosa". Ressaltando que papel era muito caro na época de Bach, ele explicou que o material usado nesse manuscrito em particular foi excepcionalmente de alta qualidade e que somente em mais uma peça conhecida Bach teria usado papel da mesma fábrica. Isso poderia ser uma indicação de que essa seria uma obra altamente valorizada pelo compositor.
Manuscritos preciosos
Manuscritos originais de Bach são raros. A maior parte de suas obras existe apenas como cópias impressas ou escritas à mão – quando originais, trata-se sobretudo de fragmentos ou somente de partbooks para vozes ou instrumentos individuais.
Segundo a Christie's, menos de dez manuscritos completos de Bach estão em mãos de particulares atualmente, incluindo duas obras instrumentais e seis cantatas.
Bach deixou grande parte de seus manuscritos originais para seu primogênito, Wilhelm Friedemann Bach, que os vendeu posteriormente para pagar dívidas. Por essa e outras razões, muitas das peças do compositor – talvez de um quarto a um terço de sua produção total – continuam perdidas.
Leipzig, cidade da música
Em 2015, cidade na Saxônia celebra seu milésimo aniversário, tanto como importante centro comercial quanto meca cultural. Músicos influentes moldaram a vida de Leipzig ao longo dos séculos.
Foto: picture-alliance/dpa
Emprego para "sopradores municipais"
Em 1479 o conselho de Leipzig contratou instrumentistas de sopro como "stadpfeifer". Diariamente os "sopradores municipais" tocavam na frente da prefeitura, dando um ar de corte real à cidade, e acompanhavam festas e os cultos nas igrejas. Além de salário fixo, tinham um traje de verão e um de inverno, moradia na Stadtpfeifergasse e uma casa de banho comunitária "com fornos sobre pés de pedra".
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800 anos do coro de São Tomás
Invariavelmente associado ao compositor Johann Sebastian Bach, o renomado coro da Igreja de São Tomás foi fundado em 1212, sendo considerado um dos mais antigos do mundo. Hoje, seus cantores realizam turnês mundiais e são celebrados como astros do rock. Seu cotidiano é ditado por um cronograma de ensaios rigoroso e um estrito regime de internato.
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J.S. Bach: "kantor" e gênio musical
Em 1723 Johann Sebastian Bach foi apenas a terceira opção na escolha do "kantor" (diretor musical) da Igreja de São Tomás. Por sua vez, ele se queixava da "estranha e pouco inclinada à música" magistratura de Leipzig. Tais circunstâncias não impediram o gênio natural da Turíngia de alcançar a absoluta perfeição musical nos 27 anos que passou na cidade – hoje palco do famoso Festival Bach.
Foto: Bach-Archiv Leipzig
Ópera de longa tradição
Em 1692 o príncipe eleitor Johann Georg 3º decretou a construção de uma casa de ópera, para oferecer 15 récitas durante cada uma das três feiras anuais de comércio. Georg Philipp Telemann e Johann David Heinichen estiveram entre os compositores mais assíduos da Ópera de Leipzig, que se tornaria um importante reduto do romantismo musical. O atual prédio na Augustusplatz foi inaugurado em 1960.
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Orquestra Gewandhaus
"Res severa verum gaudium": "Alegria verdadeira é coisa séria". Em letras de pedra, a citação do filósofo romano Sêneca decora a sede da Gewandhausorchester. Fundada em 1743, a orquestra mudou-se em 1781 para o antigo salão de exposições dos comerciantes de têxteis. Daí o nome, que significa "casa de vestimentas". A atual sala de concertos da Gewandhaus, em frente à Ópera, foi inaugurada em 1981.
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Mendelssohn: mestre da leveza musical
Em 1835 a direção da Gewandhaus desejava um maestro progressista para a orquestra. Felix Mendelssohn-Bartholdy era considerado moderno, entre outros motivos, por reger com batuta, e não, como era hábito, com um rolo de papel de música. Seus concertos fizeram enorme sucesso. Na casa da Goldschmidtstrasse nº 12, onde o compositor morou até a morte, em 1847, aos 38 anos, fica o Museu Mendelssohn.
Foto: Archiv Mendelssohn-Haus
Robert Schumann: compositor e jornalista
Leipzig foi também lar de outro grande compositor, Robert Schumann. Aos 18 anos, ele começou a estudar piano com Friedrich Wieck. Suas ambições a uma carreira de virtuose se desfizeram após uma lesão no dedo, e ele se voltou para a composição. Em 1834, fundou a revista "Neue Zeitschrift für Musik", consagrando-se como um dos primeiros jornalistas musicais do mundo.
Foto: ullstein bild
Clara Schumann: estrela do piano
Friedrich Wieck iniciou a filha Clara na arte pianística. Aos 12 anos ela se apaixonou por Robert Schumann. O romance desencadeou anos de disputa entre os dois homens, só resolvida com a decisão judicial que permitiu o casamento de Robert e Clara. Ela sobreviveu o compositor em 40 anos. Antigo ponto de encontro de celebridades musicais, a residência Schumann, na rua Inselstrasse, é hoje um museu.
Foto: ullstein bild - Granger Collection
Primeiros passos de Wagner
Richard Wagner nasceu em 1813 em Leipzig, onde também frequentou a escola – quando não matava aula para secretamente aprender música. O compositor escreveu suas primeiras obras na cidade natal, que negligenciou longamente seu filho famoso. Até seu bicentenário, em 2013, quando foi inaugurada uma estátua realizada pelo escultor Stephan Balkenhol.
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Segunda era de ouro para a Gewandhaus
"Ele é como um mago diante da orquestra": assim o compositor Piotr Tchaikovsky louvava o maestro Arthur Nikisch. Meio século após a era Mendelssohn, o húngaro inaugurara uma segunda época de ouro para a Gewandhaus de Leipzig. Nikisch assumiu a direção musical da orquestra em 1895, aos 40 anos, permanecendo até a morte, em 1922.
Foto: picture-alliance/Imagno/Wiener Stadt- und Landesbibliothek
Masur: comprometido com a revolução pacífica
Em 1970, Kurt Masur foi nomeado regente titular da Gewandhaus. Sete anos depois, iniciava a construção da terceira sede da orquestra, e permaneceu no cargo por 26 anos. Em outubro de 1989 começaram em Leipzig os maiores protestos contra o governo socialista na história da Alemanha Oriental. O maestro se destacou como principal defensor de negociações pacíficas entre manifestantes e regime.