1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Regiões autônomas da Espanha podem ajudar a afundar a economia do país

25 de julho de 2012

Após as acaloradas discussões sobre a Grécia, chegam más notícias da Espanha. Agora é a vez de a industrializada e abastada Catalunha pedir ajuda para não ir à falência.

Foto: picture-alliance/ZB

A crise na zona do euro não tira férias. Enquanto a maioria dos servidores da Uniao Europeia está de folga, a Espanha vem lutando com as medidas de austeridade impostas em Bruxelas. O governo espanhol precisa continuar encurtando salários e aumentando impostos.

Os planos de austeridade podem se tornar ainda mais explosivos, pois a região da Catalunha – que até agora vinha sendo considerada a força motriz da economia espanhola – encontra-se em dificuldades financeiras e já considera a possibilidade de pedir ajuda a Madri.

Há poucos dias, as regiões de Valência e Múrcia já haviam tornado público que seus cofres estão vazios e pedido apoio ao governo central. Parece ser apenas uma questão de tempo até que outras regiões façam o mesmo.

Um anúncio de falência por parte da Catalunha seria um golpe psicológico para o governo espanhol. A região, com sua capital Barcelona, é considerada uma das mais industrializadas do país. As indústrias química e têxtil são o forte da Catalunha, que ainda sedia diversas empresas do ramo farmacêutico e automobilístico.

Primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy tem uma dura tarefaFoto: Reuters

A região tem bastante força no setor vinícola. Depois da França, a Catalunha concentra os mais significativos produtores e exportadores de espumante. O turismo também tem importante participação em sua economia.

Sem margem de manobra

Apesar de sua importância econômica, há anos a Catalunha já anda descapitalizada. No fim do ano passado, suas dívidas giravam em torno de 42 bilhões de euros – principalmente devido ao endividamento privado. Se a Catalunha pedir ajuda, a margem de manobra financeira do governo espanhol vai ficar ainda menor. Questiona-se de onde Madri poderia tirar dinheiro para ajudar a região.

O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, e seu gabinete têm, sem dúvida, uma grande tarefa pela frente. Eles precisam reduzir um buraco de 65 bilhões de euros no orçamento e atingir um déficit de no máximo 2,8% do PIB até 2014. Rajoy anunciou reformas no serviço público, redução do seguro-desemprego e aumento do Imposto sobre Valor Agregado de 18% para 21%.

Não se sabe ao certo se com essas medidas, o país, maior fonte de preocupação na União Europeia (UE), conseguirá sair sozinho da crise da dívida. O jornal espanhol El País calculou que o mais recente pacote de reformas anunciado por Madri não conseguirá arrecadar recursos suficientes. Rajoy precisará anunciar reajustes e novos "pacotes de maldades".

Dependência na economia mundial

O diretor de negócios da Câmara alemã de Comércio para a Espanha, Walther von Plettenberg, observa que o alcance das metas de austeridade depende de fatores sobre os quais Madri não tem controle. Apesar dos bons índices de exportação, "se a economia global não se desenvolver, as exportações espanholas, e com elas a arrecadação de impostos, enfrentarão grandes dificuldades", diz Plettenberg.

"Com isso a meta de economizar mais de 60 bilhões de euros ficará ameaçada", afirmou o especialista à Deutsche Welle.

Os políticos espanhóis ainda estão patinando diante da insegurança da economia internacional e das ameaças à paz social. Manifestações violentas ainda se mantêm em níveis considerados aceitáveis, pelo menos em comparação com outros protestos no cenário internacional.

Walther von Plettenberg: regiões autônomas precisam economizarFoto: AHK

Para Pettenberg, até agora os espanhóis têm lidado muito bem com a situação. Eles inclusive estariam conscientes de que terão que viver sob essas condições "ao longo de dez, quinze anos". Neste ponto, a disposição para privações é relativamente grande.

"Mas as coisas tendem a ficam mais difíceis, pois ninguém ficará de fora das novas medidas de austeridade. Os funcionários do governo, que terão que abrir mão da gratificação de natal – algo tão importante na Espanha – possivelmente não ficarão quietos". A já desgastada paz social poderia, com isso, ser ameaçada.

Medo do controle da UE

Há algumas semanas, a Espanha tinha conseguido respirar um pouco. Por causa de seu peso econômico e político, o país pôde usufruir de condições especiais ao obter ajuda da UE. Pela primeira vez, um país não precisou ficar sob vigilância completa dos credores. Os 100 bilhões de euros repassados pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) serviram para sanear as dívidas dos bancos espanhóis.

Para isso, a Espanha não precisou - como aconteceu com Grécia, Portugal e Irlanda - recorrer a uma proteção completa do pacote de resgate da UE. No caso desses países, a ajuda estava vinculada a um maior controle da UE, assim como à renúncia parcial à soberania nacional e à independência de Bruxelas.

Para os orgulhosos espanhóis, essa concessão seria considerada a uma admissão de derrota. Além disso, eles temiam perder totalmente a confiança dos mercados financeiros.

Juntamente com a ajuda do FEEF aos bancos está a esperança de que instituições financeiras recapitalizadas possam finalmente voltar a repassar crédito aos investidores em dificuldades e que a economia ganhe impulso.

Stefan Schneider, economista do DB Research (centro de análise do banco alemão Deutsche Bank), duvida que o plano dê certo. Para ele, é preciso entender que o crédito está vinculado à demanda. E um fenômeno da crise da Espanha é que empresas e famílias já estão bastante endividadas – acima de 200% do PIB.

Protestos em Valência contra cortes no serviço públicoFoto: Reuters

"A inclinação para tomar novos créditos deve ser bastante limitada por enquanto", afirma Schneider. Por isso, seria muito improvável que a conjuntura espanhola volte rapidamente a ganhar impulso por meio de um massivo repasse de crédito.

Esforço solidário

O que a Espanha pode fazer recuperar o caixa? Até agora, todas as medidas foram implantadas de maneira eficiente, avalia Plettenberg. Mas ele acredita que algumas das regiões autônomas podem economizar mais, apesar de seus problemas financeiros. Para o diretor da Câmara de Comércio, o governo precisa "fazer com que essas regiões particiepem do esforço solidário e reduzam seus gastos drasticamente, e provavelmente servidores públicos terão que ser dispensados".

Até agora isso não aconteceu. O que é natural, já que em uma estrutura federativa como a da Espanha, o governo central não pode simplesmente se intrometer no orçamento do governo regional.

Autor: Ralf Bosen (msb)
Revisão: Francis França

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque