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Refugiados venezuelanos tentam voltar em meio à pandemia

Alexandra Correa de Bogotá
9 de abril de 2020

Cidadãos que deixaram a Venezuela por causa da crise e da miséria agora buscam retornar ao seu país. Crise econômica gerada pelo coronavírus na vizinha Colômbia os deixa sem outra opção.

Grupo de venezuelanos na Colômbia descansa na beira da estrada, durante caminho de volta à Venezuela
Grupo de venezuelanos na Colômbia descansa na beira da estrada, durante caminho de volta à VenezuelaFoto: DW/A. Correa

Todas as noites, milhares de refugiados venezuelanos na Colômbia temem ser expulsos de seus alojamentos e residências, pois não têm mais dinheiro para pagar seus aluguéis.

Os bicos que eles faziam desapareceram junto com todo o setor informal colombiano, vítima das medidas de isolamento ordenadas pelo presidente Iván Duque há duas semanas e prorrogadas até 26 de abril.

Muitos daqueles que já vivem nas ruas decidiram caminhar mais de 1.000 quilômetros, até a fronteira com a Venezuela, mesmo sabendo que ela está fechada. A crise econômica causada pelo coronavírus os obriga a escolher entre uma vida na miséria também na Colômbia e um caminho fatigante de volta à Venezuela, há anos assolada pela crise econômica.

Yuri Mendoza, de 17 anos, já tomou a sua decisão. Ela está grávida de cinco meses e há duas semanas deixou Cali, a terceira maior cidade da Colômbia, para ir a pé até a Venezuela. Ela vendia sucos e doces nas esquinas, mas foi mandada de volta para casa pelos policiais, por causa da quarentena obrigatória em todo o país.

"A Venezuela é a minha pátria, e se algo tiver que me acontecer, que seja lá", explica Mendoza. Por isso ela decidiu fazer o longo caminho a pé pelas montanhas, como há um ano, só que desta vez de volta.

Ela não é a única. Muitos refugiados venezuelanos optam pelo caminho de volta, apesar de a economia do país sofrer com a pior crise da história venezuelana. E a situação pode piorar ainda mais com a recente queda no preço do petróleo. A isso soma-se a implosão do sistema de saúde, que está muito longe de poder fazer frente à situação criada pela epidemia de coronavírus.

São motivos como esses que levam Juan Carlos Atacho, de 32 anos, a não querer voltar de jeito nenhum. Há um ano ele vive num bairro pobre de Bogotá. O retorno à Venezuela seria a última opção, diz. E ele pode se ver obrigado a tomá-la por causa da quarentena na Colômbia.

Atacho não sabe de onde virá o dinheiro para pagar o seu aluguel, que vence daqui a alguns dias. Ele trabalhava como auxiliar num salão de cabeleireiro, onde recebia 7 dólares por dia. O salão está fechado por causa da epidemia de covid-19, e o venezuelano perdeu a única fonte de renda de sua família, que inclui ainda a esposa e três filhos, de 2, 7 e 9 anos.

Como a fronteira com a Venezuela está fechada, Atacho teme que poderá se ver obrigado a recorrer a caminhos controlados por contrabandistas e traficantes. "Eu não gostaria de pegar esses caminhos perigosos mais uma vez com os meus filhos", diz.

Atravessar a fronteira de forma ilegal é arriscado, mas, mesmo assim, muitos venezuelanos tentam dessa maneira tomar o caminho de volta ao seu país. Por isso, a autoridade de migração da Colômbia negocia a abertura de um corredor humanitário com o governo venezuelano.

"É um tema complicado, pois não queremos nenhuma pessoa, seja venezuelana, seja quem for, andando nas ruas quando o país está de quarentena", diz o encarregado de migração do governo colombiano, Felipe Muñoz.

"Nos últimos cem dias, a Venezuela deixou cerca de mil pessoas entrarem", acrescenta Muñoz. Ele diz esperar que o regime em Caracas continue aceitando seus cidadãos de volta.

A situação dos cerca de 1,5 milhão de refugiados venezuelanos na Colômbia não deve melhorar num futuro próximo. A Colômbia já tem mais de 2 mil pessoas infectadas pelo novo coronavírus, com 55 mortos, e não há sinais de que a pandemia esteja perto do fim no país.

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