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Rave me, Amadeus

(sm)14 de agosto de 2002

Será que a música clássica enlatada poderá despertar o gosto pelos grandes compositores do passado? Seja como for, é com esta intenção que a dita "música erudita" tenta se infiltrar na cultura clubber.

Cena do musical "FMA - Falco meets Amadeus", estreado em abril, em OberhausenFoto: AP

Três DJ's londrinos querem demonstrar o poder que Mozart e Rachmaninov exercem sobre as massas, incorporando sons clássicos num mixing de abertura da maior feira internacional de música pop e de entretenimento, a Popkomm, realizada em Colônia de 15 a 17 de agosto. O show – ou melhor, concerto – faz parte da estratégia de mercado do conglomerado fonográfico Universal Classics, o maior fornecedor de música erudita nos países de língua alemã.

"Procuramos DJ's competentes em música clássica", anuncia Anne Olschewski, da área de marketing da empresa. O projeto-piloto começou em Hamburgo e Berlim, onde os DJ´s da Universal Classics invadiram os lounges com os clássicos, tentando diversificar os ouvidos viciados em house e trip-hop. A reação dos clubbers variou: um mix de surpresa, entusiasmo e ceticismo. Com a música clássica não se faz apenas amizade, é claro.

Espanando Beethoven

Mesmo assim, a Universal Classics pretende resgatar Verdi & Co. da poeira das salas de concerto e mostrar que música erudita não tem nada de elitista. Para reforçar o apelo dos clichês clássicos, já foram planejadas "noites impressionistas" em Berlim e Hamburgo, onde os clubbers podem viajar nos quadros de Monet, Renoir e van Gogh, ao som de Debussy, Ravel e Satie. Ou então assistir a filmes de Kubrick, embalados por Beethoven ou Strauss.

Fundamental é o experimento. Os DJ´s eruditos, por assim dizer, são desafiados a minar os clássicos com beats eletrônicos. Mas o imenso respeito às partituras originais parece impedi-los de ousar demais no estranhamento dos sons. "No teatro e na pintura, isso já não é novidade nenhuma", diz Olschewski, desafiando os DJ´s a quebrar tabus.

Embalo e embalagem dos clássicos

A tentativa da Universal Classics de popularizar a música clássica, injetando-a – em formato apropriado – nos canais de distribuição da cultura pop não é novidade. No ano passado, o renomado selo de música erudita Deutsche Grammophon – da Universal Classics, assim como a Decca e a Philips – já tinha lançado a série "Entretenimento encontra clássico", apresentando aos ouvintes Bach numa escolha pessoal do popular apresentador de tevê Harald Schmidt, Verdi com encarte escrito pela atriz de telenovelas Iris Berben, Wagner mediado pelo enfant terrible do novo teatro alemão Christoph Schlingensief e até Schönberg filtrado pelo teórico da cultura pop Diedrich Diedrichsen.

"O pop e o rock já eram. Hip-hop já está virando um tédio. É hora de descobrir outras coisas", já dizia há um ano o diretor do departamento de clássicos da Universal, Christian Kellersmann. Ainda não se sabe se a descoberta da música clássica para o mercado pop vai se revelar o novo trunfo da indústria fonográfica, após a bem-sucedida assimilação e massificação da cultura clubber, originalmente artesanal e local. De qualquer forma, para "educar os ouvidos" da próxima geração de consumidores da Deutsche Grammophon, a estratégia parece pouco apropriada.

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