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Cidadania

27 de março de 2009

O trabalho de inclusão de pessoas com deficiência feito em Recife foi escolhido para representar os projetos apoiados pela Kindernothilfe no Brasil. A agência de desenvolvimento comemora 50 anos.

O Projeto Cervac trabalha pela inclusão de jovens com deficiênciaFoto: Studnar/Kindernothilfe

Uma vida passada na rua, muitas vezes sofrendo discriminação, maus-tratos e exploração sexual. Como crianças e adolescentes que vivenciam tal realidade podem nutrir esperanças de um futuro melhor?

Para muitos desses jovens, os fatos valem mais que os sonhos. Diante de relações familiares fragilizadas, da falta de dinheiro e de tantas outras dificuldades, o caminho mais fácil acaba sendo o envolvimento com atividades ilícitas, em especial com o tráfico de drogas.

Com o objetivo de ajudar esses meninos e meninas a mudar o seu destino, a agência de desenvolvimento alemã Kindernothilfe (KNH) apoia projetos sociais na América Latina, na África, na Ásia e no Leste Europeu. Fundada em 1959, na Alemanha, a entidade comemora 50 anos nesta sexta-feira (27/3), na sede em Duisburg. A festa de aniversário contará com a presença de colaboradores e convidados, entre eles brasileiros.

Projeto Cervac, em Recife

No centro existe uma área de atenção à saúdeFoto: Studnar/Kindernothilfe

Duas representantes do Centro de Reabilitação e Valorização da Vida (Cervac), de Recife, Pernambuco, vieram à Alemanha para as comemorações. O trabalho de inclusão realizado pela entidade junto às pessoas com deficiência foi escolhido para representar os projetos apoiados pela KNH no Brasil.

A iniciativa começou pequena, a partir do nascimento de Gisele Lopes. A garota, hoje com 26 anos, tem síndrome de down e é o símbolo do trabalho desenvolvido na entidade.

Foi a partir da descoberta da doença de Gisele que uma prima e mais duas amigas, entre elas Mauricéa da Silva, pesquisaram na comunidade onde moram – no Morro da Conceição, região metropolitana de Recife – se havia outras crianças com as mesmas dificuldades.

"Quando a Gisele nasceu e soubemos da doença foi chocante. Ninguém esperava. Não estávamos preparados", conta Mauricéa.

Então as amigas, que na época trabalhavam como agentes de saúde, começaram a bater de porta em porta e descobriram que, dos seis mil moradores, 64 tinham algum tipo de deficiência. "Achamos o número expressivo. Mas até identificar os casos demorou. As famílias tinham vergonha. Encaravam a situação com preconceito e escondiam as crianças."

Foi então que elas decidiram reunir as famílias e promover uma semana de lazer, com jogos e brincadeiras. "Ao final, perguntamos o que as pessoas acharam e a resposta foi superpositiva. A partir daquele dia o trabalho não parou mais", conta Mauricéa, com orgulho.

Hoje, o centro oferece uma área de atenção à saúde e outra dedicada à educação inclusiva, com ensino infantil e educação de jovens e adultos, em parceria com a prefeitura.

A partir da contribuição dos parceiros, nacionais e internacionais, entre eles a KNH, tem-se o objetivo de ampliar os trabalhos e contruir uma nova sede para o Cervac.

Trabalhadora e independente

Gisele Lopes, vice-coordenadora do CervacFoto: Studnar/Kindernothilfe

E a motivadora de tudo, Gisele Lopes, é exemplo de superação. Há pouco tempo terminou o Ensino Médio e já pensa em prestar vestibular. "Quero fazer o curso de secretariado", diz a jovem, que hoje é a vice-coordenadora do Cervac.

Ela também recebe convites de escolas da região para falar sobre a importância do apoio da família no desenvolvimento dos portadores de deficiência. Maria de Jesus Lopes Albuquerque, mãe de Gisele, chegou a ingressar na faculdade para se tornar professora de educação especial, como forma de ajudar a filha.

Gisele, mesmo tendo que enfrentar o preconceito, inclusive numa das escolas onde estudou, conseguiu superar as dificuldades e hoje se define como uma pessoa feliz. "Sou decidida, trabalhadora, estudiosa e independente. Luto pelo que quero", diz, convicta.

Pelo direito das crianças e adolescentes

No Brasil, a KNH iniciou seu trabalho em 1971, com o objetivo de efetivar os direitos das crianças e adolescentes, conforme previsto na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Hoje, a entidade é atuante em 14 estados.

Para a KNH, a meta é fazer com que os participantes dos projetos acreditem num futuro para além da pobreza e da violência, tão presentes nas comunidades carentes do país. Por isso, apoia projetos já existentes no Brasil, ao repassar os recursos recebidos de doações alemãs.

A aplicação da verba é conferida periodicamente em todos os estados participantes. Conforme o coordenador da KNH Brasil Sul, Sergio Soares, há rigoroso controle sobre o destino do dinheiro, para garantir que ele realmente chegue às crianças. "Temos uma pessoa que acompanha apenas isso e confere in loco os documentos de cada parceiro", garante.

Como ajudar?

Por enquanto, as contribuições para a KNH são feitas apenas por alemães. Entretanto, está sendo elaborado um novo site voltado para o trabalho da entidade no Brasil, onde constarão telefones de contato e informações a respeito dos projetos apoiados em cada região. Até o momento, não há uma data prevista para a inauguração do portal.

Autor: Caroline Eidt

Revisão: Alexandre Schossler

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