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Reeleição de Santos reflete polarização de colombianos no combate às Farc

Fernando Caulyt16 de junho de 2014

Em tom de referendo, Juan Manuel Santos é reeleito presidente, com margem estreita. Mesmo com apoio da população ao diálogo de paz, mandatário terá que levar em conta parte dos eleitores que quer "paz sem impunidade".

Foto: picture-alliance/ap

Em tom de referendo, os colombianos foram às urnas neste domingo (15/06) para escolher entre duas receitas quanto às negociações de paz entre o governo do país e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). De um lado, o candidato à reeleição, Juan Manuel Santos, queria manter o diálogo em curso com os rebeldes. Do outro, o oposicionista Óscar Iván Zuluaga propunha mão de ferro e o endurecimento das condições aos guerrilheiros para prosseguir com os diálogos de paz.

Durante a campanha eleitoral, Santos enviou à população sinais claros de que somente sua reeleição levaria adiante um acordo de paz com as Farc. Tanto os recentes avanços em relação às negociações com o grupo rebelde quanto o anúncio do início do diálogo com o segundo grupo guerrilheiro mais importante do país, o Exército de Libertação Nacional (ELN), aceleraram a vitória de Santos, já que Zuluaga tinha a intenção de usar outros métodos para atingir a paz.

Mas, no final, a estratégia de Santos deu certo. O atual presidente, que está no poder desde 2010, venceu o segundo turno das eleições com quase 51% dos votos e vai governar por mais quatro anos. Já Zuluaga, que havia ganhado o primeiro turno realizado em 25 de maio – por 25,69% a 29,25% – recebeu 45% dos votos na segunda rodada. A vitória apertada de Santos mostra como a população do país está dividida no que se refere às negociações com as Farc.

Segundo Hubert Gehring, diretor da Fundação Konrad Adenauer na Colômbia, "a vitória estreita é sinal de que há um grande grau de polarização em relação a dois assuntos". Em primeiro lugar, estão "as condições que as Farc impõem na hora de negociar, como o grau de impunidade que os colombianos estão dispostos a aceitar para conquistar a desmobilização da guerrilha". "A outra questão é o setor da sociedade que defende o retorno das políticas do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), que seguiu a linha dura, e o setor que se opõe a esta forma de ação", enumera Gehring.

Caso fosse eleito, Zuluaga (esq.) pretendia ofensiva militar contra as FarcFoto: picture-alliance/dpa

Para Roberto Gondo, professor de Comunicação Política da Universidade Mackenzie, a inclusão do ELN nas negociações de paz contribuiu para convencer uma parcela da população que estava em dúvida do voto final. Esses eleitores têm preferência pelo caminho da moderação, agora que é menor o poder de retaliação das Farc e do ELN contra o sistema, por intermédio da guerrilha armada.

"Outro ponto importante que levou à vitória foi o posicionamento de Santos nos seus discursos e spots eleitorais, em que se colocava fortemente favorável a uma Colômbia sem conflitos e violência, enaltecendo uma imagem pública de líder pela paz e desenvolvimento do país, caminhando para o lado patriótico, mais aderente e positivamente aceito pela população do que na eleição passada", analisa Gondo.

Colombianos estão há meio século no fogo cruzado entre governo e FarcFoto: AP

"Paz sem impunidade"

Com o sinal verde dado pela população, Santos pretende entrar para a história como o homem que acabou um conflito de meio século, que custou a vida de mais de 200 mil pessoas. Nos últimos 30 anos, esta é a quarta tentativa de um acordo de paz entre o governo da Colômbia e o comando das Farc. As conversas atuais começaram em novembro de 2012 em Oslo, na Noruega, e prosseguem na capital cubana, Havana.

Mas o caminho para a paz é ainda muito longo. Depois de alcançar acordos parciais com as Farc para garantir a reforma agrária, o exercício político dos antigos guerrilheiros e o fim do narcotráfico, dois temas espinhosos ainda estão sobre a mesa de discussões: a compensação das vítimas da guerra entre a guerrilha e o governo colombiano; e, também, os mecanismos para acabar com o conflito armado. E Santos não poderá deixar de levar em conta a mensagem dos eleitores que votaram em Zuluaga.

"Pontos como a forma de justiça que será aplicada aos ex-combatentes, uma vez que se desmobilizem, assim como a participação política para quem faz parte da guerrilha, são assuntos sensíveis, os quais ele deverá levar em conta em relação à outra metade dos colombianos, que querem 'paz sem impunidade'", afirma Gehring.

Durante seus primeiros quatro anos, Santos realizou reformas fiscais e propôs leis para devolver terras aos agricultores desalojados devido à violência e indenizar as vítimas do conflito. Para o segundo mandato, além de tentar colocar um fim ao conflito com as milícias, Santos prometeu reformas estruturais, como da Justiça, fiscal, do sistema de saúde e de aposentadorias. Os desafios diante do presidente reeleito são, portanto, muito grandes.

"A Colômbia melhorou muito economicamente e socialmente nas duas últimas décadas, mas ainda enfrenta problemas de acentuada desigualdade social e necessita de políticas públicas sempre eficientes neste aspecto", diz Gondo. "O desafio de Santos, fora as negociações com as Farc e o ELN, é permitir crescimento econômico maior e inclusivo para a população, melhorando os indicadores e caminhando para o melhor bem-estar social."

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