Confrontos na cidade terminam com acordo para rebeldes deixarem a região. Segundo Moscou, regime sírio já controla completamente Aleppo, e operações militares cessaram.
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Depois de anos de batalha e meses de intensos bombardeios, o fim dos confrontos em Aleppo foi alcançado nesta terça-feira (13/12) com um acordo que prevê a retirada dos combatentes rebeldes da segunda maior cidade síria. Os insurgentes já começaram a deixar a região.
Segundo o embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin, o Exército da Síria já controla toda a cidade e cessou suas operações militares. A ofensiva para a retomada de Aleppo contou com o apoio de bombardeios conduzidos por Moscou, do Irã e de milícias regionais xiitas.
Churkin disse que as operações militares acabaram com o início da aplicação de um acordo para permitir a saída dos combatentes rebeldes da cidade. Segundo um repórter da Reuters, os bombardeios aparentemente cessaram.
O representante de Moscou disse esperar que o fechamento deste "difícil capítulo" permita retomar as negociações de paz na Síria e dar apoio humanitário em grande escala à população da região.
Os rebeldes têm até a noite desta quarta-feira para deixar a cidade. Além de insurgentes e seus familiares, civis também estão saindo de Aleppo. O cessar-fogo que estabelece o fim da batalha foi negociado pela Turquia, aliada dos insurgentes, e pela Rússia, que apoia Assad.
Churkin afirmou que os rebeldes já começaram a deixar a cidade por corredores estipulados para áreas que eles mesmos escolheram, inclusive para Idlib, região controlada por insurgentes.
A retirada é uma grande derrota para a oposição. No entanto, o fim da batalha em Aleppo não significa o fim da guerra no país, que continua com combates entre militares sírios e insurgentes na província de Idlib e contra jihadistas do "Estado Islâmico" (EI) em regiões no leste do país.
Antes do anúncio do acordo, o Exército sírio já havia recuperado mais de 90% do território no leste do município, que estava sob controle dos rebeldes desde 2012.
Atrocidades contra civis
A derrota dos insurgentes levou uma massa de civis apavorados a deixar as áreas de Aleppo que eram controladas por grupos opositores do regime. Segundo a ONU, hospitais estão fechados, e falta água e comida nesses bairros.
A ONU denunciou ainda nesta terça-feira que as forças que apoiam o regime sírio teriam executado ao menos 82 civis, incluindo 11 mulheres e 13 crianças, "provavelmente nas últimas 48 horas" em quatro bairros do leste Aleppo recuperados dos rebeldes.
"Os relatos revelam que pessoas foram baleadas nas ruas ao tentar fugir e baleadas em suas casas. O número de vítimas pode ser maior", afirmou o porta-voz da ONU Rupert Colville.
Moscou e Damasco negaram o assassinato de civis e de rebeldes capturados. A Rússia acusou ainda os insurgentes de estarem usando civis no leste de Aleppo como escudos humanos.
A batalha em Aleppo foi uma das piores na guerra civil, que teve início em 2011. Dos 275 mil civis que se estimava viverem na cidade no início da recente ofensiva, cerca de 70 mil deixaram a região somente nos últimos dias.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos afirmou nesta segunda-feira que a guerra no país matou mais de 312 mil pessoas desde março de 2011, incluindo 90 mil civis, entre os quais 16 mil crianças.
O número de mortos inclui mais de 53 mil rebeldes e cerca de 110 mil combatentes pró-regime, entre forças do governo e milicianos, também estrangeiros. A ONG disse ainda que 55 mil jihadistas foram mortos em combates.
CN/ap/rtr/afp/lusa/efe
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.