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Recuperação pós-covid ameaça o clima e a saúde, diz estudo

21 de outubro de 2021

Com uma recuperação da pandemia baseada em combustíveis fósseis, a crise climática se agravará, facilitando a disseminação de doenças como dengue e zika e aumentando a insegurança alimentar no mundo, alertam cientistas.

Pacientes com covid e dengue em hospital de Bangladesh
Pacientes com covid e dengue em hospital de BangladeshFoto: Mortuza Rashed/DW

Uma recuperação após a pandemia de covid-19 impulsionada por combustíveis fósseis terá como consequência o agravamento da insegurança alimentar e das crises climática e sanitária que ameaçam milhões de pessoas no mundo. É que aponta o The Lancet Countdown, o maior estudo anual sobre os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde humana, publicado nesta quinta-feira (21/10).

"A mudança climática está aqui, e já estamos vendo como ela prejudica a saúde humana em todo o mundo", afirma Anthony Costello, diretor-executivo do The Lancet Countdown, vinculado à revista médica The Lancet. "Enquanto a crise da covid-19 continua, cada país enfrenta também algum aspecto da crise climática.”

É preciso aproveitar a oportunidade que se abriu com a pandemia. "Nós temos a escolha. A recuperação após a covid-19 pode ser uma recuperação verde, com a qual abrimos o caminho para uma melhor saúde humana e uma menor desigualdade. Ou pode seguir o velho esquema e nos colocar todos em perigo", diz.

Atualmente, apenas um quinto do dinheiro investido na recuperação pós-pandemia contribuirá para uma redução das emissões de gases de efeito estufa, critica Maria Romanello, principal autora do estudo.

"Estamos nos recuperando de uma crise de saúde sanitária de um jeito que coloca nossa saúde em risco", afirma.

Em um editorial, a Lancet pediu que líderes mundiais que se reunirão na próxima Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) destinem parte dos trilhões que estão gastando para a recuperação dos efeitos da pandemia de covid-19 para reduzir a desigualdade e proteger a saúde.

A equipe internacional de pesquisadores envolvidos no estudo pediu também que sejam definidas medidas ambiciosas e concretas para que seja possível alcançar a meta estabelecida pelo Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais.

Doenças infecciosas

O relatório The Lancet Countdown expõe a visão de cientistas de 38 instituições acadêmicas e agências da ONU. Segundo os pesquisadores, as mudanças climáticas aumenta a probabilidade de que doenças infeciosas se disseminem.

"As mudanças climáticas estão criando as condições ideais para a transmissão de doenças infecciosas, potencialmente desfazendo décadas de progresso para controlar doenças como dengue, zika, malária e cólera", diz o relatório .

O estudo, que acompanha 44 indicadores de impactos na saúde diretamente ligados às mudanças climáticas, aponta que, em geral os sistemas de saúde nacionais estão mal preparados para choques atuais e futuros induzidos pelo clima.

Segundo os pesquisadores, surtos de dengue, chikungunya e zika serão mais prováveis também em países europeus. Além disso, no norte da Europa e nos Estados Unidos, mais bactérias deverão se disseminar.

O estudou advertiu também que quase três quartos dos países avaliados reconheceram não ter capacidade de colocar em prática uma estratégia nacional de saúde combinada a uma estratégia climática.

Insegurança alimentar

Além disso, o relatório adverte que secas e incêndios florestais mais frequentes ameaçam a segurança alimentar. Em 2019, mais de 2 bilhões de pessoas já foram afetadas pelo problema, e o número pode aumentar dramaticamente, alertam os pesquisadores.

O estudo aponta que as interrupções no ciclo da água devido ao aquecimento global afetam as colheitas e pressionam a produção de alimentos. No caso do milho, por exemplo, a produtividade caiu 6% em relação aos níveis de 1981-2010, enquanto a do trigo recuou 3%, e a do arroz, 1,8%.

Os alimentos provenientes do mar, dos quais 3,3 bilhões de pessoas dependem, enfrentam uma "ameaça crescente" pelo aumento da temperatura marítima de quase 70% em 15 anos.

"Neste ano, vimos pessoas sofrendo com intensas ondas de calor, inundações mortais e incêndios florestais", diz Maria Romanello, principal autora do The Lancet Countdown. "Estas são advertências sérias de que para cada dia que atrasamos nossa resposta à mudança climática, a situação será mais crítica. É hora de reconhecer que ninguém está a salvo dos efeitos da mudança climática”, conclui.

lf (DPA, AFP, Lusa)

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