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Regime de Omar al-Bashir chega ao fim no Sudão

11 de abril de 2019

Ministro da Defesa anuncia deposição e detenção do presidente por militares e decreta estado de emergência por três meses. Após meses de protestos, milhares de pessoas celebram queda do ditador, no poder há 30 anos.

Sudan Militär und Demonstranten in Khartoum
Foto: Getty Images/AFP

O presidente do Sudão, Omar al-Bashir, foi forçado pelos militares a deixar o poder nesta quinta-feira (11/04), após três décadas comandando essa nação africana.

O anúncio oficial da deposição de Bashir foi feito pelo ministro da Defesa, Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf, num pronunciamento transmitido pela televisão. Ele afirmou que o presidente deposto está detido num "lugar seguro".

Bashir comanda o Sudão com mão de ferro desde 1989, quando deu um golpe de Estado com a ajuda de militantes islamistas.Foto: Reuters/M.N. Abdallah

O ministro disse ainda que um conselho militar assumirá o comando do país durante um período de transição de dois anos, a ser seguido por eleições.

Auf anunciou estado de emergência durante um período de três meses, um cessar-fogo nacional e a suspensão da Constituição do país. O ministro também afirmou que o espaço aéreo sudanês ficará fechado por 24 horas e os postos de fronteira, até nova ordem.

Segundo testemunhas declararam à Reuters, Bashir, de 75 anos, está sendo mantido sob forte vigilância na residência presidencial, em Cartum. Um filho de Sadiq al-Mahdi, chefe do principal partido de oposição do país, o Umma, disse à emissora de TV al-Hadath que Bashir está detido junto com "uma série de líderes do grupo terrorista Irmandade Muçulmana".

Milhares de pessoas se concentraram nas imediações do Ministério da Defesa e no centro de Cartum para participar de protestos contra Bashir e festejar a queda dele, mesmo antes de ela ser confirmada.

Na capital do Sudão, os militares posicionaram-se em vários pontos da cidade durante a madrugada, em especial junto dos edifícios da televisão e da rádio públicas.

Veículos militares foram enviados para junto das principais pontes sobre o Nilo, em Cartum, enquanto milhares de pessoas mantêm os protestos em vários pontos da capital, sobretudo junto ao quartel-general do Exército.

Manifestação diante do Ministério da Defesa, em CartumFoto: Reuters

Os protestos, que visavam pressionar os militares a forçar a saída de Bashir, começaram em dezembro por causa da forte alta do pão e se intensificaram nos últimos dias.

O Comitê Central de Médicos do Sudão, uma organização sindical da oposição, afirma que 22 pessoas morreram nos protestos desde sábado, entre os quais cinco militares.

A mesma organização afirmou que 153 pessoas ficaram feridas, sendo que um número "significativo" de feridos se encontra em estado grave, o que deve fazer o número de mortos aumentar nos próximos dias.

Bashir comanda o Sudão com mão de ferro desde 1989, quando deu um golpe de Estado com a ajuda de militantes islamistas. Ele é alvo de dois mandados internacional de prisão por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, emitidos pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia, por causa de crimes cometidos em Darfur.

Nessa região do oeste sudanês, 300 mil pessoas foram mortas desde 2003, segundo contagem das Nações Unidas, num conflito que opõe o governo e milícias árabes, de um lado, e rebeldes não árabes separatistas, do outro.

As manifestações contra Bashir foram motivadas pela forte crise econômica que afeta o país há anos – principalmente depois da secessão do Sudão do Sul, em 2011. O Sudão é um dos 25 países mais pobres do mundo, com uma população de 41 milhões de pessoas.

Até a independência do Sudão do Sul, a economia era fortemente dependente do petróleo, que era responsável por 95% das exportações e metade da arrecadação do governo. Em 2001, o Sudão perdeu a maior parte dos campos petrolíferos, que ficaram com o Sudão do Sul.

AS/afp/dpa/lusa/ap/rtr

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