Insurgentes apoiados pela Turquia retomam controle de Dabiq, no norte da Síria. Considerada símbolo religioso para jihadistas, cidade foi cenário de vídeos e dá nome à revista mensal publicada pelo "Estado Islâmico".
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Os rebeldes sírios apoiados pelas forças da Turquia tomaram neste domingo (16/10) o controle da cidade de Dabiq, na província de Aleppo, perto da fronteira sírio-turca, no norte do país abalado pela guerra civil, informou a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), sediada em Londres.
O OSDH detalhou que os rebeldes e seus aliados turcos recuperaram o domínio de Dabiq, que estava em mãos do "Estado Islâmico" (EI), menos de 24 horas depois do início da ofensiva, na qual obrigaram os jihadistas a deixar a cidade. "Os rebeldes assumiram o controle de Dabiq depois da retirada da localidade de jihadistas do EI", afirmou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que dispõe de uma vasta rede de fontes na Síria.
Os combatentes do EI começaram a deixar Dabiq durante a noite e se transferiram para outras áreas sob controle do grupo no nordeste da província de Aleppo. A agência de notícias turca Anadolu confirmou, por sua vez, que as milícias rebeldes sírias, reunidas sob a sigla do Exército Livre da Síria (ELS) e apoiadas pela Turquia, tomaram Dabiq e expulsaram o EI.
Dabiq foi conquistada pelo EI em agosto de 2014, serviu de cenário para alguns de seus vídeos e dá nome à revista mensal publicada em inglês pelo grupo. Para o EI, Dabiq é uma das cidades mais importantes devido a sua simbologia religiosa, pois o grupo acredita numa profecia segundo a qual uma batalha final entre cristãos e muçulmanos acontecerá nela, com a vitória dos muçulmanos.
Os rebeldes, apoiados por tanques e aviões turcos, também conquistaram a vizinha Soran, afirmou Ahmed Osman, chefe do grupo Sultão Murad, um das facções do Exército Livre da Síria (ELS) envolvidas nos combates da noite de sábado e manhã deste domingo. "O mito da grande batalha do Daesh em Dabiq acabou", disse Osman à agência de notícias Reuters, usando um termo pejorativo para definir os combatentes do "Estado Islâmico".
O EI também está diante de uma ofensiva esperada para breve contra o seu principal bastião iraquiano, a cidade de Mossul, enquanto as Forças Democráticas da Síria, dominadas pelos curdos e apoiadas pelos EUA, também ameaçam avançar sobre Raqqa, capital do EI na Síria.
CA/efe/lusa/rtr
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.