Cortes na cultura
5 de janeiro de 2011Em 2010, a região do Vale do Ruhr, na Alemanha, foi celebrada como capital cultural europeia, com investimentos milionários a fim de promover a região como uma metrópole cultural em ascensão. No mesmo ano, contudo, o cenário cultural do país passou por uma série de reveses. Orçamentos foram reduzidos, afetando a existência de várias casas renomadas de teatro e ópera do país.
"É a sentença de morte" das artes cênicas, profetizou Marco Albrecht, da Deutsches Schauspielhaus de Hamburgo, em setembro do ano passado, após ouvir que a prefeitura pretendia reduzir pela metade as verbas destinadas aos teatros da cidade. A Schauspielhaus é um dos maiores teatros do país.
"Não seríamos capazes de encenar uma só peça", afirmou Karin Beier, diretora da Schauspiel de Colônia, em resposta à proposta da administração municipal de cortes severos em seu orçamento. Ironicamente, a casa que Beier dirige levou os prêmios de "Produção do Ano" e "Teatro do Ano" em 2010. O que deixou claro que os cortes nas verbas não afetam necessariamente a qualidade das produções.
Cenário cultural
O fomento à cultura é, na Alemanha, via de regra domínio da administração federal e, às vezes, das autoridades locais. No rastro da crise financeira, os rombos orçamentários resultaram em propostas para sacrificar instituições culturais que dependem de recursos do Estado para sobreviver.
Mas protestos de cidadãos em diversas regiões do país e a solidariedade entre os teatros forçaram os legisladores a repensar seus planos e frear um pouco os cortes previstos. Mesmo assim, a situação dramática desencadeou um debate sobre o fomento do setor cultural através de dinheiro do Estado e um questionamento sobre até que ponto a arte deverá continuar a receber recursos quando os gastos públicos em todas as outras áreas estão sob pressão.
"Está mais do que na hora de cortar", escreveu uma das principais publicações econômicas da Alemanha, a revista WirtschaftsWoche, em novembro último, afirmando que "até agora os teatros públicos e óperas viveram num mundo paralelo, isolados do resto da vida econômica do país".
Por outro lado, a resistência da população revelou como as instituições públicas culturais estão ligadas às cidades onde estão situadas. Os teatros – especialmente as peças infantis e juvenis – são importantes mediadores culturais, aponta Rolf Bolwin, diretor de uma organização que reúne teatros e orquestras na Alemanha. "As responsabilidades públicas têm que ser financiadas com dinheiro público", afirmou Bolwin à Deutsche Welle.
Busca de saídas
Uma das casas sob pressão financeira é o Teatro Thalia de Halle, perto de Leipzig, uma das poucas instituições a oferecer peças infantis na região. No momento, o teatro, que já existe há 60 anos, está sofrendo cortes em seu orçamento e tentando se tornar economicamente independente, a fim de sobreviver.
Algumas casas já conseguiram passar por essa transição. A Festspielhaus da rica Baden-Baden, por exemplo, no sudoeste do país, já se transformou de teatro público em instituição independente. O fator-chave para o sucesso são significativas doações privadas.
Mas apenas poucos teatros do país conseguirão gerar os fundos necessários para se manterem independentes das verbas públicas, se quiserem continuar oferecendo ao público encenações de qualidade. E como os orçamentos federais e municipais tendem a sofrer cada vez mais cortes, é possível que o debate sobre o assunto esteja apenas começando.
Autor: David Schnicke (sv)
Revisão: Alexandre Schossler