Combates danificam instalações da usina de Zaporíjia e aumentam perigo de incêndios no local. Tropas russas se deslocam do Donbass para o sul ucraniano e guerra deve entrar em nova fase, afirma relatório de inteligência.
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A agência nuclear ucraniana Enerhoatom alertou neste sábado (06/08) para um aumento do risco de incêndios e de vazamento de radiação, devido aos combates entre tropas russas e ucranianas nas proximidades da usina nuclear de Zaporíjia.
O local, segundo o órgão, "opera sob risco de violação das normas de radiação e proteção ao fogo". Ataques de artilharia no dia anterior danificaram uma usina de nitrogênio e uma seção auxiliar da usina nuclear, afirmou a agência. "O risco de vazamento de hidrogênio e da dispersão de partículas de radiação continua, e o perigo de um incêndio é bastante alto."
Uma rede de alta voltagem também foi atingida, levando os operadores da usina a desativarem um dos reatores, ainda que nenhum vazamento tivesse sido detectado. O local ainda é administrado por técnicos ucranianos.
Os funcionários continuam trabalhando para manter os níveis de segurança na maior usina nuclear da Europa, mas a ameaça gerada pela ocupação russa da usina é significativa, diz a Enerhoatom.
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Guerra entra em "nova fase"
O Exército russo passou a acumular suas tropas mais ao sul na Ucrânia antes do início de uma contraofensiva por parte de Kiev, enquanto a guerra parece chegar a uma nova fase, afirma relatório de inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido divulgado neste sábado.
O ministério avalia que os combates mais intensos ocorrerão em uma faixa de 350 quilômetros a partir de Zaporíjia, mais próxima à região do Donbass, até Kherson, paralelamente ao rio Dnipro.
Zaporíjia é localizada na parte sudeste do mesmo rio, enquanto Kherson é conectada com a Península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, através de uma rota de grande importância estratégica.
O relatório afirma que longos comboios de caminhões militares, tanques, reboques de artilharia e outros armamentos continuam a se afastar da região do Donbass rumo ao sudeste.
"Há também registros de equipamentos sendo transportados das cidades ocupadas de Melitopol, Berdiansk e Mariupol e do território da Rússia até a Crimeia através da ponte Kerch."
A inteligência britânica afirma que forças ucranianas no sul do país tentam interromper as linhas de abastecimento das tropas russas, ao danificar ou destruir infraestruturas como estradas e pontes.
Rússia relata morte de 600 soldados inimigos
O Ministério russo da Defesa afirmou neste sábado que suas tropas mataram quase 600 soldados ucranianos e aliados, incluindo mais de 80 "mercenários estrangeiros", em ataques aéreos e de artilharia nos últimos dias, nas regiões de Kherson e Dnipropetrovsk.
O Kremlin também disse ter destruído vários sistemas de artilharia ucranianos, incluindo lançadores múltiplos de mísseis Himars, fornecidos pelos Estados Unidos. Relatos semelhantes feitos anteriormente por Moscou foram negados por Kiev e Washington.
rc (DPA)
Os últimos habitantes de Chernobyl
Os arredores da cidade ucraniana continuam inabitáveis 32 anos depois do acidente nuclear. Mas algumas pessoas já voltaram para suas casas. O cotidiano delas foi fotografado por Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
O otimismo de Baba Gania
Baba (mulher, senhora) Gania (e) tem 86 anos. Há dez, ela é viúva e, há 25, cuida da irmã Sonya, portadora de deficiência mental. "Não tenho medo da radiação. Cozinho os cogumelos até sair tudo", explica. A fotógrafa ucraniana Alina Rudya a visitou várias vezes: "É a pessoa mais calorosa e gentil que eu conheço", diz.
Foto: DW/A. Rudya
Casas vazias, indício de fuga apressada
Gania e a irmã vivem em Kupuvate, um vilarejo na área restrita que foi delimitada num raio de 30 km ao redor das ruínas da usina nuclear de Chernobyl. Depois da explosão do reator, em abril de 1986, 350 mil pessoas precisaram deixar a região. A maioria das casas em Kupuvate ficou vazia. Gania usa essa casa nas proximidades para guardar o seu caixão e o da irmã.
Foto: DW/A. Rudya
A volta dos mortos
"Na verdade, o cemitério de Kupuvate se parece com qualquer outro cemitério dos vilarejos da Ucrânia", conta Alina Rudya. "Muitas pessoas hoje enterradas aqui tiveram de abandonar a região depois da catástrofe e passaram a vida fora da área de radiação nuclear. Eles só voltaram depois de morrer", relata.
Foto: DW/A. Rudya
O último desejo de Baba Marusia
Os poucos que ficaram cuidam dos restos mortais dos familiares – como Baba Marusia, que veio até o túmulo da mãe. A filha vive em Kiev com o marido e duas crianças. "Fico feliz de ter ficado aqui", diz Baba Marusia. "Aqui é minha casa. Quero ser enterrada aqui." E acrescenta: "Mas do lado da minha mãe, não do meu marido."
Foto: DW/A. Rudya
Samosely: voltando para ficar
"Samosely" é como são chamados os habitantes que voltaram e vivem ilegalmente dentro da área de exclusão de Chernobyl. Galyna Ivanivna é um deles. "Minha vida passou como um raio. Tenho 82 anos e parece que nunca vivi. Quando era mais jovem, sonhava em viajar pelo mundo inteiro. Mas eu nunca consegui ir além de Kiev", recorda.
Foto: DW/A. Rudya
Vivendo no próprio mundo
Ivan Ivanovich e sua mulher também fazem parte das poucas centenas de habitantes que mudaram de volta para a área contaminada por radiação nuclear nos anos 1980. Entre os turistas que visitam a região, Ivan se tornou uma espécie de celebridade. "Ele conhece inúmeras histórias que oscilam entre verdade e imaginação", explica Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
Testemunhas mudas do passado
Uma semana antes do aniversário de 32 anos da catástrofe de Chernobyl, no dia 26 de abril, Alina Rudya foi à vila de Opachichi. Segundo ela, apenas uma mulher idosa ainda vive aqui – os outros habitantes já morreram. Suas casas vazias ficam abertas como testemunho mudo, mas eloquente, do ocorrido, através de fotos, calendários, cartas, toalhas bordadas e móveis.
Foto: DW/A. Rudya
Despedida a prestação
Marusia observa o marido, Ivan, dormindo. Ele teve um AVC recentemente e sofre de demência. "Às vezes, ele acorda à noite e sai procurando o seu trator. Trabalhou com o veículo por 42 anos." Ela diz que o desejo de morrer está vindo lentamente para ela. "Não quero ser um fardo para meus filhos e netos", afirma.
Foto: DW/A. Rudya
Prevenidos para a morte
Antes de ficar doente, Ivan, marido de Marusia, ainda construiu dois caixões para estar preparado para a própria morte e a morte da mulher. Os caixões ficam num galpão, diretamente ao lado da bicicleta velha. "O de baixo é meu, e o de cima é o do meu marido", explica Marusia.
Foto: DW/A. Rudya
Os últimos "samosely"
Apenas poucos samosely ainda vivem na zona de exclusão. Alina Rudya, que também nasceu perto de Chernobyl, os visitou várias vezes e fez retratos de alguns para um projeto fotográfico de longo prazo que ela quer publicar em livro. "Visitar os vilarejos abandonados está ficando cada vez mais triste. Toda vez que eu venho, alguém morreu, porque quase todos têm mais de 70 anos", explica.