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Redescoberta tardia

Neusa Soliz9 de março de 2003

Incompreendido pelos alemães durante décadas, o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer obtém agora reconhecimento, enquanto Brasília é redescoberta na busca de novos padrões estéticos.

Oscar NiemeyerFoto: Archive Oscar Niemeyer

Oscar Niemeyer realizou um único projeto na Alemanha em 1955: um conjunto habitacional em Berlim, respondendo à convocatória feita a arquitetos de todo o mundo para a feira Interbau. No entanto, o prédio não saiu a contento do brasileiro, pois foram feitas modificações na fachada e suprimido um andar intermediário, imaginado como um espaço comum com cinema e lojas, como expuseram à DW-WORLD os curadores de duas restrospectivas do arquiteto, Cecília Scharlach, de São Paulo, e Paul Andreas, de Frankfurt.

Curvas, monumentalismo e implicâncias

No entanto, o seu descontentamento não foi a razão de não haver mais construções assinadas pelo brasileiro. Niemeyer era demasiado moderno para os alemães que, impregnados pelo cubismo e o funcionalismo de Le Corbusier e da Bauhaus, implicaram com as suas curvas e liberdades. Suas formas arrojadas e orgânicas não passariam de "formalismo".

Edifício Copan, São PauloFoto: Michel Moch

Um papel fundamental na recepção negativa dos seus trabalhos na Alemanha coube ao arquiteto e designer suíço Max Bill, que fundou a Escola Superior de Design de Ulm, na Alemanha. Ele voltou horrorizado de uma viagem ao Brasil nos anos 50. Em palestra na FAU, em São Paulo, advertiu os arquitetos brasileiros contra o "desperdício anti-social" e uma arquitetura não adaptada às condições do país.

Niemeyer e as duas Alemanhas

O monumentalismo de Niemeyer – relacionado em parte aos espaços amplos do Brasil – não foi entendido e não agradou numa Alemanha que acabava de sair da Segunda Guerra. A guerra fria e a divisão alemã também dificultaram a aceitação do brasileiro na Alemanha Ocidental. Comunista, Oscar Niemeyer interessou-se pela República Democrática Alemã (RDA), esteve em Berlim Oriental, onde fez palestras na Universidade Técnica e reuniu-se várias vezes com Hermann Henselmann, o principal arquiteto e urbanista da Alemanha Oriental.

Embora não fizesse nenhum projeto na extinta RDA, a arquitetura de Niemeyer "teve uma grande influência sobre toda a construção civil na RDA, na década de 60", observa Elmar Kossels, um dos autores do livro "Oscar Niemeyer – Um mito do modernismo", lançado juntamente com a exposição.

Redescoberta: back to the future

Palácio da Alvorada, BrasíliaFoto: Michel Moch

Com a consagração das formas livres e orgânicas, os arquitetos alemães têm uma outra imagem de Niemeyer atualmente. "Com o computador, hoje se tem condições de desenvolver estruturas cada vez mais amorfas", comentou Paul Andreas à DW-WORLD, "e então se descobre que Niemeyer já havia criado formas livres semelhantes, embora com outros meios técnicos, ou seja, o desenho. Com essa conscientização, valoriza-se muito mais o seu trabalho", conclui.

O que ocorre, na verdade, é bem mais que isso: o design moderno, à procura de inspiração, recorre cada vez mais ao pop e aos ícones do em que, em outras épocas, era considerado moderno. Em seu artigo "De volta ao futuro – Oscar Niemeyer e o Retrofuturismo", Niklas Maak afirma que justamente Brasília, a cidade "que saiu da retorta, desprezada como a Babilônia de um modernismo tecnocrático e desumano, transformou-se, em poucos anos, na meca de um novo movimento que, além da arquitetura, imprimiu suas marcas também na estética atual".

Nova estética e a força simbólica de Brasília

Niemeyer diante do Museu de Arte Contemporânea em NiteróiFoto: Juliana Zucolotto/Archive Oscar Niemeyer

O renascimento desse "modernismo pop" influenciado por Niemeyer já teria chegado a Berlim. Como exemplo, Maak cita a construção de um centro de diversões chamado Tempodrom. O projeto de Doris Schäffler e Stephan Schütz lembra notoriamente a catedral de Brasília. Ao mesmo tempo, destacados arquitetos jovens, como Hadi Teherani, de Hamburgo, ou o americano Greg Lynn, declaram publicamente sua admiração por Niemeyer.

O que teria provocado isso? Pura nostalgia? Não necessariamente. Com toda a revolução tecnológica e passadas tantas tendências, teríamos chegado a uma era sem estética própria. Trata-se, portanto, de preencher esse vazio niilista, recorrendo-se às "visões de futuro da última época que acreditou de fato no modernismo". E a capital brasileira seria a quintessência disso tudo, por ter sido criação pura, construída do nada, da fé na modernidade.

Museu de Arte Contemporânea, NiteróiFoto: http://www.instituto-camoes.pt/revista/revista11l.htm

"Brasília é o maior símbolo de se construir algo totalmente novo", diz Frank Lotze, citado no livro lançado por ocasião da retrospectiva na Alemanha e, como ela, intitulado "Oscar Niemeyer – Eine Legende der Moderne". Lotze é publicitário e trabalha para a agência Jung von Matt, uma das que se destaca na nova onda estética. Ela foi responsável pela milionária campanha da empresa alemã de correios Deutsche Post, cujos spots foram filmados em Brasília.

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