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Reforma da UE proposta por Macron cria dilema para Merkel

Maximiliane Koschyk as
17 de abril de 2018

Planos ambiciosos apresentados pelo presidente francês esbarram na resistência dos partidos conservadores alemães e também de setores da social-democracia. Mas, sem a Alemanha, Macron está fadado ao fracasso.

French President Emmanuel Macron welcomes German Chancellor Angela Merkel as she arrives for a meeting at the Elysee Palace in Paris
Foto: Reuters/C. Hartmann

"É importante conduzir um debate crítico sobre o que significa a Europa." O discurso do presidente da França, Emmanuel Macron, perante o Parlamento Europeu em Estrasburgo era sobre nada menos que "o futuro da Europa", como ele chama seus planos de reforma para a União Europeia (UE) e a zona do euro. Ainda esta semana ele viajará para Berlim, onde as ideias dele já são debatidas com fervor.

Não foi sempre assim. Depois da eleição do jovem presidente, o ímpeto reformista dele foi recebido com euforia em Berlim. Pouco meses depois, a eleição alemã colocou o partido populista de direita AfD, no início um partido eurocético, no Parlamento alemão. O que se seguiu foi a mais longa formação de governo da história da República Federal da Alemanha. Macron teria preferido usar esse tempo para elaborar uma estratégia comum para seu plano de reformas com a chanceler federal Angela Merkel.

Mas Merkel tem ainda outros motivos para se mostrar reticente. As ideias de Macron vão desde uma reforma da união monetária, incluindo um orçamento próprio para a zona do euro e um ministro das Finanças do euro, até um fundo monetário europeu e uma garantia de depósitos própria para a união bancária. Mesmo uma europeia convicta como Merkel fica com um pé atrás diante de ideias tão ambiciosas, mas expressa suas dúvidas de maneira cautelosa. Outros políticos dos partidos conservadores CDU e CSU são bem mais claros. Principalmente as propostas do francês no campo financeiro encontram resistência.

"Primeiro temos de verificar se as propostas do presidente Macron também são do interesse da Alemanha", comentou o especialista em economia da CDU Joachim Pfeiffer. Para ele, a Alemanha não pode concordar com a transformação do Mecanismo Europeu de Estabilidade num fundo monetário europeu sem impor condições. Já Alexander Dobrindt, o líder da bancada da CSU no Parlamento alemão, descartou categoricamente a ideia de um ministro europeu das Finanças. Para ele, isso "definitivamente não é algo que necessite ser decidido agora".

"Um novo despertar para a Europa"

Mas há também apoiadores de Macron no partido de Merkel. "O acordo de coalizão já é a primeira resposta a Macron", garantiu o especialista em relações exteriores Norbert Röttgen. Ele disse que o Parlamento alemão deve se manifestar sobre as propostas de reforma da zona do euro feitas pelo presidente francês. "Estou absolutamente convencido de que não há um conflito entre os interesses dos nossos cidadãos e uma redefinição da União Europeia", afirmou.

Segundo ele, a CDU e a CSU não vão limitar o campo de ação de Merkel com Macron. A declaração se refere a uma reunião da bancada para debater a reforma da União Europeia. O deputado Michael Grosse-Brömer acrescentou que o único objetivo desse encontro é trocar informações sobre o assunto dentro da bancada. "Não vamos passar a ela uma posição clara à qual ela tenha que se ater", disse.

A verdade, porém, é que CDU e CSU parecem não depositar total confiança na própria chanceler federal. Os dois partidos insistem que o direito do Bundestag de participar da tomada de decisões seja garantido principalmente em questões de política financeira.

No SPD, parceiro de governo dos dois partidos conservadores, a má-vontade dos deputados gera descontentamento. A líder da bancada social-democrata, Andrea Nahles, lembra que o acordo de coalizão traz a inscrição "Um novo despertar para a Europa". O ministro do Exterior, Heiko Maas, desconversou quando questionado se o SPD vai ignorar a mão estendida de Macron. "Claro que ninguém vai recusar a mão estendida de Macron, mas vamos discutir cada uma das propostas", afirmou. "Vivemos em tempos em que precisamos de mais e não de menos Europa."

Maas sabe que há céticos às propostas do presidente francês dentro do próprio partido. O ministro das Finanças, Olaf Scholz, é um deles. Ela até agora evitou comentar as alterações propostas por Macron no campo financeiro. Scholz é visto como herdeiro do ex-ministro Wolfgang Schäuble, que defendia uma linha rígida em questões financeiras europeias e não tinha nenhuma simpatia pelas ideias do francês.

Oposição pede apoio de Berlim a Macron

A divisão dentro do governo alemão em relação aos planos europeus de Macron gerou críticas da oposição. "Pelo jeito, o último europeu da grande coalizão era mesmo Martin Schulz", comentou a copresidente do Partido Verde Annalena Baerbock. "Exorto a chanceler federal e os chefes de bancada do SPD e da CDU/CSU a formular um claro e concreto 'sim' a Macron ainda esta semana", afirmou o chefe da bancada verde, Anton Hofreiter. "O projeto histórico Europa não deve fracassar diante do egoísmo nacionalista e da mesquinharia político-partidária deste governo."

Sem o apoio da Alemanha, Macron não vai conseguir avançar com seu projeto. Porém, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, alertou que "a Europa não é só a França e a Alemanha". Em Bruxelas, as vozes críticas vão da direita à esquerda. E o presidente francês está sob pressão também no próprio país, afinal se apresentou como um visionário durante a campanha eleitoral. Até a próxima eleição europeia, ele quer mostrar resultados.

E Merkel? Ela disse se alegrar com a visita de Macron, marcada para esta quinta-feira (19/04) em Berlim, quando ambos terão a oportunidade de conversar sobre as ideias do francês. "Até junho, queremos ter encontrado soluções conjuntas com a França", disse a chanceler federal alemã. Segundo ela, a Alemanha quer colaborar com propostas próprias para a política de defesa. Ela negou que Berlim esteja pisando no freio. "Por isso não tenho dúvidas de que chegaremos a um pacote robusto de propostas", assegurou.

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