Ciclistas estão sujeitos às regras de trânsito e pagam multas altas por infrações. Na autoescola, motoristas aprendem a respeitar e não ultrapassar ciclistas quando não há um espaço considerável na via.
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Sempre me assustei com o som estridente das campainhas das bicicletas na Alemanha. Já levei bronca de ciclistas por andar sem atenção na faixa da ciclovia junto à calçada. No começo, pensava: "Eles não podem apenas desviar e seguir o caminho? Afinal, tem tanto espaço". Também já fui xingada por pedestres, e com razão. Tentei avisar verbalmente, porque achava mais educado, mas o senhor que caminhava no meio da passagem com dois cachorros não se moveu e gritou a regra irritado: "Esse lado é apenas para pedestres, não é nenhuma ciclovia!". Ainda não conhecia a série de regras para ciclistas na Alemanha.
A sinalização para as bicicletas é muito clara e está por toda parte. Os ciclistas estão sujeitos às regras de trânsito. Além do semáforo para os carros, há em vários pontos um semáforo com o símbolo de uma bicicleta, que num cruzamento sempre abre primeiro. A faixa da ciclovia é às vezes vermelha (ninguém reclama da cor por aqui) e segue pelas ruas e também calçadas. As ciclovias também são sinalizadas com faixas brancas e um símbolo de bicicleta em azul e branco.
Alemanha em 1 Minuto: Ser ciclista na Alemanha
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Se não houver ciclovia, é importante pedalar sempre no sentido dos veículos e não do lado contrário, mas se uma placa indicar "Frei" junto a um símbolo de bicicleta é possível seguir. Algumas placas também indicam que a calçada deve ser dividida entre os ciclistas e os pedestres e especifica de que lado cada um deve ficar.
Sempre é preciso esperar quando os pedestres atravessam na faixa. Quando uma pessoa deu o primeiro passo do outro lado, mesmo que haja tempo para você passar, é preciso parar, sob pena de uma multa de 15 euros. Ultrapassar no sinal vermelho é uma péssima ideia. Se a polícia vir a infração, você pode ser obrigado a pagar 80 euros em multa ou mais. Também nunca circule na calçada se não houver indicação específica e sempre dê sinal quando for virar numa rua – o seu braço é a sua seta.
A bicicleta tem de estar em boas condições para circular no trânsito. Farol dianteiro e luz traseira, assim como a campainha, são itens essenciais. Se a bicicleta estiver capenga demais, terá que pagar o preço de uma usada: 80 euros. Numa noite, meu farol parou de funcionar e, num cruzamento numa rua deserta perto de casa, a polícia brecou o carro e fez uma advertência. Eu expliquei a situação, e eles foram piedosos. Não precisei pagar os 20 euros exigidos pela infração.
A multa por falar ao celular custa mais de 50 euros. Uma das infrações mais graves é cruzar a linha do trem quando a cancela está quase fechando. A multa é de 350 euros. É tanta regra que não à toa as crianças têm formação de ciclismo obrigatória na escola.
É incrível como a maioria dos motoristas respeita os ciclistas na Alemanha. Na autoescola, todos aprendem que não devem ultrapassar ciclistas numa via caso não haja uma distância considerável entre o carro e a bicicleta. Esses dias, quando eu pedalava numa ruazinha estreita, uma motorista ficou atrás de mim por cinco minutos até chegar numa avenida onde era possível me ultrapassar.
Os ciclistas podem ultrapassar outros na ciclovia, mas é preciso alertar quem está na frente com a campainha. Geralmente, quem me ultrapassa são senhorinhas em alta velocidade com e-bikes, bicicletas elétricas.
E, depois de cinco anos em terras germânicas, eu me pego fazendo o mesmo. Outro dia fiquei irritada com um grupo de seis pessoas que andava na ciclovia. Mandei ver na campainha. E ouvi, em português do Brasil, de uma das pessoas: "Que susto!". Só me restou rir da forma inevitável como incorporamos algumas regras e costumes. Na bicicleta, eu já "alemanizei".
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
As paisagens e a infraestrutura das ciclovias de longa distância na Alemanha convidam para fazer férias sobre duas rodas. Conheça as rotas preferidas dos alemães, segundo uma pesquisa do clube alemão de ciclismo.
Foto: DW
10º lugar – Ciclovia do Mosela
Esta ciclovia ao longo do rio Mosela começa na França. O trecho alemão tem 239 km e vai de Perl a Koblenz. A maior parte da rota é plana, margeando o rio, e muitas vezes longe do trânsito de carros. Ao longo do percurso, há muitos vinhedos, vinícolas e castelos.
Foto: picture-alliance/dpa/F.Kleefeldt
9º lugar - Ciclovia do rio Ems
A ciclovia de 375 km começa na nascente do rio, em Schloss Holte-Stukenbrock, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, e vai até a foz do Ems, em Emden, no Mar do Norte. Entre as atrações da rota estão Münster, a cidade alemã das bicicletas; o mosteiro Marienfeld, do século 12; o estaleiro de navios de cruzeiro Meyer Werft, em Papenburg; além de paisagens com canais, eclusas e moinhos de vento.
Foto: picture-alliance/HB-Verlag
8º lugar - Ciclovia dos lagos de Constança e Königssee
Esta rota de 418 km liga dois lagos no sul da Alemanha. Saindo de Lindau, passando pela idílica região de Allgäu, dos lagos Tegernsee, Schliersee e Chiemsee, culminando em Berchtesgaden e no lago Königssee. Mas, atenção, é preciso condicionamento: ao final, você terá subido mais de 3400 metros. Tudo com uma linda panorâmica dos Alpes e belos castelos, como o Neuschwanstein.
Foto: picture-alliance/HB Verlag
7º - Ciclovia da costa do Mar Báltico
Esta rota de 798 km vai de Flensburg, na fronteira com a Dinamarca, até Swinemünde, junto à Polônia. Além de ser praticamente plana, oferece as típicas atrações costeiras, como parques naturais com aves. Tem ainda a ponte Fehmarnsund, de quase um quilômetro de extensão e a 67 metros sobre o mar. Outras atrações na rota são as cidades de Travemünde, Lübeck, Wismar, Stralsund e Greifswald.
Foto: Fotolia/Herbert Gorges
6º - Ciclovia do rio Weser
A ciclovia de 515 quilômetros ao longo do rio Weser atravessa vários estados alemães. Entre as atrações, estão Bremen, a menor cidade-estado da Alemanha; Bremerhaven, uma das maiores cidades portuárias da Europa; Hannoversch Münden, Porta Westfalica e Cuxhaven.
Foto: picture-alliance/dpa
5º - Ciclovia do vale do Ruhr
Esta ciclovia de 230 km ao longo do rio Ruhr, no oeste da Alemanha, começa na nascente, em Winterberg, e termina na foz, em Duisburg-Ruhrort. O vale do Ruhr é uma antiga região mineradora. Os trechos com as paisagens mais bonitas são de Winterberg a Bestwig e de Schwerte a Mülheim, passando por Hattingen.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kusch
4º lugar - Ciclovia do Reno
Esta rota ao longo do Reno tem 1230 km e vai de sul a norte da Alemanha, ou seja, de Koblenz a Emmerich. Um trecho clássico são os 190 km entre Mainz e Colônia, com as encostas rochosas, vinhedos e castelos da Idade Média.
Foto: picture alliance/R. Hackenberg
3º lugar - Ciclovia do Danúbio
O trecho alemão da ciclovia tem 609 km e cruza o país. Ela começa na nascente do rio, em Donaueschingen, e segue até Passau, na fronteira com a Áustria. Ao longo da rota, vale a pena visitar a catedral de Münster, as cidades de Ingolstadt e Regensburg, e ainda a abadia beneditina de Vilshofen, com um museu sobre a vida de antigas tribos africanas. A catedral de Passau tem o maior órgão do mundo.
Foto: picture alliance/H. Punz/picturedesk.com
2º lugar - Ciclovia do Meno
Esta rota de 595 km foi a primeira ciclovia alemã a receber o máximo de cinco estrelas na avaliação do clube alemão de ciclismo ADFC. O trajeto liga Bayreuth a Mainz, sendo 90% asfaltados e quase 80% com 2,5 m de largura. Ao longo dela, há muitas cidades de valor histórico e cultural. Ochsenfurt, por exemplo, é do século 8º. Além de Frankfurt, há Mainz, onde os rios Meno e Reno se encontram.
Foto: picture-alliance/dpa
1º lugar - Ciclovia do Elba
A rota ao longo do segundo maior rio da Alemanha foi eleita pela décima vez seguida a melhor para turismo sobre duas rodas. O que não é surpresa: ela oferece paisagens de mar e montanha, e ao mesmo tempo muita cultura. A rota de 840 km vai de Schöna, junto à República Tcheca, até Cuxhaven, no Mar do Norte, passando por Dresden, Meissen, Hamburgo, e ainda vários patrimônios da humanidade da Unesco.