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Memória

DW/Agências (fm/ca)18 de dezembro de 2008

Alemanha e seis países do antigo bloco soviético criam rede para melhor elucidar crimes de polícias secretas comunistas. Próximo de onde estava o Muro de Berlim, o local de assinatura não poderia ser mais simbólico.

Países europeus querem trabalhar melhor seu passado soviéticoFoto: AP

O departamento alemão responsável pelos arquivos da Stasi, a polícia secreta da ex-Alemanha Oriental, e órgãos governamentais semelhantes da Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária assinaram nesta semana em Berlim a fundação de uma rede européia.

Seu objetivo é promover o intercâmbio da experiência acumulada pelos sete países europeus que faziam parte do antigo bloco soviético, entre outras coisas, através de conferências anuais e, sobretudo, proporcionar às vítimas dos regimes arbitrários acesso irrestrito a seus próprios arquivos pessoais mantidos pelas polícias secretas.

O local para a assinatura do acordo não podia ser mais simbólico. Marianne Birhler, diretora do órgão alemão, e os respectivos colegas se encontraram na Europäisches Haus (Casa da Europa) junto ao Portão de Brandemburgo. A poucos metros dali, até fins de 1989, passava o Muro de Berlim.

Elucidação transnacional das ditaduras comunistas

Marianne Birthler dirige órgão alemãoFoto: AP

Para Birthler, um sonho há muito desejado tornou-se realidade: a elucidação transnacional das ditaduras comunistas. Claro que já houve contatos entre as agências governamentais no passado, mas nenhuma cooperação sistemática. Isso vai mudar através da nova rede européia. Segundo Birthler, um de seus projetos é divulgar não só através da internet o trabalho realizado nos sete países. Idéias e planos não faltam, embora as condições de realização difiram bastante de país para país.

Na República Tcheca, por exemplo, os crimes comunistas vêm sendo investigados desde meados dos anos 90. O acesso aos arquivos, no entanto, só passou a ser permitido há 10 meses, explicou Miroslav Lehky, do departamento responsável em Praga.

Os tchecos possuem muito mais arquivos do que as autoridades alemãs. Lehky explicou que dispunham "não somente da polícia secreta, mas também de todas as organizações repressoras do Estado comunista, ou seja, dos serviços de inteligência militar e civil e das tropas de fronteira. Agora estamos com tudo à disposição para ser analisado. E, obviamente, queremos abrir o acesso a tudo".

História diversa e contraditória

Rede de países quer ampliar acesso a arquivosFoto: AP

A Bulgária, por outro lado, tem grande necessidade de recuperar o tempo perdido. Até conseguirem uma sede própria, os esclarecedores dos crimes da polícia secreta no país tiveram que lutar por muito tempo. Evtim Kostadinov, diretor dos arquivos búlgaros, afirmou que o principal objetivo é possibilitar seu acesso a todos. Mas adverte que há ainda "uma segunda tarefa importante, que é divulgar o nome de personalidades públicas que foram, no passado, funcionários oficiais e inoficiais dos serviços secretos".

Outro objetivo da nova rede européia, afirmou Marianne Birthler, é fomentar iniciativas semelhantes em antigos países comunistas nos quais ainda não exista uma elucidação sistemática. Em primeira linha, ela pensa na Eslovênia e nos países bálticos, que também pertencem agora à União Européia.

"Não é possível pensar em uma Europa unida e livre sem a consciência de sua história diversa e contraditória", explicou Birthler, na ocasião da assinatura do acordo. Segundo ela, a história dos antigos países de governo comunista assume assim um importante papel "como uma das duas mais importantes experiências ditatoriais da Europa".

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