Embora o fenômeno não seja novo, o recente sumiço em massa na Baixa Saxônia – quase 20% dos requerentes de asilo – é preocupante. Especialista diagnostica "perda de controle" pelo Estado e reivindica mais clareza.
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Não é a primeira vez que refugiados desaparecem de um alojamento de emergência na Alemanha sem deixar vestígios. Porém, a Baixa Saxônia acaba de apresentar números inusitadamente altos. Dos 4 mil solicitantes de asilo alocados no estado, cerca de 700 sumiram em outubro. Muitos nem haviam sido ainda cadastrados, que é o primeiro passo no trâmites de asilo. As autoridades não têm a menor ideia de seu paradeiro.
A lei alemã estipula que os refugiados sejam registrados assim que entram em território nacional. Na prática, contudo, com milhares de migrantes chegando ao país diariamente, o processo inicial de cadastro pela polícia de fronteira está irremediavelmente defasado.
Embora em escala menor, desaparecimentos também ocorreram em centros de refugiados de todo o país em setembro e outubro. O porta-voz da Secretaria do Interior da Baixa Saxônia apontou que, como os migrantes têm liberdade para circular livremente e deixar os abrigos, não é possível dizer quantos seguem viagem por conta própria.
Causas desconhecidas
Para o especialista em migração da Universidade de Osnabrück Jochen Oltmer, os sumiços são um sinal de que o Estado está "perdendo o controle". Como os refugiados não deixam qualquer mensagem, "não se sabe o que os motiva a ir embora".
Talvez alguns deles relutem em permanecer nas áreas rurais a que são levados e sigam adiante para procurar locais mais atraentes, ou vão se reunir a parentes e amigos em outras partes da Alemanha, ou mesmo no exterior. Segundo as autoridades, não há base legal para reter os requerentes de asilo, e o pessoal de segurança dos abrigos tampouco os impede de sair.
O especialista questiona a forma na Alemanha de distribuir os refugiados, a qual minaria a integração e dificultaria a interconexão. Afinal de contas, as redes de contato são imensamente importantes para os migrantes e seus amigos ou família que eventualmente vivam no país. Estes poderiam ajudar as autoridades e, em geral, "tornar mais fácil o processo de se estabelecer".
Falta de clareza sobre o futuro
Oltmer não acredita que o fenômeno possa se tornar um problema de segurança. Em sua opinião, a maioria dos refugiados não estaria conscientemente tentando evitar o cadastramento, mas é possível que alguns estejam confusos quanto ao próprio paradeiro.
O porta-voz da cidade de Delmenhorst comenta que muitas vezes os recém-chegados não sabem para onde foram levados depois de entrar na Alemanha. Para ajudá-los a se orientarem, as autoridades locais afixaram mapas federais nos abrigos.
Se eles partem sem se registrar devidamente e são parados pela polícia, no entanto, seu status é de imigrante ilegal, e todo o processo de cadastramento começa do zero. A conclusão é que o registro precisa ser bem mais veloz, no interesse de todas as partes. O especialista Jochen Oltmer reivindica: para que o estado retome o controle, é preciso que se dê aos refugiados a segurança de saber seu status futuro, também para que as municipalidades tenham uma base confiável para planejar.
O medo do frio
Apesar das temperaturas cada vez menores, o fluxo de refugiados que chega à Europa não diminui. Às pressas, são criados alojamentos para o inverno. Cerca de 100 mil abrigos temporários devem estar em breve à disposição.
Foto: picture-alliance/AP/Hussein Malla
O frio chega
O inverno sequer chegou à Alemanha, porém, ao fim de sua exaustiva viagem pela rota dos Bálcãs, muitos refugiados já sofrem com as extremas condições climáticas. Na fronteira da Alemanha com a Áustria as temperaturas ainda ficam acima da casa dos dois dígitos durante o dia, porém à noite elas caem para abaixo de zero.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Abrigo necessário
De um bosque próximo os refugiados buscaram lenha para uma fogueira. Diferente das mais de 60 mil pessoas que pediram abrigo na Áustria em 2015, estes refugiados querem seguir até a Alemanha. Para que cenas como essa não sejam mais vistas, devem ser criados em breve cerca de 100 mil abrigos de trânsito na rota migratória dos Bálcãs, 5 mil deles na Áustria.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Tenda como abrigo de fronteira
Desde a sexta-feira é permitido que apenas cerca de 50 refugiados por hora passem pela fronteira entre a Alemanha e a Áustria – uma medida para facilitar o registro de cada pessoa. No tempo em que esperam, uma tenda recém instalada na cidade austríaca Kollerschlag abriga os refugiados do frio. Aquecida e com piso de madeira, o local tem espaço para mil pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Scharinger
Aguardando na fronteira verde
Se o acordo entre as autoridades austríacas e alemãs sobre o trânsito de apenas 50 refugiados por hora vai funcionar por muito tempo, é questionável. Os acampamentos na fronteira entre os dois países estão superlotados. Mais de mil refugiados aguardam nas cidades de Kufstein e Kollerschlag (foto) por uma autorização para entrar na Alemanha.
Foto: Getty Images/AFP/C. Stache
Condições adversas nos Bálcãs
Dificuldades muito maiores têm os demais países da rota migratória dos Bálcãs para construir estruturas resistentes ao inverno. Nos últimos dias, na cidade eslovena Rigonce, muitos refugiados necessitaram suportar chuva e frio praticamente sem abrigo. A maioria dos abrigos de emergência da Eslovênia não são preparados para o inverno. Nos demais países dos Bálcãs, a situação não é melhor.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mayic
Fuga perigosa pelo Mar Egeu
A ilha grega Lesbos é, para muitos refugiados, o primeiro destino. As águas do norte do Mar Egeu já esfriaram para cerca de 20 graus – até o fim do ano, a temperatura ainda deve cair até os 17 graus. "Quando as condições climáticas piorarem, os traficantes de pessoas devem reduzir os preços, então ainda mais refugiados devem tentar a fuga para a Europa", estima a correspondente da DW Omaira Gill.
Foto: Reuters/G. Moutafis
Alojamentos aquecidos na Baixa Saxônia
Como "solução temporária de emergência", autoridades e políticos alemães decidiram acomodar refugiados em tendas. Isso foi no verão. Porém, neste meio tempo já ficou claro: muitos refugiados precisarão enfrentar o inverno alemão nesses mesmos espaços. E nem todas as tendas – como as deste campo na Baixa Saxônia –, podem ser aquecidas.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Steffen
Frio mortal
Não é apenas na Europa que os refugiados temem por um inverno rigoroso. Cerca de 200 mil pessoas vivem na serra Bekaa-Ebene, no Líbano, sob abrigos improvisados feitos de lonas. No ano passado (foto) eles sofreram com a neve e o gelo. Os proprietários das terras se opõem ao uso de tendas resistentes ao frio. Eles não querem que os sírios permaneçam no local por muito tempo.