Regulamento da Fifa impede Rafinha de defender seleção alemã
23 de setembro de 2015Depois de ficar de fora da lista da Copa de 2014, o lateral Rafinha voltou a ser convocado para defender o Brasil. Ele estava na lista dos jogadores chamados por Dunga para disputar as primeiras partidas nas Eliminatórias sul-americanas para o Mundial da Rússia, contra Chile e Venezuela.
Mas somente alguns dias depois de festejar a convocação, o atleta enviou um comunicado à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pedindo a dispensa da Seleção. Imprensa esportiva e CBF especulam que Rafinha vislumbra jogar pela Alemanha. O regulamento da Fifa, no entanto, inviabiliza isso.
A lista de Dunga – justamente o único treinador a ter dado uma chance a Rafinha na Seleção – para as duas primeiras partidas válidas pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 foi divulgada há seis dias, em 17 de setembro.
"Agora surgiu a chance de chamar o Rafinha. É experiente, joga na Europa, disputa a Champions [Liga dos Campeões]. Está dada a oportunidade e depende do jogador. Ele tem personalidade, bom cruzamento. Ele consegue jogar como lateral, como o futebol brasileiro gosta", disse Dunga, na época da convocação.
Rafinha, que defende o Bayern de Munique, festejou: "Maravilha poder voltar a servir a Seleção Brasileira! Feliz demais com essa convocação". Mas, nesta terça-feira (22/09), o lateral enviou um pedido de dispensa à CBF, que cancelou sua convocação.
"Não venho sendo chamado regularmente, não sou uma das principais opções em minha posição, considerando que há outros profissionais na minha frente", justificou Rafinha, cuja sinceridade foi enaltecida pela CBF.
Há mais de dez anos no futebol europeu – quase sempre atuando na Bundesliga, com exceção de uma temporada no Genoa, da Itália – o atleta brasileiro estaria próximo de adquirir a nacionalidade alemã. Apesar de não mencionar publicamente seu desejo de atuar na equipe tetracampeã mundial, seu nome vem sendo especulado na seleção alemã nas últimas semanas. O ex-capitão da Nationalelf e colega de Bayern de Munique Philipp Lahm até mesmo defendeu a convocação de Rafinha.
Regulamento da Fifa impede
No entanto, segundo o regulamento da Fifa, um atleta que adquire uma nova nacionalidade pode entrar com um pedido de mudança de seleção que deseja defender desde que "não tenha jogado uma partida (completa ou parcial) numa competição oficial no nível A de sua atual federação, e que em sua primeira aparição parcial ou completa numa partida internacional em competições oficiais por sua atual federação ele já tivesse a nacionalidade da seleção pela qual ele deseja jogar".
Consideradas competições oficiais do nível A para o Brasil são Copa América, Copa das Confederações e Copa do Mundo. De fato, Rafinha não vestiu a amarelinha num desses torneios. Na seleção principal, o lateral soma apenas as convocações para os amistosos contra Irlanda, quando ficou no banco de reservas, e Suécia, em 26 de março de 2008, quando substituiu Daniel Alves no segundo tempo. O treinador na época era Dunga.
Porém, Rafinha disputou competições oficiais com as equipes de base do Brasil – Sul-Americano Sub-20 e Mundial Sub-20 em 2005 –, além dos Jogos Olímpicos de 2008. Simplificando: Rafinha disputou jogos oficiais pelo Brasil antes de possuir a cidadania alemã.
Emerson Sheik, Diego Costa, Fernando, Thiago Motta...
A regra da Fifa visa impedir que jogadores que já atuaram por seleções nas categorias de base sejam aliciados por países com os quais não possuem raízes, como foi o caso de Catar, que naturalizou alguns atletas brasileiros, entre eles o atacante do Emerson Sheik, atualmente no Flamengo, para montar uma seleção competitiva.
Mas e a seleção da Argélia que participou da Copa do Mundo do Brasil com 16 franceses? Tudo conforme a regulamentação da Fifa: todos os casos os atletas nascidos na França possuíam a dupla nacionalidade antes mesmo de terem participado de qualquer partida oficial de futebol seja pela federação francesa ou pela argelina.
O caso de Rafinha é similar ao do volante Fernando, que atuou por sete temporadas no Porto e atualmente defende o Manchester City. Quando estava no Porto, o goiano adquiriu a cidadania portuguesa e tentou defender a seleção lusa. A Fifa barrou. Fernando havia disputado o Sul-Americano Sub-20 de 2007 pelo Brasil, antes de ter adquirido a nacionalidade portuguesa.
E Diego Costa e Thiago Motta? Ambos vestiram a camisa da seleção brasileira antes de adquirirem as nacionalidades de Espanha e Itália, respectivamente. O atacante do Chelsea foi liberado a atuar pela seleção espanhola por nunca ter disputado jogos oficiais pelo Brasil, apenas amistosos. E o volante do Paris Saint-Germain esteve no elenco brasileiro da Copa Ouro de 2003, competição que não é considerada nível A pela Fifa.