Novos interesses
19 de novembro de 2011Os Estados Unidos planejam investir mais em parcerias diplomáticas, econômicas e estratégicas na região da Ásia-Pacífico, incluindo o fortalecimento das alianças bilaterais de segurança e o aprofundamento das relações econômicas com potências emergentes, como a China.
A primeira evidência disso surgiu durante a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à Austrália, onde ele anunciou o deslocamento de 2,5 mil marines para o norte do país. Eles devem servir como uma força de estabilização e contrapeso à crescente investida chinesa na região.
A administração Obama planeja também intensificar o diálogo com instituições multilaterais regionais, expandir negócios e investimentos na Ásia, forjar uma ampla presença militar e promover a democracia e dos direitos humanos na região.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, destaca a guinada em direção à Ásia na edição de novembro da revista Foreign Policy. No artigo intitulado America's Pacific Century (O século dos EUA no Pacífico), ela afirma que o futuro da política será decidido na Ásia e não no Afeganistão ou no Iraque, e que uma das tarefas mais importantes do estadismo norte-americano na próxima década será concentrar investimentos na Ásia.
Clinton e Obama apresentaram seus planos para fortalecer a presença norte-americana na Ásia e no Pacífico durante o encontro de líderes da Cooperação Econômica de Ásia e Pacífico (Apec, na sigla em inglês), realizado em Honolulu, na última semana. O tema também entrou na pauta da Cúpula do Leste da Ásia, em Bali, Indonésia, neste sábado (19/11).
A administração Obama visa selar acordos econômicos bilaterais nesses encontros, num esforço para consolidar o apoio das economias estabelecidas e emergentes da região. O governo norte-americano espera também que novos acordos econômicos ajudem a suavizar as críticas internas, que questionam novas aventuras da política externa do país em tempos de dificuldades domésticas.
Consolidando apoio econômico
A região da Ásia e do Pacífico, que se estende do chamado subcontinente indiano até o território Oeste das Américas, está no topo da política externa norte-americana devido ao crescimento de sua importância econômica e estratégica. A região inclui alguns dos mais importantes protagonistas da economia global e também países emergentes como China, Índia e Indonésia.
Diversos aliados-chave dos Estados Unidos, como Japão e Coreia do Sul, estão localizados na região, que concentra quase a metade da população mundial.
"No momento em que a região está construindo uma segurança mais madura e uma arquitetura econômica que promova estabilidade e prosperidade, um comprometimento dos Estados Unidos se faz essencial", diz Clinton. "Nosso desafio agora é construir uma teia de parcerias e instituições pelo Pacífico que seja duradoura e condizente com os interesses e valores norte-americanos, como a teia que nós construímos no Atlântico".
"Da abertura de novos mercado para os negócios norte-americano à contenção da proliferação nucelar, manutenção da liberdade de circulação marítima para comércio e navegação, nosso trabalho no exterior se mantém chave para nossa prosperidade e segurança interna", defende Clinton.
Ela diz que a recuperação da economia dos Estados Unidos vai depender das exportações e da habilidade das empresas norte-americanas de escoar seus produtos no vasto e crescente mercado consumidor asiático. "Assim como a Asia é crucial para o futuro norte-americano, o engajamento norte-americano é vital para o futuro da Ásia", complementa.
Garantias militares para as aliados regionais
No seu editorial, a secretaria de Estado também enfatizou a importância das alianças de segurança na região, uma visão apoiada pelo secretario de defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta. "Os Estados Unidos estão comprometidos com a sustentação e ampliação da sua presença militar na região", disse Panetta na sua primeira visita à região, no mês passado, após ter assumido a pasta em Julho. Ele acrescentou que os Estados Unidos estão em um "momento de virada" após dez anos de guerra no Afeganistão e no Iraque.
Enquanto não há sinais de planos militares norte-americanos para expandir de forma acentuada suas forças no Pacífico, que já contam com 85 mil combatentes, Panetta assegurou aos aliados-chave do país que a presença na região não será afetada pela redução orçamentária na Defesa, estimada em mais de 331 bilhões de euros para os próximos dez anos.
Esta é uma boa notícia para aqueles aliados que constam em uma vizinhança cada vez mais preocupada com o poderio crescente da China e com a volatilidade e imprevisibilidade do regime norte-coreano. Alguns estavam com medo que uma China, cada vez mais poderosa, pudesse eventualmente forçar a retirada norte-americana da Ásia e do Pacífico, região onde a maior parte das nações prefeririam uma expansão norte-americana do que um aumento da influência chinesa.
Questões sobre desengajamento
Enquanto isto deve acalmar as agitações na Ásia, também pode criar um desconforto entre os aliados norte-americanos em outras áreas do mundo que gostariam de ser observados pelos Estados Unidos como a Ásia o é neste momento.
"Em muito do século passado, o foco norte-americano esteve na Europa, algo que foi acentuado pelos interesses da Administração Bush no Oriente Médio", afirma Raffaello Pantucci, especialista em China do Conselho Europeu para Relações Internacionais e visitante da Academia de Ciências Sociais de Xangai.
"A atual administração norte-americana sente que seus antecessores focaram muito no Oriente Médio enquanto o crescimento asiático se deu sem a devida atenção", Pantucci acrescenta em entrevista para a Deutsche Welle. Os Estados Unidos querem reequilibrar isto e estão, conseqüentemente focando atenções no Pacífico. O Oriente Médio continua sendo importante, mas não é o único interesse dos Estados Unidos.
Johanthan Holslag, chefe de pesquisa do Instituto de Estudos da China Contemporânea em Bruxelas (BICCS), concorda que os Estados Unidos não vão dar as costas para outras partes do mundo. "Não existe somente um movimento da Europa para o Pacífico, mas também da Europa para a África, onde os Estados Unidos estão iniciando uma política militar e econômica das mais audaciosas e ambiciosas", disse Holslag a Deutsche Wele.
"No que se refere a instabilidade no Oriente Médio e na África, isto deveria ser levado a sério, mas de forma separada dos seus interesses de segurança na Ásia. As relações norte-americanas com os gigantes asiáticos vão determinar em grau amplo como a instabilidade nestas partes do mundo podem ser tratadas".
China se sente ameaçada
A guinada norte-americana para a Ásia, especialmente seus planos militares para a região também teve repercussão no humor chinês. Isso se deve principalmente porque os Estados Unidos apresentam planos de fortalecer suas alianças militares bilaterais e promover avanços nos direitos humanos e na democracia na Ásia.
A China poderia ver estas medidas como parte de uma manobra sutil de contenção estratégica e interferência nos seus interesses relacionados a segurança na região. "A reação de Pequim foi extremamente cautelosa até o momento, mas a longo-prazo, porém, esta postura prudente não pode ser tomada como concessão", afirma Holslag. "A China tem visto cada vez mais a tentativa norte-americana de equilibrar a região como uma ameaça".
Clinton diz que Estados Unidos e China têm muito mais a ganhar com a cooperação do que com conflitos. A China representa uma das relações bilaterais mais desafiantes que os Estados Unidos já tiveram, talvez por isso os objetivos norte-americanos seriam constituir uma abordagem à China baseada e focada em resultados.
Porém, Clinton se diz alerta sobre a carência de transparência chinesa na sua expansão militar na região e falta de reformas econômicas no país. Clinton também não esconde preocupação sobre os abusos dos direitos humanos no país.
"Nós fizemos considerações aos nossos colegas chineses, salientando que um respeito profundo pelas leis internacionais e um sistema político mais aberto proporcionaria à China muito maior estabilidade e crescimento, além de aumentar a confiança dos parceiros chineses. Sem isso, a China está colocando limitações desnecessárias ao seu próprio desenvolvimento", defende Clinton.
Autor: Nick Amies (mp)
Revisão: Francis França