Rei da Espanha chama líderes catalães de "irresponsáveis"
4 de outubro de 2017
Em raro discurso na televisão, Felipe 6º condena realização de referendo separatista na Catalunha e, sem mencionar diretamente violência policial, diz ser responsabilidade do Estado "garantir a ordem constitucional".
Anúncio
O rei da Espanha, Felipe 6º, se pronunciou pela primeira vez nesta terça-feira (03/10) sobre o referendo de independência realizado no fim de semana na Catalunha, considerado ilegal pelo governo em Madri e alvo de violenta repressão policial, deixando centenas de feridos.
Em raro discurso transmitido pela televisão, o monarca chamou as autoridades catalãs de "desleais" em razão da realização da consulta popular, que havia sido suspensa pela Justiça do país. Segundo o rei, elas se colocaram "totalmente à margem do direito e da democracia".
Para Felipe 6º, a liderança catalã pretendia, com o referendo, "quebrar a unidade da Espanha e a soberania nacional". "Com a sua conduta irresponsável, eles colocaram em perigo a estabilidade da Catalunha e de toda a Espanha", destacou o rei, que falava do Palácio da Zarzuela, em Madri.
Sem mencionar diretamente a violência policial no domingo, o monarca defendeu o "firme compromisso da coroa com a democracia e a unidade da Espanha", afirmando que, diante da situação de "extrema gravidade" na Catalunha, é responsabilidade do Estado "assegurar a ordem constitucional".
A violência policial no referendo separatista foi alvo de intensos protestos em Barcelona nesta terça-feira, além de uma greve parcial que atingiu alguns setores da economia, como comércio e transporte. A polícia local afirma que 700 mil pessoas foram às ruas contra a repressão.
No domingo, policiais enviados pelo governo federal tentaram interromper com violência a realização da consulta popular, deixando cerca de 890 pessoas feridas, segundo autoridades catalãs.
O governo regional da Catalunha afirma que 90% dos eleitores que foram às urnas votaram pelo "sim". O número, porém, não representa a visão da maioria da população local, já que apenas 42% dos eleitores compareceram.
Ainda assim, Barcelona está considerando os resultados suficientes e diz que vai enviá-los ao parlamento local e declarar independência de Madri de maneira unilateral "dentro de alguns dias". O presidente do governo catalão, Carles Puigdemont, também pediu a retirada da região dos milhares de policiais enviados por Madri.
O referendo, no entanto, é considerado ilegal pelo governo espanhol e, por isso, a declaração de independência não deve ser reconhecida. No domingo, o premiê Mariano Rajoy afirmou que o referendo simplesmente "não existiu".
EK/efe/lusa/rtr/dpa/afp/dw
Referendo na Catalunha é marcado por violência
Polícia espanhola entrou em confronto com manifestantes na Catalunha no dia do referendo sobre a independência da região. Apesar dos esforços de Madri para impedir a votação, a maioria dos locais de votação ficou aberto.
Foto: Getty Images/D. Ramos
Polícia se diz "forçada" a usar violência
As forças de segurança usaram cassetetes e balas de borracha para dispersar a multidão, e muitos ficaram feridos. "Nós fomos obrigados a fazer o que não queríamos", disse o encarregado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo. "Carles Puigdemont [presidente do governo da Catalunha] e sua equipe são os únicos responsáveis" pela violência, acrescentou.
Foto: Getty Images/D. Ramos
Rajoy foi comparado a Franco
Os defensores da independência da Catalunha acusaram o governo em Madri de impedir que o povo exerça seu direito. Nesta manifestação em Barcelona antes da votação de domingo, um dos manifestantes mostra uma foto do ditador espanhol Francisco Franco beijando o atual chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy.
Foto: Reuters/J. Medina
Face a face
As pessoas que são contra a independência da Catalunha também foram às ruas para manifestar seu apoio a uma Espanha unida. Nesta foto de sábado, um manifestante grita com um membro da força policial regional catalã, chamada de Mosso d'Esquadra.
Foto: Reuters/S. Vera
Garantindo a votação
Apesar de o governo espanhol ter proibido a realização do referendo, ativistas se mobilizaram e distribuíram material para votação e equipamentos para as seções eleitorais. As autoridades catalãs em Barcelona disseram que resultado do referendo seria considerado oficial.
Foto: Reuters/A. Gea
"Viva Espanha!"
O governo de Rajoy rejeitou o referendo, alegando que ele é inconstitucional e prometeu desmantelar a votação. Muitos opositores à independência da Catalunha se reuniram em Madri no domingo e entoaram "Viva Espanha" e "Catalunha é Espanha".
Foto: Getty Images/AFP/J. Soriano
À espera do amanhecer
Autoridades espanholas enviaram milhares de policiais extras para a Catalunha no domingo. Eles receberam ordens para impedir a votação e apreender as urnas. As forças de segurança patrulharam os locais de votação já nas primeiras horas da manhã de domingo.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/X. Bonilla
Tentativa de manter locais de votação abertos
Ativistas decidiram acampar nos locais de votação para impedir que a polícia fechasse as instalações e impedisse a realização do referendo.
Foto: Reuters/J. Nazca
Líder separatista consegue votar
As notícias sobre violência começaram a chegar já na manhã do domingo. Houve embates perto da cidade de Girona, onde o líder regional catalão, Carles Puigdemont, deveria votar. A polícia invadiu o local de votação, obrigando Puigdemont a depositar seu voto em outro local.
Foto: Reuters/Handout Catalan Government
Polícia confiscou cédulas e urnas eleitorais
Manifestantes pró-independência tentaram impedir que a polícia confiscasse cédulas e urnas eleitorais. Funcionários catalães afirmaram que, apesar dos esforços do governo em Madri, 73% dos cerca de 6 mil locais de votação ficaram abertos.
Foto: Getty Images/AFP/P. Barrena
Uso da resistência passiva
Os ativistas pró-independência foram instruídos a "praticar a resistência passiva" enquanto tentavam obstruir as forças de segurança no seu trabalho de impedir a votação. O movimento disponibilizou cravos vermelhos para os ativistas darem aos policiais. No entanto, as forças de segurança disseram também que foram recebidas com pedras.
Foto: Getty Images/AFP/L. Gene
Luta para facilitar a votação
No domingo pela manhã, autoridades catalãs disseram que os eleitores também poderiam usar as cédulas eleitorais que imprimiram em casa e votar em qualquer posto de votação aberto, caso o local designado estivesse fechado.
Foto: Reuters/Y. Herman
"Você quer a Catalunha um Estado independente?"
Uma pesquisa de opinião realizada em junho indicou que a maioria dos catalães estaria a favor da permanência da região na Espanha, porém, mostrava ainda que os defensores da independência estavam muito mais propensos a participar do referendo. A repressão do governo em Madri deverá atiçar ainda mais as chamas do movimento de independência da Catalunha.